3 de dez. de 2010

COOPERATIVISMO: Brasil pode liderar mudança global, diz Roberto Rodrigues


O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi homenageado pelo setor cooperativista do Paraná com a entrega do troféu Cooperativas Orgulho do Paraná. A homenagem aconteceu na manhã desta sexta-feira (04/11), em Curitiba, durante o Encontro Estadual de Cooperativistas. “É o quarto troféu que recebo do Paraná e com toda certeza irá ocupar, juntamente com os demais, um lugar de destaque na galeria que mantenho em meu escritório. É uma grande alegria estar entre amigos e ser homenageado por um estado que considero exemplo para todo o país e para o mundo, em função do grau de organização e da precisão com que as lideranças cuidam das suas bases. Aprendi muito com os paranaenses e pretendo continuar aprendendo”, disse Rodrigues que, bastante emocionado e aplaudido em pé por todos os participantes, recebeu o troféu das mãos presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski.

Liderança – Em sua explanação, Rodrigues destacou o trabalho e organização das cooperativas do estado, falou sobre a importância da agricultura para o Brasil e para o mundo, e sobre o papel que o país, em especial, o setor cooperativista, pode desempenhar no cenário econômico mundial. “O Brasil pode ser a grande locomotiva de uma mudança global, liderando e ditando as regras do processo de produção lastreado na chamada economia verde. Este é o tamanho da ambição que carrego. É unanimidade em todo mundo de que é preciso produzir com sustentabilidade e sem agredir os recursos naturais. E o Brasil tem a resposta de como isto pode ser feito”, afirmou.

Preocupação – Roberto Rodrigues comentou que, em função das constantes viagens que precisa fazer para da conta de sua extensa lista de compromisso, tem percebido um fenômeno preocupante que é a crescente perda, em proporções globais, de protagonismo e de governança das grandes organizações multilaterais. “As organizações e instituições mundiais, a exemplo da Organização das Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), OMC (Organização Mundial do Comércio), e tantas outras, não estão dando conta de suas missões, pois não estão conseguindo interferir nas decisões dos países. O que manda no mundo hoje é o dinheiro. E isto representa uma ameaça à democracia”, frisou.

Fatores - Segundo ele, dois fatores perturbam esse processo de perda de governança: a globalização da economia, em que o sistema financeiro exerce o domínio sobre as políticas públicas, e a crise financeira que abalou a economia em 2008, fazendo com que muitos países num movimento de defesa contra o desemprego e recessão, voltassem a construir barreiras protecionistas. “Estamos vivendo um momento curioso, já que a colisão entre a globalização e o neoprotecionismo produz uma ausência de governança e estratégia. Além disso, no mundo contemporâneo, não temos líderes. Qual o principal nome, quem é o principal líder mundial atualmente? Ninguém sabe”, disse.

Economia Verde – A necessidade de produzir, sem perder de vista a sustentabilidade e a menor emissão de carbono, a chamada Economia Verde, é na opinião de Roberto Rodrigues, o único tema universal da atualidade, em que há consenso de opinião, ao menos em relação as necessidade de implantação de processos sustentáveis de produção. Outra opinião que é comum em todo mundo refere-se a crescente demanda por alimentos. De acordo com Roberto Rodrigues, estimativas recentes da OCDE (Organização para a Cooperação para o e Desenvolvimento Econômico) mostram que em 10 anos será preciso aumentar em 20% a produção agropecuária mundial para atender a demanda explosiva por alimentos. E a OCDE estabelece metas: a União Europeia terá que ampliar em 4% a produção interna, a Austrália em 7%, EUA e Canadá em 15%, e o Brasil em 40%. “Ou seja, para que o mundo possa aumentar 20% a produção de alimentos, o Brasil, sozinho, precisa ampliar 40% a produção agropecuária atual. Vejam o desafio que o mundo coloca no nosso colo. E não é um desafio trivial, mas algo que temos condições de resolver. Temos a melhor tecnologia do mundo e temos algo que ninguém tem, que é a agroenergia, ou seja, podemos produzir lastreados na economia verde. Nós temos uma resposta para a questão dos alimentos, não precisamos prometer nada. Podemos, portando, assumir uma posição de liderança global, estabelecendo as regras para que possamos avançar num mundo diferente, melhor para nós, para nossos filhos e netos”, disse.

Lição de casa – Na avaliação de Rodrigues, para assumir essa função de liderança mundial, o Brasil precisa fazer a lição de casa. “Não temos uma estratégia interna. A OCDE e o mundo estão mostrando o caminho, mas não podemos avançar porque não temos estratégia. O problema não é política agrícola. O problema é que os instrumentos necessários para implementar a política agrícola estão dispersos em dezenas de órgãos, ministérios, bancos, emperrando todo o processo. E não há estratégia e união para mudar isso”, frisou.
O momento é agora – Para o ex-ministro, o ano de 2011 é o momento certo para que a estratégia que o Brasil precisa possa ser desenhada. “Um novo governo se instala no próximo ano. E quem pode desenhar essa estratégia? Certamente o Paraná, e o cooperativismo nacional, em função do excelente grau de organização, pode liderar esse movimento nacional. É isso o que espero dos cooperativistas. Acredito que podemos liderar um movimento nacional para implantação de uma estratégia agrícola, possibilitando que o Brasil transfira ao mundo seu conhecimento, e possa assumir um papel de liderança”, conclui.
Fonte: Assessoria de Imprensa Ocepar

Carreira - Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP em 1965, é professor universitário, especialista e empresário rural. Foi presidente da OCB por dois mandatos. Em Congresso Internacional de Cooperativismo, Roberto Rodrigues foi eleito o primeiro presidente não europeu da ACI – Aliança Cooperativa Internacional. Como ministro da Agricultura no primeiro governo Lula, promoveu a reestruturação do Mapa e trabalhou em prol da aprovação de modernas leis e regulamentações, ampliou o comércio agrícola brasileiro e implementou as bases de uma agricultura moderna. É doutor Honoris Causa e professor honorário de universidades nos Estados Unidos e na Rússia. Atualmente Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, além de produtor de cana e de grãos.

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