"Sou professor em tempo integral, logo, o ofício do ensino-aprendizagem é inerente ao meu fazer. Dele, nele e com ele é que vivo. Assim, é muito gratificante a sensação de que o conteúdo ministrado e as orientações que você compartilha ajudam o estudante na sua formação profissional e humana", afirma o professor, ex-seminarista e fundador da cadeira 40 da Academia Mourãoense de Letras, Frank Antonio Mezzomo. Ele é o homenageado na ENTREVISTA DE DOMINGO aqui no Blog do Ilivaldo Duarte. Educador em várias disciplinas na sua história pessoal e profissional, Frank é mourãoense desde 2006. História, Filosofia, Sociologia, Cultura Brasileira, Metodologia de Pesquisa em cursos como Direito e outros, foram ensinamentos determinantes para a consolidação de princípios profissionais como disciplina, pontualidade, organização e criatividade no preparo das aulas.
Ótima leitura conhecendo um pouco da história e legados do professor Frank Mezzomo na ENTREVISTA DE DOMINGO.
QUEM
É FRANK ANTONIO MEZZOMO? Nasci em
Cruzeiro do Iguaçu,
Sudoeste do Paraná, em 12 de abril de 1974. Sou casado com Maristela e estamos
juntos há 23 anos. Temos uma linda e afável filha: Sophie Luiza, “sábia
guerreira”, nascida em janeiro de 2018. Moramos em Campo Mourão desde maio de
2006.
ONDE
FOI SUA INFÂNCIA? Sou filho mais velho de uma família com mais um irmão e uma
irmã. Tive uma infância em condições sociais modestas e cercado de amor
familiar: a mãe zelosa e sempre preocupada com o “futuro dos filhos”; o pai,
culturalmente o chefe do ambiente, desempenhava o principal papel de provedor do
lar. Já há algum tempo tenho a lúcida sensação de que deles recebi tudo o que
precisava para construir minha trajetória pessoal. O que e como signifiquei o
amor recebido é resultado, certamente, de minhas escolhas e exclusiva
responsabilidade. Até
os 13 anos morei em Cruzeiro do Iguaçu (foto acima, na época distrito de Dois Vizinhos da qual foi desmembrado e a partir de 1993
sede municipal. Lugar pequeno, com menos de 3 mil habitantes, onde é contígua a
zona rural e urbana. Ali, a igreja católica e a escola constituíram-se em
espaços principais de convivência social.
Tive
uma infância tranquila e saudável, marcada pelo trabalho: capinar o lote, roçar
as beiras de estradas de uma pequena propriedade familiar, tratar os animais
(bovinos, suínos e demais ruminantes kkkk) e nas férias, ou quando não tinha
aula, trabalhar no “boião”, nas colheitas de milho, soja, feijão e carregar
frango em aviários de proprietários na região. Entremeados com esses trabalhos,
em um período, ajudava a mãe na limpeza da igreja matriz, além, claro, dos
trabalhos domésticos, afinal era o mais velho dos irmãos e precisava ajudar nas
lides familiares.
Mas
a infância também foi de muita diversão: sou do
tempo do bodoque feito com
borracha de pneu de bicicleta (estilingue), de construir arapuca para pegar
inhambu e pombinhas, de correr com pneu (embalar um pneu de carro e depois de
caminhão pelas ruas e vielas), tomar banho na sanga, de jogar bola de “capotão”
(ahh, a de número 5 era top!). Lembrança importante que me acompanha é o
fato de meu pai ser responsável por um time de futebol amador. Isso nos idos
dos anos 1980. Fantástico, pois além de ser filho do técnico, desde meus 2, 3
anos de idade acompanhava os jogos, quer dizer, íamos todos juntos na
carroceria de caminhão, atletas e torcida, até as localidades, no interior do
interior, participar dos torneios e campeonatos municipal e regional.
A emoção
das viagens, que raras vezes aconteciam em transporte mais seguro, como um
ônibus, por exemplo, só era superada pelo momento em que o nosso time entrava
em campo: sim, junto com os atletas lá estava eu perfilado e apresentando-se
para a torcida! Esses momentos, bucólicos e singelos, expressam em grande parte
a alegre infância junto à família.
ONDE
ESTUDOU, QUE CURSOS FEZ? Até os 13 anos, sexta série, estudei no Colégio
Estadual Arnaldo Busato,
em Cruzeiro do Iguaçu (Atividade no colégio. Foto arquivo). Em 1988, um fato marcaria minha
vida, embora somente muitos anos depois teria essa percepção: entrei no
seminário. Com apoio familiar – certa indiferença do pai e incentivo da mãe,
embora tenha manifestado insegurança posteriormente – e do
Monsenhor Eduardo
Rodrigues Machado (foto), fui estudar em Palmas/PR, no Colégio Sebastião Paraná terminei
o Ensino Fundamental e Ensino Médio no Colégio Dom Carlos. Sair da casa dos
pais na adolescência, nem bem havia tirado os cueiros, e morar a 200 quilômetros da família, com duas visitas ao ano e contato via cartas que
demoravam um “século” para chegar ao destino, parecia o maior dos desafios.
A
essa vida de estudos em cidade fria, realizada em colégios estaduais,
acrescenta-se: trabalho duro, pouco conforto e alimentação racionada faziam
lembrar que a vida no Seminário São João Maria Vianney (foto abaixo) era para os vocacionados
um teste de confiança na Providência, e para os descrentes ou pouco
persistentes, um convite para o retorno definitivo para a casa familiar.
Depois
ingressei na Filosofia em Toledo (1993/1996), na Universidade Estadual do
Paraná, onde terminei a graduação e fiz uma especialização lato sensu em
Marechal Candido Rondon (1997).
Essa fase foi muito intensa, marcada por
experiência de universidade, de contato com o diferente, de ouvir e ver
histórias de vida interessantes, onde quase tudo era novidade. Posteriormente,
fiz mestrado (1998/2000) e doutorado (2005/2009) na Universidade Federal de
Santa Catarina.
Dois momentos academicamente distintos: no mestrado morando em
Florianópolis por quase dois anos e vivendo graças a uma bolsa de estudos
recebidas do Governo Federal; já no doutorado, morando no Paraná e trabalhando
em torno 40 horas por semana, por dois anos e meio viajei semanalmente para
cursar os créditos e fazer orientações da pesquisa em desenvolvimento. As
viagens de ônibus convencional, de aproximadamente 27 horas de ida e volta,
foram momentos de muitas elucubrações. Lembro-me claramente que em 2005 fazia
um "bati-volta", saindo na segunda feira à noite
para Florianópolis, cursando
duas disciplinas na terça- feira, manhã e tarde, pegando o ônibus às 18hs do
mesmo dia e chegando em Realeza, na manhã da quarta feira, às 6hs, e entrando
em sala às 7hs30 para dar aula de História para uma turma de terceiro ano, no
Colégio Real.
Em abril deste ano quando planejamos, em família, fazer um pós-doutorado no
Brasil e na Espanha, fomos tomados pela crise sanitária, o evento Covid-19.
Projeto adiado.
Como síntese desse percurso dos estudos acho válido deixar
registrado, afinal é valioso para minha vida e expressa algumas de minhas
causas: minha historicidade formativa foi marcada pelo acesso ao ensino público
e gratuito.
Encerro
essa resposta mencionando a experiência da vida que tive no seminário. Em
Palmas, fiquei por cinco anos, quando rumei para Toledo, no Seminário Maria Mãe da
Igreja (foto), onde permaneci por três nos até concluir em 2005 o bacharelado em
Filosofia. Depois de oito anos de seminário, achei que a vida presbiteral não
constituía mais um projeto de futuro. Decidi sair após cumprir o protocolo de
conversar com diversos membros da Igreja e leigos que haviam acompanhado minha
trajetória vocacional. O bispo diocesano, Dom Agostinho Sartori(Fotos históricas abaixo com papa João XXIII e João Paulo II), a quem presto
respeito e admiração, reitor e diretor espiritual, padres e alguns líderes de
comunidades onde havia atuado pastoralmente. Foi uma grande e impactante
experiência de vida. Não poderia ser o mesmo depois de vivenciar diversos momentos
de forte espiritualidade e convívio com pessoas que expressavam a face materna
de Deus.
COMO SE DEFINE? Desafiador esse exercício de falar de si mesmo, de se definir, inclusive porque, por mais que queira firmar um contínuo eterno, de coerência e constância, tenho impressão que somos muitos, ou, como dizia uma literata, muitos “eus” cabem/habitam em mim e a fixação de um “eu”, às vezes pode soar como irreal e mais como um desejo de ser. De todo modo, algumas representações alimentam minhas convicções: na vida sou otimista, democrata e acredito no ser humano; no trabalho procuro ser disciplinado, dedicado e organizado com os afazeres, sempre com uma pitada de certa ansiedade de que é possível fazer mais; na vida pessoal, já partindo para a casa dos cinquenta anos, sou mais tranquilo, gozando de inúmeros momentos bons junto à família.
COMO
FOI SUA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL? Após a graduação tive uma primeira experiência
como professor em uma escola particular em Toledo (APEC), onde ministrei a
disciplina de História para o Ensino Fundamental e Médio, além de substituir
uma professora que atuava em um colégio público da periferia.
Posteriormente,
em 2000, após o mestrado, debutei no Ensino Superior como professor e em
funções administrativas, quando atuei em instituições em Cascavel, Umuarama,
Francisco Beltrão e Realeza, nessa última também no Ensino Médio. Até 2006
ministrei diferentes disciplinas como de História, Filosofia, Sociologia,
Cultura Brasileira, Metodologia de Pesquisa em cursos como Direito,
Odontologia, Enfermagem, Psicologia, História, Turismo, Administração, Ciências
Contábeis. Quanto aprendizado na rede particular de Ensino que, acredito, foram
determinantes para consolidar alguns princípios profissionais: disciplina,
pontualidade, organização, criatividade no preparo das aulas.
Em
2006 tive a felicidade de ingressar, via concurso público, na então Faculdade
de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam), hoje Universidade Estadual do
Paraná (Unespar). Recém tinha entrado no doutorado, e o processo de seleção foi
muito tenso, pois havia muitos candidatos, vários com título de doutor e
somente uma vaga. Fui selecionado, que conquista! Aqui estou, atualmente
vinculado ao Curso de Graduação em História e nos três Programas de
Pós-Graduação Stricto Senso: Sociedade e Desenvolvimento, Mestrado Profissional
em Ensino de História e no História Pública.
O
QUE MAIS GOSTOU E O QUE MAIS GOSTA DE FAZER PROFISSIONALMENTE? Sou professor em tempo
integral, logo, o ofício do ensino-aprendizagem é inerente ao meu fazer. Dele,
nele e com ele é que vivo. Assim, é muito gratificante a sensação de que o
conteúdo ministrado e as orientações que você compartilha ajudam o estudante na
sua formação profissional e humana. Além das atividades de ensino, em geral
associadas às aulas, temos outras interfaces de atuação junto aos estudantes e
a sociedade, onde é possível perceber que a educação é, faz e pode fazer mais
para as pessoas. Atividades de extensão e de pesquisa que desenvolvemos, além
de, como o aprendiz de artesão, aprender com seu ofício, isto é ensinar o
estudante a pesquisar, legamos à sociedade resultados que podem ser apropriados
coletivamente.
O
QUE FAZ ATUALMENTE? Além das aulas na graduação e na pós-graduação, tenho
desenvolvido pesquisas acadêmicas em torno da temática política/eleições,
religião e trajetória biográfica. Nessas pesquisas, das quais tenho alguns
livros e artigos publicados, procuro compreender como a sociedade
contemporânea, em particular a brasileira, tem se posicionado e articulado
energias e ações em torno de pautas que tocam as noções de cidadania, de
moralidade, de Estado e democracia. São pesquisas acadêmicas, reforço, que
procuram dialogar com as teorias do campo das ciências sociais, a fim de
entender nossa contemporaneidade, tão marcada pela polarização de emoções e
racionalidades.
QUAL É SEU ÚLTIMO LIVRO PUBLICADO? Junto
com esses trabalhos de docência e pesquisas, publicamos dois livros, que são
organização de coletâneas, e estamos finalizando um terceiro que é autoral, produzido
com outros dois colegas. Todos são importantes, mas tenho por esse último,
intitulado “Religião e eleições: usos do Facebook em campanha eleitoral”. Um
apreço especial, não só por tratar da temática que tenho trabalhado nos últimos
anos, mas porque é resultado de mais de quatro anos de pesquisa e que, na sua construção,
procuramos utilizar uma linguagem visual mais intuitiva, trazendo para o texto
hiperlinks que dão acesso às imagens, fotos, áudios e vídeos que não só
ilustram as discussões como explicitam e dão corpo às discussões teóricas
realizadas.
COMO ESTÁ CONVIVENDO COM ESTE PERÍODO DE PANDEMIA? Além
dessas ações, muito ligadas ao trabalho, tenho feito outras coisas nesse
momento em que vivemos em isolamento social, afinal a crise sanitária,
deflagrada pelo Covid-19, deve ser levada a sério, individual e na vida
pública, mesmo que algumas autoridades insistam em renegar o que a ciência tem
demonstrado, e continuam a prestar um desserviço à sociedade brasileira.
Já no
âmbito particular, juntamente com minha esposa,
gosto de cuidar das coisas do
nosso quintal, onde cultivamos hortaliças e legumes em uma pequena horta, que
conta também com algumas árvores frutíferas: laranjeira, bananeira, maracujá,
acerola, manga. Manusear as ferramentas usadas nessas lidas – como o enxadão, o
cerrote, a enxada e rastelo – é parte da terapia, além de instigar o fazer e o
lúdico com a filhota, que tão entusiasticamente se envolve com esse mundo.
Completa esse ambiente “meio que do campo”, as interações com Bertrand, Donna e
Mithy, nosso gato e cachorras dóceis que fazem parte de nossa família.DESDE
QUANDO É APAIXONADO PELA VIDA E
EDUCAÇÃO?
Tive muitas pessoas que – de perto ou de longe, (in)direta,
(in)conscientemente – ajudaram a traçar minhas experiências. As pessoas
passam/ficam em nossas vidas com e por diferentes motivos e intensidades.
Aliás, às vezes percebemos tempos depois, às vezes sequer tivemos oportunidade
para dizer a elas em vida quão importante foram para nossa formação, às vezes
os rompantes de autossuficiência nos torna lentos para ver nosso entorno. Tenho
a sensação de que se tivesse sido colhido dessa vida há poucos anos, não teria
externado quão sou grato a muitas pessoas. Mas sei que para outros sujeitos que
passaram por minha vida, o tempo foi um árbitro implacável. De todo modo, não
conseguiria atribuir a uma pessoa, também porque não quero correr o risco da
parcialidade na avaliação, as influências sobre as minhas convicções e escolha
profissional, até porque as escolhas, muitas vezes, são feitas a esmo, por
circunstâncias aleatórias e dentro de um campo de possibilidade pré-definido.
Muitos foram importantes, inclusive aqueles que serviram como antítese do que ser.
Aprendemos com todas e, acho, no percurso vivido até o momento considero-me
feliz e realizado.
MELHOR
TURMA E FACULDADE ONDE TRABALHOU OU CONVIVEU? Todas as turmas e instituições
que trabalhei foram importantes. Aprendemos com o convívio e, muitas vezes,
temos essa compreensão somente depois anos, décadas.
O
QUE LEVA A GOSTAR DA EDUCAÇÃO? Primeiro porque é uma das atividades que
acredito que consigo desempenhar com certa competência. É uma profissão, é o
ofício que exerço. Quer dizer, nesse nível de resposta refiro-me a uma dimensão
pragmática: ser profissional. Segundo, gosto da educação porque entendo que ela
pode ser transformadora, sobretudo quando associada a outras condições de vida.
Compreendo a educação como condição para a cidadania, embora não suficiente
quando tomada isoladamente. Difícil conceber uma sociedade desalienada e livre
quando presa a obscurantismos, onde o ser humano não passa de número e cifra subjugado
a um jogo de poder. Acredito que a educação pode ser libertadora.
QUAIS SERIAM SEUS PROJETOS SE FOSSE MINISTRO DA EDUCAÇÃO? Essa pergunta é muito importante,
pois ajuda a pensar o lugar para o qual estamos preparados para desempenhar
determinadas funções. Faço essa menção, pois tenho a impressão que muitas vezes
algumas pessoas se acham capazes para fazer e dar sugestões em tudo, em todos
os momentos, ocupando funções das e para as quais não tem qualquer noção do
ofício.
A vida, e nesse caso as funções e encargos assumidos, não deve ser
encarada como uma simples e irresponsável aposta. Essa situação é uma primeira
parte da resposta à sua pergunta.
A outra: o Ministério da Educação (MEC) é
responsável
por um dos maiores orçamentos da República, cuja atribuição é
pensar, propor e definir políticas públicas para a Educação no Brasil, em todos
os níveis. Logo, não pode ser assumido por ineptos. Assim, se pudesse me
direcionar ao Ministro da Educação, de forma pragmática diria para apoiar a
educação pública, sem demagogia, o que significa: política de acesso e
permanência às classes menos favorecidas, com cotas sociais, concessão de bolsa
de estudo permanência, escola em tempo integral, moradia estudantil; apoio efetivo
à pesquisa, como condição para ter um país independente e responsável com todos
os segmentos da sociedade.
A ciência, que produz a vacina, que em breve
minimizará os efeitos da Covid-19, por exemplo, é resultado de uma rede de
apoio, de convênios e intercâmbios interinstitucionais, de financiamento
público. Sem uma ciência pública, teremos e perpetuaremos a segregação social e
depois, demagogicamente, gritaremos pela excludente plataforma da meritocracia!
Entendo que não há cidadania, tampouco democracia, quando não se tem acesso
adequado às condições básicas de sobrevivência.
COMO
É A EXPERIÊNCIA DA FECILCAM/UNESPAR? Estou há 14 anos na Unespar,
tempo suficiente para ter vivido momentos importantes do crescimento e
transformação da instituição. Exemplifico isso com um evento que pode ser
representativo: a mudança de estatuto de faculdade isolada para Universidade.
Esse evento, marcado legalmente com o decreto do governo do Paraná em 5 de
dezembro de 2013, expressa muito da instituição, e não estou me referindo ao
ato fundacional e jurídico, mas nas condições e movimento do seu constituir-se
temporalmente: o antes, o durante e o após seu credenciamento como
universidade. Isso implica transformações de toda natureza.
Tive
a oportunidade de acompanhar muito desse processo, pois respondia, além das
atividades pedagógicas, por setores responsáveis para pensar políticas de
expansão e consolidação da Instituição. Esses trabalhos envolviam, além do
nosso campus de Campo Mourão, todos os outros seis câmpus que, em 2013, vieram
a compor a Unespar.
Pensamos
e sonhamos uma universidade desde há muito tempo e, para isso, planejamos
diversas ações, algumas com êxito, outras nem tanto. Em particular, menciono
algumas relacionadas a Campo Mourão, e que foram desenvolvidas no campo da
pesquisa, com suas repercussões internas e na sociedade regional.
Projetamos,
com outros colegas, a criação de revistas científicas ligadas às áreas da
educação, do ensino de matemática e das ciências humanas, e hoje temos três
periódicos no campus com publicação regular e circulação nacional e
internacional.
Em particular, menciono a Revista NUPEM, da qual respondo como
editor e que, desde 2009, vêm publicando artigos científicos de forma
ininterrupta e desde 2017 é quadrimestral. São onze anos em circulação, 26
números divulgados e mais de 500 artigos publicados
(http://revistanupem.unespar.edu.br/). Tenho uma ligação e valorização especial
por ela.
QUAL A RELAÇÃO DA UNIVERSIDADE COM OS PROJETOS PARA FORA OU DENTRO DA INSTITUIÇÃO? Trabalhamos
fortemente e prospectamos energias e recursos para criação do primeiro Programa
de Pós-Graduação Interdisciplinar, intitulado Sociedade e Desenvolvimento.
Assim, em 2013, tivemos o primeiro programa stricto sensu no campus, o que
abriu, em grande medida, as portas para pensar a pesquisa com maior corpo e a
criação de novos mestrados institucionais. Essas duas ações, escolhidas
arbitrariamente, ajudam a expressar parte do ofício que desempenho na
Universidade e que, aliás, estão voltadas tanto para dentro como para fora da
instituição. Vale o registro: até a atualidade nossa região, composta por 25
municípios, é atendida por Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu ofertados
exclusivamente por instituições públicas, a Unespar e a UTFPR. Até poucos anos,
qualquer pessoa que desejasse fazer mestrado, deveria deslocar-se para outros lugares
do estado. A região de Campo Mourão está, em grande parte atendida, graças ao
papel das universidades públicas. Nessa ação tenho alegria de ter contribuído.
QUAIS SÃO DESAFIOS PARA O FUTURO DA EDUCAÇÃO? Pontuo dois:
inclusão social e absorção seletiva e moderada das tecnologias, como meio para
promover a universalização da educação. Anísio Teixeira (1936) ajuda a pensar
essa questão, quando diz que “só existirá democracia no Brasil no dia em que se
montar a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola
pública”. Acredito nisso.
UAL
PROJETO AINDA GOSTARIA DE REALIZAR? Estou
bem, satisfeito, mas gostaria de no curto prazo fazer pós-doutoramento.
QUAL
VIAGEM GOSTARIA DE FAZER? Quero conhecer e, se possível, viver um período na
Europa. Acredito que será importante para ampliar as compreensões sobre o ser humano
e a sociedade. Viagem, para mim, preferencialmente deve estar associada a uma
descoberta de novas situações. Tivemos algumas experiências muito interessantes
no Chile, Cuba, Peru, o que aguça ainda mais o desejo de conhecer outros
países.
QUAL
DECISÃO MARCOU SUA HISTÓRIA? Talvez duas: entrar no seminário, fazer o
mestrado e doutorado.
QUAIS
VITÓRIAS E CONQUISTAS DESTACA? Concurso público, em 2006, como mencionado e a
publicação dos livros “Religião, nomos e eu-topia”, de 2002, e “In Uno Spiritu:
bispo e sociedade; Igreja e conflitos sociais” em 2012.
Essas duas obras
representam grande parte das energias canalizadas na produção do conhecimento,
resultado de muito trabalho na coleta e organização de fontes documentais,
contatos e apoios de inúmeras instituições e pessoas, enfim, um exercício
intenso de trans e inspiração de anos.
SE
PUDESSE VOLTAR NO TEMPO, O QUÊ JAMAIS TERIA FEITO? Estou bem, não sei se faria
algo diferente, o que não significa dizer que não faço autocrítica, quiçá em
excesso. Talvez teria estudado menos, trabalhado menos, corrido menos; bebido
mais, apostado mais, viajado mais... Mas as escolhas, (in)conscientes
resultaram no que sou/estou hoje. Sabe de uma coisa? Acredito na Providência
Divina!
ESSE
CORONAVIRUS, O QUE MUDOU NA VIDA DAS
PESSOAS? Mudou radicalmente: trabalhar de
casa, ministrar aulas no modelo remoto, orientar trabalhos de estudantes à
distância, aprender a mexer em algumas ferramentas tecnológicas para consecução
do ofício, conciliar com o fazer doméstico. Lições? Não consigo avaliar com
propriedade, embora temos visto muitas especulações do campo da sociologia, da
psicologia, da educação sobre o futuro. A crise sanitária, no Brasil, ocorre
concomitante a outras crises oriundas do campo da política, da economia e da
credibilidade no papel do Estado como gestor do público, para todos os
públicos. Essa mescla de crises, algumas exclusivas do nosso país, são
complexas e podem gerar diferentes reações nas pessoas e da sociedade. Que
Tomas Morus, autor da “Utopia”, inspire-nos a pensar que um mundo melhor é
possível.Nota do Blog: Thomas More (foto acima), filósofo do século XVI que escreveu a obra Utopia, na qual descreve uma sociedade organizada de forma distinta da sociedade em que vivia.
QUAL
SEU ESPORTE PREFERIDO? Futebol, mas também acompanho futsal e voleibol,
esportes mais ágeis e rápidos.
TIME
DO CORAÇÃO? Sou tricolor gaúcho, Grêmio de
coração, embora hoje gosto de
ver qualquer bom time jogando, até mesmo o rival Internacional, mesmo que seja
raro, pois o desempenho colorado não tem sido lá aquelas coisas nos últimos
anos (kkk). Futebol europeu é de encher os olhos. Sem ídolos, embora, entre
outros, ver Messi, Cristiano Ronaldo e Iniesta jogar é qualquer coisa de épico.
No Brasil, antes da pandemia? A força do Bruno Henrique e a
habilidade/agilidade do Everton (cebolinha) que são fora de série. Preciso
citar alguém do meu time gaúcho que, aliás, estenderia a menção de distinção ao
seu técnico se não tivesse algumas posturas fora do campo das quais não
compactuo e acho um contratestemunho público. Nota do Blog: na primeira foto abaixo está - último em pé a direita o lateral esquerdo Dirceu Mendes, de Araruna, que saiu para a Mourãoense, Londrina e Grêmio Porto-Alegrense.
QUAL
O MELHOR TIME QUE JÁ VIU JOGAR? Tenho dúvidas, inclusive
porque posso ser traído pela memória do tempo presente. Barcelona e Real na
Espanha; Liverpool e Manchester City na Inglaterra; no Brasil Grêmio em 2017 e
Flamengo em 2019 constituem uma representação interessante de futebol bem
jogado.
Nota do Blog: na dúvida do homenageado, postamos as fotos dos esquadrões citados.
VAPT-VUPT
FAMÍLIA:
Importante, âncora nos mares da vida.
RELIGIÃO?
Católica.
UMA
ESPERANÇA: Tenho esperança de que a sociedade viva menos no tom do
eu-espetáculo, e mais no diapasão da discrição, da solidariedade e cumplicidade
entre os seres humanos.
ÉTICA: É uma ciência! Ciência que estuda o comportamento humano tendo como objeto
pensar e estabelecer princípios para sua felicidade. Pode soar como resposta
protocolar, quase de dicionário, mas é o que é, e cujo papel é mais do que
nunca primaz para o mundo atual: precisamos pensar o que é necessário para
nossa felicidade.
MÚSICA?
Sou eclético. Curto música popular brasileira, pagode, forró, sem abrir mão da
música tradicional gauchesca. Aqui citaria Os Bertussi, Os Serranos, Baitaca,
Porca Veia e para ficar em terras mourãenses e em bom estilo, Grupo Minuano.
AUTOR?
Não tenho um autor favorito, mas cito alguns pensadores brasileiros que
estiveram presentes na minha formação acadêmica e pessoal e formaram gerações: Gilberto
Freire, Antonio Cândido e Darcy Ribeiro.
LIVRO?
Vou citar um que apareceu em um momento que
não sabia para onde ia com minha
tese doutoral: “Diálogos na sombra” de Kenneth Serbin, publicado pela Companhia
das Letras em 2001.
Trata de uma profunda reflexão sobre o regime militar
brasileiro, a partir dos diálogos estabelecidos entre cúpula da hierarquia
católica e representantes da alta patente das Forças Armadas.
COMO
FOI SUA ENTRADA NA ACADEMIA MOURÃOENSE DE LETRAS? A AML é
um celeiro que se torna mais importante quanto mais próxima e ativa junto à
sociedade. Fui comunicado da escolha de meu nome para compor esta distinta casa
em 2013, pelas mãos generosas da confreira Dalva Medeiros e dos confrades Jair
Elias dos Santos Junior e Gilson Mendes de Góis. Importantes projetos de
popularização das letras e artes têm sido desenvolvidos por distintos colegas.
Acredito que via AML, nesse mesmo ano, fui indicado para compor o Centro de
Letras do Paraná, cuja sede é em Curitiba.Frank é fundador da cadeira 40 da Academia Mourãoense de Letras, cujo patrono é Bento Munhoz da Rocha Neto.
COMO É SUA ROTINA? A rotina, hoje, ainda é intensa, embora não como há alguns anos, vividos em um ritmo quase alucinante. Por hora, é possível administrar com certo equilíbrio a atuação em três Programas de Pós-Graduação e na Graduação em História, com as pesquisas em desenvolvimento e as orientações de estudantes vinculados aos mestrados e à iniciação científica. Penso, também, que as experiências das investigações, desenvolvidas junto a nosso Grupo de Pesquisa Cultura e Relações de Poder, criado e certificado pelo CNPq ainda em 2007 (http://culturaepoder.unespar.edu.br/), foram importantíssimas para meu aprendizado como pesquisador, e que na sequência criou condições para multiplicar essa vivência com muitas pessoas que passam/passaram no espaço do grupo de pesquisa. Como é satisfatório ver estudantes, seus orientandos, ingressarem no mercado de trabalho e outros, exitosamente, cursarem doutorado nas melhores universidades do Brasil. Essa é parte da balbúrdia que fazemos, eu e muitos outros profissionais ligados à educação, respondendo o disparate negacionista presente em alguns segmentos da sociedade.
CAMPO
MOURÃO NA SUA VIDA? Lugar bom para viver, gosto daqui, nem tão frio e nem tão
quente, nem tão chuvoso e tampouco seco. Marcou uma fase da nova etapa da vida
profissional e pessoal. CITE TRÊS
PERSONALIDADES EM CAMPO MOURÃO? Não
gosto de responder a esse tipo de pergunta (kkkk), não por constrangimentos e
avaliações externas, mas por temer a minha própria incapacidade em fazer uma
avaliação adequada. Acredito que Campo Mourão, do presente e do passado, foi
agraciado com pessoas de espírito público, audaciosas e alvissareiras. No campo
da política, na religião, das letras, da educação temos personalidades à altura
de uma cidade auspiciosa.
QUEM
É PROFESSOR EXEMPLO? Aquele
que desempenha sua função para o qual foi/é designado, sem os tais e
frustrantes “mas, porém, todavia, veja bem, contudo, quem sabe”. Cognitivamente
tenho dificuldade de entender algumas eternas escusas.
SONHO: Viajar mais, conhecer melhor o Brasil e outros países.
SAUDADES. DE QUEM E DO QUÊ? Tive uma boa convivência com meus avós maternos. A nona, no
dialeto italiano, que nos deixou há alguns anos e o nono que nos deixou nessa
semana, dia 20/10, aos 94 anos (momento de dor). Saudades de ouví-los interagir
comigo, quando nas férias de final de ano eu passava alguns dias com eles e uma
“renca” de tios, na linha São Paulo, interior de Francisco Beltrão: “Frank, vêm
lavar os pés do nono”; “Quem comeu todo o ‘açúcar amarelo’, Frank?”, “Vamos
buscar milho de carroça?”, “Frank, você ajuda a pegar os bois?”, “Você já comeu
banana de mico? Sabia que é muito bom, Frank”. Saudades desse tempo vivido no
espaço rural.
RECADO
AOS LEITORES. A vida é um sopro. Com a
prudência aristotélica sugiro que o
leitor possa aproveitar cada momento como se fosse o último de sua vida.
QUAL PERGUNTA NÃO FOI FEITA QUE GOSTARIA DE TER RESPONDIDO? Acredito que as perguntas permitiram explorar muitos
elementos sobre a minha trajetória profissional e pessoal. Agradecido pela
oportunidade.
O
MOMENTO ATUAL DA SUA VIDA: Estou
bem, em paz, embora incomodado e afetado pelas crises que vivemos, seja a
sanitária, seja a polaridade nefasta que grassa, não somente o país, como as
relações interpessoais.
COMO ACHA QUE OS OUTROS TE VEEM? Difícil precisar e fazer uma avaliação suficientemente completa. Aliás, as pessoas nos veem em diferentes ambientes e papéis sociais. Como pai, como professor, como membro da Academia Mourãoense de Letras, como cidadão democrata, que se posiciona frente a uma sociedade polarizada... Acho que desses/nesses lugares as pessoas podem ter diferentes apreensões sobre nós, o que atesta o que comentei acima sobre a essência irreal da identidade pessoal. Bom, vou responder como acho que me veem no trabalho, na convicção de ser uma resposta parcial: apostaria que me veem como exigente e justo, na conotação tradicional cristã; dedicado com a consecução dos projetos assumidos e cúmplice com a formação humana.
LEGADOS QUE GOSTARIA DE DEIXAR: Da defesa da democracia como cláusula pétrea; direito à liberdade de expressão com responsabilidade social (o que significa, em poucas palavras, aversão a imbecilização dos usos das redes sociais); de que um mundo melhor, seja ele qual for, é também de responsabilidade pessoal, é intransferível e indelegável, isto é, temos, todos, que responder pela parte que nos foi confiado.
CONVITE PARA ESTA HOMENAGEM NA ENTREVISTA DE DOMINGO? Oportunidade
de rever memórias de um passado recente e distante. Escrever, apagar e
reescrever algumas passagens que pudessem atender as perguntas, sem faltar com
uma representação da verdade, mas sem deixar muito feio, estranho, esquisito
para os leitores (kkk). Obrigado pelo convite, Ilivaldo Duarte.
Nota do Blog: no sábado, 17 de outubro, Frank Mezzomo participou com a professora Diva Pinguelli do programa 1.365 Tocando de Primeira na Rádio Colméia FM apresentado pelo jornalista Ilivaldo Duarte. O tema em pauta foi o Dia do Professor.