“Liberdade é
uma possibilidade de ser melhor, enquanto que a escravidão é uma certeza de ser pior”. Alber Camus
Um
ateu pode evocar a liberdade religiosa, além da própria liberdade de não
professar qualquer fé sobrenatural. Não é preciso ser do sexo feminino ou de
qualquer orientação sexual para evocar a liberdade dos papéis sexuais. Ninguém
precisa ser filiado a um partido para expressar livremente o seu próprio
pensamento político e defender o direito de todos fazerem o mesmo. Não importa
ter opinião individual afim de se aliar as demais opiniões para que elas todas
possam absolutamente fluírem sem qualquer cerceamento.
E,
mais especificamente, não é necessário ser comunista para apregoar o direito
dos comunistas de fazerem parte da democracia, assim como os conservadores, de
direita e de qualquer outra ordem, ideológica ou não.
O
tema prossegue à tona do domingo passado para hoje. Na coluna anterior, A
cassação de um caçado, foi escrito sobre a maneira açodada e arbitrária
como se deu a cassação do mandato do então suplente de vereador Moacyr Reis
Ferraz, que jamais negou ser comunista e não se candidatou pelo PCB devido
todos os partidos comunistas estarem na clandestinidade. Tudo também fizeram
para prejudicá-lo ao investigarem a vida profissional constataram ser ele uma
pessoa correta, zelosa e cumpridora dos seus deveres. Se ele pertencesse a um outro espectro
ideológico, também mereceria defesa, em nome da democracia, que pressupõe
inarredavelmente a liberdade de expressão e de organização, também
político-partidária.
Sem
me importar se poderia ser confundido como comunista por defender a liberdade
de um comunista, a questão colocada foi a forma injusta da cassação unânime
promovida pela Câmara de Vereadores, ao
afrontar – não o Moacyr – mas a soberana decisão do povo através da votação
conferida a ele.
Agora,
no último dia 16, o Senado aprovou a devolução simbólica do mandato de senador
e líder comunista Luis Carlos Prestes, cassado sem o direito de defesa, e à
época eleito com a maior votação proporcional dada a um político em todo o
Brasil. A reparação é legítima, sendo ele comunista ou fosse anarquista,
socialista, capitalista, não importa, o fundamental era – como deve ser
atualmente – respeitar a soberana manifestação do povo, legitimamente expressa
nas urnas, algo que não poderia ser jamais violado.
Assim
sendo, a devolução simbólica do mandato de Moacyr pela Câmara de Vereadores
mourãoense há de se tornar, sem dúvida, a reparação do dano, histórica e
atualmente, respeitando o povo que votou para os demais vereadores e também
sufragou o nome dele. Claro, será preciso que um dos vereadores tome a
iniciativa e obtenha o apoio dos demais e viabilizem tal iniciativa. Caso
ocorra, a Câmara também irá restabelecer o sentido democrático do parlamento
local, sem aquela mancha totalitária e covarde.
Além
de outros motivos e fatos, o Brasil infelizmente também se caracteriza por
rotular as pessoas, e o que é pior, sem conhecê-las minimamente, fazendo juízo
de valor que se mostra discriminatório, preconceituoso e portanto injusto. Os
militares, que deram o golpe e impuseram a ditadura dos quartéis, rotulavam a
todos que ousavam questionar o governo dos generais, os opositores eram logo
tratados como “subversivos”, “comunistas” ou de “esquerda”. O patrulhamento
ideológico faz parte de uma prática política ruim, e os rótulos são pregados
sem o conhecimento de causa ou simplesmente
postos como se fossem verdades inquestionáveis, tanto é assim que o
pretexto para o golpe foi a chamada “ameaça comunista” que jamais existiu a
ponto de considerar razoável que os partidos comunistas tivessem forças
sócio-políticas suficientes para chegar ao poder.
Fases de Fazer Frases (I)
Se a mentira tem pernas curtas, a verdade tem olhos
grandes?
Fases de Fazer Frases (II)
Se em terra de cego quem tem olho é rei, ninguém
enxerga quem tem o rei na barriga.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Conforme o noticiado pelos meios de comunicação, além
do Artigo anterior sobre o mesmo tema (A cassação de um caçado), o
encontro do dia dez passado sobre a ação da ditadura militar em nossa região
repercutiu no endereço eletrônico da Fecilcam que informou sobre o fato. Noutro
sítio, da Associação de Anistiados Políticos, a notícia foi bem destacada.
Reminiscências em Preto e Branco (I)
Como o tema principal hoje tem a ver com o
comunistas, lembro de um servidor público estadual que conheci chamado Rui,
militante do PCB em Curitiba (infelizmente não lembro-me do sobrenome dele). Ao
ser perguntado certa vez (quem indagou o fez com seriedade) se de fato
“comunista comia criancinha”, o Rui, após tragar e expelir a fumaça do cigarro,
foi ironicamente enfático: “Nós comunistas não comemos criancinhas! Agora, a
partir dos 15, 16 anos tragam elas pra mim que eu como”.
Reminiscências em Preto e
Branco (II)
Grande parte das pessoas está condicionada a acordar
apenas por causa do despertador. Antigamente na roça, as pessoas mentalizavam a
hora que desejavam despertar e jamais dormiam a mais. Em meus tempos de menino,
quando tinha que acordar mais cedo do que o habitual, pedia ao meu pai e ele,
sempre preciso, criado no campo, era quem me acordava, apertando levemente o
dedão do meu pé, “filho, está na hora de acordar”.
Reminiscências em Preto e Branco
(III)
E por falar em acordar devemos não cochilar em
relação ao correto uso da nossa língua. É errado dizer “eu me acordei”. Ninguém
acorda a si próprio. O certo é apenas dizer eu acordei. Quando alguém ou
algo nos desperta, aí sim pode se dizer, “eu me acordei com o barulho da rua”.
José Eugênio Maciel escreve coluna aos domingos no jornal Tribuna do Interior. É professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras.