“Tua segurança se perde, se não ficas atento”. Manúcio
Há poucos dias os meios de comunicação ao cobrirem a primeira visita do presidente dos Estados Unidos ao Brasil deram atenção ao grande esquema de segurança para Barack Obama.
Ao assistir o noticiário a respeito, me vieram lembranças de outro esquema de segurança estabelecido por causa da visita do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso a Campo Mourão, ocorrida há exatos 16 anos, no dia 13 de fevereiro de 1995. Foi a primeira visita feita ao Paraná, FHC tinha assumido em janeiro, portanto não tinha dois meses no cargo. Ele esteve aqui para dois compromissos, como professor proferi uma aula e lançar o programa do ministério da educação Acorda, Brasil, ta na hora da escola; bem como inaugurar o Teatro Municipal.
Para se chegar naquele dia histórico foi necessário uma meticulosa preparação em termos de segurança, À época o prefeito era Rubens Bueno, que recebeu a chamada Equipe precursora, ligada ao gabinete da presidência, que veio tratar, entre outras questões da visita. Eu, secretário municipal da educação e cultura e outros secretários também estávamos mobilizados para viabilizar como seria a presença do presidente em nossa terra.
Citarei os fatos sem neles me estender e apenas para dar quem sabe uma noção das preocupações e medidas tomadas que garantissem todas as condições de segurança ao presidente. A primeira delas, qual o motivo para ter sido o Colégio Dom Bosco, sendo que outros estabelecimentos de ensino também foram vistoriados? Antes de responder, mencionarem outros fatos pensados e decididos em torno da visita.
A Equipe precursora era composta por representantes dos órgãos de inteligência, de segurança e das Forças Armadas. Vieram antecipadamente profissionais de várias áreas, como técnicos de comunicações, um médico, logística e por aí segue uma lista.
Já que mencionei um médico, ele veio para vistoriar o Pronto Socorro, as condições da UTI, assegurar que houvesse um estoque de sangue do tipo do presidente. Na ocasião uma UTI móvel ficou à disposição quando da visita, caso precisasse de atendimento por algum problema que surgisse, seja da falta de saúde ou em decorrência de incidente ou atentado.
Entre os aspectos técnicos, operacionais e logicamente de segurança, sigo aqui uma ordem do funcionamento do esquema de segurança. O nosso Aeroporto ficou inteiramente à disposição da comitiva, duas horas antes nenhuma aeronave poderia sobrevoar ou aterrissar.
Aliás, todo o sistema controlador de voo veio diretamente do SINDACTA de Porto Alegre, depois do trabalho, somente após uma hora o Aeroporto foi liberado.
As principais avenidas tinham policiais do Exército em todas as esquinas, e a decisão sobre qual a via a ser utilizada pelo presidente só foi tomada minutos antes. Lembro que nós da prefeitura estávamos todos com celulares para eventualmente nos comunicarmos. Porém, no dia nenhum deles funcionou, o sistema telefônico e de rádio foi isolado e apenas o da segurança presidencial exclusivamente operou.
O Colégio Estadual Campo Mourão foi visitado pela Equipe precursora. Eles examinaram o auditório, à época por só ter uma entrada, “se precisássemos retirar imediatamente o presidente não seria possível, pois só tem uma saída, que fica no sentido oposto”, disseram.
Levando em conta o trabalho da imprensa nacional que viria cobrir a visita, o Colégio Estadual Dom Bosco permitiria que ela fotografasse e filmasse tudo sem estar na sala de aula, uma vez que no lado de fora, no pátio foi montada uma mini arquibancada. Os pais que foram escolhidos para ter a aula com o presidente, tiveram que apresentar nome completo e outros dados antecipadamente para o serviço, o mesmo ocorrendo com todos os convidados do Teatro. No dia anterior poucas pessoas, apenas os alguns funcionários, tiveram acesso ao Colégio, inclusive o controle de todo o quarteirão contou com uma varredora, até um detector de metal passou junto de uma lixeira.
Além do Teatro todo monitorado, no prédio da Faculdade da Fecilcam atiradores de elite discretamente estiveram posicionados tendo a frente o próprio Teatro. Outro detalhe que me lembro bem. Ao examinarem o espaço interno, foi solicitado que providenciássemos uma mesma para ser colocada num canto do palco, atrás de uma cortina, “precisamos instalar uma linha telefônica, caso o presidente tenha que falar ou receber uma ligação de algum presidente”. Naquele momento, iríamos pedir para a Telepar, então veio a resposta, “podem deixar, virá um técnico que fará toda a instalação, por razões de segurança”.
Tive o privilégio, depois da visita caminhar para o encerramento, já no Aeroporto, ouvir guarda presidencial tocar a corneta e anunciar que o presidente deixava o solo paranaense. Em ordem todos o cumprimentaram no seu retorno, tendo viajado com ele o então governador Jaime Lerner e o Rubens Bueno.
N
ão houve qualquer incidente, mas o certo é que a segurança tinha o pleno controle da situação, caso precisasse agir, o nome de todo mundo, o papel de cada um, tudo previamente estabelecido, a Equipe várias vezes contou os passos que seriam dados pelo presidente no Teatro, o tempo levado, a cadeira na qual ele sentaria, assim como fizeram várias vezes o trajeto das avenidas, cronometrando o tempo, examinando cada quarteirão. Quando estava longe de se tornar presidente, FHC esteve aqui como senador paulista. Claro, sem nenhum esquema de segurança, fato a ser relembrado numa outra oportunidade, com curiosidades.
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José Eugênio Maciel é sociológo, professor, advogado, membro da Academia Mourãoense de Letras. Escreve aos domingos no jornal Tribuna do Interior e durante a semana sua coluna é publicada neste BLOG.