7 de ago. de 2012

COLUNA DE DOMINGO DO Professor Maciel

“A visão é maior que os olhos: o real é mais do que o visto. Os olhos nos prendem à vida, que é nosso modo de ver. Na morte, a visão são olhos de ver outro dia” Valter da Rosa Borges
Pouco antes de fechar os olhos pela última vez, uma lágrima solitária escorreu como se dissesse tudo ou para simbolizar o silêncio da finitude.
Das muitas reminiscências provenientes da nossa amizade, especialmente em razão do convívio profissional, principio destacar o Dia Internacional da Mulher. A data foi enaltecida no Colégio Estadual Campo Mourão quando todos os professores fizeram uso da palavra. Naquela ocasião o professor Fábio Trujillo de Melo mencionou dois exemplos que lhe eram os mais caros, falou da mãe dele e da esposa, “a ternura, a dedicação, o amor que elas têm e que tanto eu recebo. Sem elas dão sentido a minha vida... O que fizermos de bom para elas sempre será muito pouco diante do que elas merecem... E eu acredito que elas jamais desejam as coisas para si e são capazes de renunciar em favor dos filhos e de um mundo justo”.
Profissionalmente aplicado, dedicando as aulas de matemática a mais elevada sapiência. No Colégio Estadual Prefeito Antônio Teodoro de Oliveira – ATO, lá nos encontrávamos, e o seu modo tranquilo, amável e gentil naturalmente compunha aquele ambiente humano. Era você bem humorado, ria quando contava ou ouvia uma boa piada, mesmo quando você era alvo de alguma brincadeira. Embora fosse matemático, sabia tirar de letra as adversidades do magistério, notadamente quando se tratava de desinteresse ou de indisciplina dos estudantes. Em uma das minhas aulas ao refletir sobre a educação atual, a certa altura um aluno citou o professor Fábio como exemplo de um ótimo professor, o que me levou a concordar e posteriormente dizer ao próprio professor Fábio o que falado sobre ele. Ao saber, sentiu-se satisfeito e humildemente acolheu aquela mensagem como algo para torná-lo ainda mais convicto no seu instruir.
Entre as prosas cotidianas, você compartilhou com os colegas o fato de ter conseguido financiar a sua casa própria, aplicando as suas economias de muitos anos, e não faltou ninguém para te dizer que era merecido. Foi na mesma oportunidade, em um dos encontros pedagógicos, em que você trouxe o seu único filho – aliás, cópia fiel de ti – e vi pela última vez a maneira carinhosa, repleta de afeto com que você o tratava, zeloso, atento e terno.
É profundamente doído o fato do seu afastamento da sala de aula devido a uma série de problemas que não cabe citar e comentar, mas espero não me recordar da melancolia, da tua tristeza que certamente não desejou jamais provocar a si mesmo e que provavelmente se tornou inelutável. Irei lembrar de você em sua altivez, alegria contagiante, compenetrado, humano e cavalheiro, pois são estes os exemplos que semeou, são estas as lições que não se desmoronarão.
Das operações matemáticas, aprendemos contigo mais ainda a somar, e a multiplicar o que fosse bom.. Porém, agora infelizmente estamos divididos, obrigados a diminuir, pois você leva consigo o que de bom tão bem sabia repartir. A tua ausência é algo que precisamente agora não temos a menor noção em calcular a intensidade e extensão da vossa falta, lamentavelmente.
Fases de Fazer Frases
A morte é o partir para sempre, a significar o sempre repartir em vida.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Entre o amanhecer e o anoitecer tem o dia, que não se adia, tanto no começo quanto no fim.
Reminiscências em Preto e Branco – Prof.ª Lourdes, a voz silencia, sem calar.
Escreveu certa vez Francisco Quevedo: Feliz serás e sábio terás sido se a morte, quando vier, não te puder tirar senão a vida”. Antes de conhecê-la pessoalmente, o conceito a respeito da professora Maria de Lourdes Roberto Ceolin se caracterizava pela cristalina credibilidade profissional e a notável figura humana. Quando fui lecionar no Colégio Unidade Polo fui recebido por ela, que era a diretora. A acolhida foi extraordinária, não apenas para comigo, mas certamente com todo aquele que fosse trabalhar lá.
No blogue do Ilivaldo Duarte, ao ser entrevistada, entre outros ricos dizeres, afirmou a professora: “Sou uma pessoa tranquila, gosto de observar o ambiente, as pessoas (…)”. De fato o que declarou é verdadeiro. A professora Lourdes sabia se colocar no lugar da outra pessoa, vivenciar a situação, ouvia atentamente e, ao meditar, ponderava com compreensão dos fatos. Nos momentos tensos, nos conflitos naturais e inerentes a qualquer estabelecimento de ensino de grande porte como é o Colégio Unidade Polo, ela era sábia na simplicidade, era justa, humana, acreditava no ser humano e na capacidade que cada um tinha para se superar. Tantas foram as vezes em que mostrou o caminho, o norte, a solução.
A voz da educadora permanentemente vocacionada para o seu mister mantinha o tom de equilíbrio, sensatez e serenidade é o que me faz lembrar dela. Sabia conciliar a objetividade, tal qual o da precisão matemática, com a subjetividade filosófica. Profissional esmerada jamais se limitou a cumprir o papel em sala de aula, pois comumente transcendia para poder contribuir substancialmente e em âmbito abrangente na educação. Por causa da liderança que exercia, o conhecimento e o respeito, além da admiração que lhe era tão peculiar, foi guindada ao cargo de diretora do citado estabelecimento. Inúmeras vezes ela não ouvia o sinal tocar, do intervalo das aulas, da pausa e mesmo do final do expediente, permanecia até que deixasse tudo em ordem.
Surpreendido bruscamente pela perda que atinge esposo e filhos, a ausência dela é uma dor que perpassa a comunidade educacional e os numerosos amigos que sabia cultivar. A voz da professora Lourdes silencia, não poderemos mais desfrutar da sua calorosa e humana presença extraordinária. A voz que não se calará, há de ser ouvida pelo patrimônio do conhecimento vasto que tinha e que semeava com sábias ensinanças.
A voz dela ecoará nas salas do Unidade Polo, bailando como brisa refrescante do bosque daquele Colégio, área verde que caprichosamente cuidava. A voz serena a ser ouvida, reminiscências que perdurarão como elevada sabedoria, inesquecível.
José Eugênio Maciel, professor, sociólogo, advogado, membro da Academia Mourãoense de Letras (AML).

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