"Cada vez mais acolhedor e plural, em que a busca e produção do conhecimento sejam valorizadas" é um dos desafios da educação na opinião da professora Silvânia Maria Costa, paraibana de nascimento, mas mourãoense de coração, homenageada na ENTREVISTA DE DOMINGO deste mês de fevereiro. Também professora e catequista, Silvânia integra a Associação Mourãoense dos Escritores (AME) e a Academia Mourãoense de Letras (AML). "Foi uma honraria enorme na minha história de escritora ter sido convidada para entrar na AML", diz Silvânia, que credita sua paixão pela educação o fato de querer sempre lutar pela vida, e segundo ela, isso tem a ver com o seu sangue nordestino.
QUEM É SILVÂNIA MARIA COSTA? Sou filha de Angelita Torres Ramos e Florentino Vieira Costa, nasci no dia 14 deagosto de 1964 na pequena cidade de Juru, Paraíba. -na foto ao lado da mãe e do irmão José. Tenho três filhos (Allandérick William de Carvalho, Tayenne Marrie de Carvalho e Izabelle Marrie de Carvalho), e um neto (Kevin Gustave de Carvalho Calefe). Acima, Silvânia em Juru, e abaixo, no local onde estava sua casa, a pintura da sua casa no sítio e da igreja onde foi batizada.
Sou divorciada e moro no Lar Paraná em Campo Mourão desde 1975.
- Abaixo, fotos da cidade de Juru.
Distante da Capital a 398 km onde tem como ponto turístico a Igreja de Santa Terezinha do menino Jesus, Igreja de São Sebastião, Laje Grande. Sua emancipação política se seu em 24 de dezembro de 1961 e origem em meados de 1926 no sítio Roça Grande, pertencente a dona Maria Ferreira. Na época eram organizadas corridas de cavalo na região que atraiam um grande número de pessoas dos lugares mais distantes e, para aproveitar este movimento, em 1929 começou-se uma feira livre próximo dali, que passou a ser semanal devido a seu sucesso.
Foi então tomando forma o povoado, com cada vez mais pessoas e prédios residenciais. Entre 1936 e 1937, no município de Princesa surge o distrito de Barra, que no ano seguinte passa a se chamar Ibiapina. Em 31 de dezembro de 1943 o distrito de Ibiapina passa a se chamar Juru – palavra do Tupi-Guarani que significa aves multicores – e assim permanece até 10 de setembro de 1959, quando é anexado ao município de Tavares. O distrito de Juru é elevado à categoria de município no dia 24 de dezembro de 1961, se emancipando politicamente. Fonte: Município de Juru.
COMO SE DEFINE? Como uma pessoa inquieta e
otimista, mas acho que os outros me veem como uma pessoa tranquila.
ONDE FOI SUA INFÂNCIA? Até os cinco anos na Paraíba,
no Sítio Timbaúba, dos cinco aos dez em Araruna e depois viemos para Campo
Mourão.
ONDE ESTUDOU E QUE CURSOS FEZ? Em Araruna, Grupo Escolar Princesa Isabel; em Campo Mourão no Colégio Estadual Professor João de Oliveira Gomes (hoje apenas Colégio Estadual), curso Técnico em Secretariado (Estudei com Ilivaldo Duarte que me presta esta homenagem). Graduação em Pedagogia na Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (hoje Unespar); também na Fecilcam fiz pós-graduação em Gestão, Supervisão e Orientação Educacional; pós-graduação em Filosofia Clínica e Educação e minha última pós foi Neuropsicopedagogia. Também tenho curso de Teologia Pastoral e Escola Catequética. Fiz curso de língua espanhola e Língua Brasileira de Sinais (Libras).
QUAL FOI SUA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL? Trabalhei no comércio com meu pai, ele tinha uma relojoaria. Trabalhei na loja Hermes Macedo, ainda solteira, depois, bem mais tarde, (tinha dois filhos), na Creche Santa Rita de Cássia. Fui professora de apoio escolar no Lar Dom Bosco, quando atendia crianças da Educação Infantil ao Ensino Médio (por quatro anos, até a direção ser transferida para as irmãs e deixar de atender crianças). Voltei para os estudos, fiz concurso público para professora (passei em primeiro lugar). Trabalhei desde 2004 na Escola Municipal Paulo VI, tendo ficado o ano de 2005 na escola rural Manoel da Nóbrega, no Km 128. Voltei ao Paulo VI em 2006, onde estou até hoje. Nesse interim, fiz concurso para pedagoga na rede estadual e assumi, em 2012, tendo trabalhado nos colégios Dom Bosco, Antônio Teodoro de Oliveira, Darcy Costa, Colégio Agrícola e finalmente no Colégio Estadual (onde estudei), fixando finalmente meu padrão.
O QUE MAIS GOSTOU E GOSTA DE FAZER PROFISSIONALMENTE? Estar com os alunos e alunas, ensinar coisas, não apenas conteúdos, mas coisas importantes para a vida, contar histórias, fazer palhaçadas com as crianças.
O QUE FAZ HOJE? Sou professora, pedagoga e catequista.
DESDE QUANDO É APAIXONADA PELA VIDA E POR SER PROFESSORA? Penso que isso de querer sempre lutar pela vida, tem a ver com meu
sangue nordestino. Quanto ao amor ao trabalho como professora, sou eternamente
grata à minha professora do primeiro e quarto ano em Araruna, “Dona Silvia”,
que foi meu maior exemplo de carinho e dedicação aos seus alunos.
O QUE LEVA A GOSTAR DA EDUCAÇÃO? O
trabalho com a formação humana, a importância e responsabilidade que isso
acarreta, fazer a diferença na vida de algumas pessoas.
COMO É A EXPERIÊNCIA NA FECILCAM/UNESPAR E OUTRAS ESCOLAS? Desde criança sempre gostei muito de aprender, tenho lembrança de quando era bem pequena lá na Paraíba ainda. Devia ter uns quatro anos, ganhei do meu tio um caderno de desenho e uma caixa de lápis de cor com seis lápis. Aquilo foi o máximo para mim, entrei no primeiro ano com seis anos, apesar de não ser permitido na época porque fiz um escândalo na escola depois de a diretora dizer que não podia, queria muito aprender a ler. Foi tão rápido que logo no primeiro ano fui “promovida” a ajudante da professora com meus colegas, na correção das tarefas e para ir à sala da diretora levar e buscar recados, apontar os lápis naquela maquininha que era o máximo para todos os alunos.
No Colégio Estadual, tive professores excelentes, professor Joani Teixeira, Jader - fotos abaixo- e Marlene, com quem aprendi a ver poesia na Matemática-, meus professores de língua portuguesa, entre eles a professora Cida, o professor Daniel Moraes, professor Bogdan, a Ester de Abreu, que foi minha professora no ensino médio.
Na faculdade, meus professores foram incríveis. Estava no segundo ano quando nasceu a Izabelle. Eu a levava comigo para a faculdade, ela dormia tranquila no meio daquela conversa toda. Participava ativamente nas aulas de educação infantil, ela ia de colo em colo quando tínhamos apresentação de trabalho. Era difícil para mim muitas vezes cuidar dela, estudar, fazer os trabalhos, estágios e tudo mais. Quem me ajudou bastante também foi minha filha do meio, Tayenne (foto abaixo), que tinha 12 anos na época, e me acompanhava sempre. Enfim, esse período em que estive na faculdade, me devolveu minha autoconfiança, resiliência e capacidade para realizar meus objetivos.
COMO É A SUA ROTINA? Durante a semana, de manhã vou trabalhar na Escola Paulo VI, almoço e vou ao Colégio Estadual, onde encerro o meu expediente às 17h35, mas continuamos atendendo quando há necessidade. Assisto séries com minha filha, leio (estou no terceiro livro da série Crônicas de Gelo e fogo de R.R. Martin). Também tenho o hábito de leitura compartilhada, nem sei quantos livros já lemos assim, lendo em voz alta e discutindo os acontecimentos dos livros, as intenções do autor. No sábado atuo como catequista, tenho uma turma de Crismandos (sou catequista há 29 anos ininterruptos) e durante a pandemia, continuamos nossos encontros online. Depois faço a faxina, cuido das minhas plantas, prefiro trabalhar no quintal, vou ao supermercado. No domingo vou à missa, (agora tenho assistido pelo facebook da paróquia), ouço música clássica que eu amo, rocks antigos, e fico com minha filha fazendo muitos “nadas” e no período letivo preparo aulas para o dia seguinte.
O QUE MAIS TE MOTIVOU OU MOTIVA NA EDUCAÇÃO? UMA VEZ PROFESSORA, SEMPRE PROFESSORA? Poder
recomeçar, apesar de tudo, sempre há um jeito de recomeçar. Isso de “uma vez professora...”, às vezes é complicado, porque mesmo sem querer a gente fica corrigindo palavras erradas, questionando essa ou aquela colocação, defendendo tese, meus filhos, jogavam essa verdade na minha cara: “mãe, não precisa ficar dando palestra, já entendi!” hábitos! É muito bom encontrar meus alunos e ex-alunos, principalmente quando vejo que eles estão encaminhados na vida, continuaram estudando, trabalhando, com suas famílias e dizem que sentem saudades das minhas aulas. Tenho muito orgulho de ser professora. Assim, quando estou na rua e ouço: “Professora!”, fico procurando quem me chamou. Hoje trabalho com algumas das minhas colegas de faculdade. Tivemos um ótimo grupo, poucas não seguiram a profissão. Então, sempre estamos nos encontrando e é muito bom lembrar dos nossos esforços, das aulas, das vivências que tivemos juntas.
O QUE MUDOU NA EDUCAÇÃO COM O ADVENTO DA TECNOLOGIAS? As pessoas recebem a todo momento uma avalanche de informações, que nem sempre são confiáveis. Se nós, enquanto educadores não nos prepararmos para utilizar as mídias como aliadas na mediação dos conhecimentos que foram historicamente construídos, acabaremos por facilitar a adesão de nossos jovens e crianças a uma sociedade que é cada vez mais “líquida”, conforme diz Bauman, em que tudo é consumível e descartável, além de se tornarem presas fáceis nas mãos de manipuladores e corruptos. O professor que não aprender a usar as novas tecnologias a seu favor, tende a perder muito na sua relação com seus alunos.
QUAIS SÃO DESAFIOS PARA O FUTURO DA EDUCAÇÃO?
Tornar a escola um espaço cada vez mais acolhedor e plural, em que a busca e produção do conhecimento sejam valorizadas. A manutenção dos filhos da classe trabalhadora na rede escolar, tendo em vista tantas dificuldades que se lhes apresentam. Prover os espaços públicos de educação com uma estrutura de qualidade e um tratamento mais digno e respeitoso aos profissionais da educação.QUAL PROJETO AINDA GOSTARIA DE REALIZAR? Gostaria de fazer pelo menos uma parte do Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.
QUAL VIAGEM GOSTARIA DE FAZER E PAÍS A CONHECER? Aqui na América Latina, quero viajar para o Chile (foto abaixo ilustrativa do parque nacional em Santiago)e na Europa, ir à Espanha, Inglaterra e França.
QUAL DECISÃO MARCOU SUA HISTÓRIA E SUA VIDA? Voltar à Faculdade aos 35 anos, foi uma decisão importantíssima e que mudou definitivamente o rumo da minha vida.
QUAIS VITÓRIAS DESTACA NA SUA HISTÓRIA DE VIDA? Vencer a depressão, minha formatura no curso de Pedagogia e a publicação dos meus livros.
SE PUDESSE VOLTAR NO TEMPO, O QUÊ JAMAIS TERIA FEITO? Não tenho nada para me arrepender, entendo a vida assim, temos que passar por momentos bons e ruins durante nossa caminhada e o mais importante é o que nos tornamos depois de passar por eles.
CITE TRÊS PERSONALIDADES EM CAMPO MOURÃO. Amani Spachinski de Oliveira (foto abaixo)– mestre incomparável, que sabia acolher, motivar e tratar a todos com o mesmo respeito e dignidade. Edilaine de Castro – para mim, exemplo de mulher batalhadora, comprometida com a arte e com o ser humano. Dalva Helena de Medeiros – mulher e profissional inteligente, determinada, inspira confiança.
MELHOR TURMA ONDE TRABALHOU OU CONVIVEU? Sempre fui muito bem recebida nas escolas que trabalhei, tenho muito carinho por todos os funcionários, professores, professoras, diretores e diretoras com quem convivi. Seria difícil indicar a melhor turma de colegas, pois guardo um afeto especial por cada uma delas.
QUEM É PROFESSORA EXEMPLO? Como mencionei antes, minha primeira professora, dona Silvia. Ela demonstrava muito amor pelo seu trabalho e pelos seus alunos.
COM O CORONAVIRUS, O QUE MUDOU NA SUA VIDA? QUAIS LIÇÕES ESTÁ DEIXANDO? Como todos, estou ansiosa para ver terminada essa pandemia, mas ao mesmo tempo sou confiante no amor e providência de Deus. Gosto
muito de estar com meus alunos, sinto muita falta dessa presença. Essa pandemia nos deixa como lição de que não somos senhores da nossa existência aqui na Terra, que a consecução de nossos objetivos não depende somente de nós mesmos e que a qualquer momento nossa vida pode mudar radicalmente. As coisas mais valorosas são aquelas mais simples.O QUE SIGNIFICA A ASSOCIAÇÃO MOURÃOENSE DOS ESCRITORES (AME)? A AME significa muito para minha identidade de poetisa. Foi lá que eu me reconheci como tal. Lá me sinto acolhida, respeitada, partícipe, junto aos meus pares. Pessoas que assim como eu, querem e merecem ser ouvidas. Amo a AME!
COMO RECEBEU O CONVITE PARA SER FUNDADORA DA CADEIRA 30 DA ACADEMIA MOURÃOENSE DE LETRAS?A Academia Mourãoense de Letras (AML) foi uma honraria enorme na minha história de escritora. Deveria ser vista por todos e todas que dela fazem parte como um corolário da palavra, refletindo à sociedade nada menos que o trato fiel com a verdade, o amor às letras, a dignidade e o respeito ao processo histórico, que nos humaniza, constrói e desconstrói nas espirais do tempo. Mais do que um ajuntamento de pessoas literárias, a Academia precisa ser vista, em si mesma, tal qual uma fonte de luz emergente do centro literário de uma cidade, Estado ou país, fonte capaz de banhar a todos, sem discriminação.
Nota do Blog: Silvânia tomou posse na Academia em 24 de junho de 2010 em cerimônia no auditório do Senac, juntamente com os confrades Ilivaldo Duarte, Ester de Abreu Piacentini e Nelci Veiga Mello, respectivamente nas cadeiras 28, 29, 30 e 31.
QUAL SEU ESPORTE PREFERIDO? Mahjong (Jogo chinês).
TIME DO CORAÇÃO? ÍDOLO? Gosto do Palmeiras, gosto de verde.
Meu ídolo é só Jesus.
QUAL O MELHOR TIME QUE JÁ VIU JOGAR? Lembro desse jogo porque torci bastante, Coritiba e Bangu, em 1985. O Coritiba foi campeão brasileiro depois de uma partida muito disputada. Não lembro de ter assistido a outro jogo inteiro, nem da Copa do Mundo. O povo lá em casa falava que eu era muito “pé frio”, quando entrava na sala o time começava a perder.
JOGO RÁPIDO
ÉTICA: Fazer o que é certo mesmo que ninguém esteja perto para ver.
MÚSICA: Sou muito versátil quanto à música, gosto de clássico, choro com óperas, curto demais rock, balada, pop, MPB, Kpop, gosto do rap de Emicida, Rapadura e dependendo, um pagodinho e do samba da velha guarda; sertanejo eu gosto das músicas de Almir Sater.
AUTOR: Vou citar quatro muito importantes para mim: Anton Seminovich Makarenko, que foi um pedagogo ucraniano, Paulo Freire, Pablo Neruda e Gabriel Garcia Marquez.
LIVRO: O pequeno príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)
FILME:. A fantástica fábrica de chocolate.
CAMPO MOURÃO NA SUA VIDA: Sou filha adotiva dessa terra, considero
esse meu chão, gosto de viajar, mas só me sinto em casa, quando começo a
vislumbrar os contornos da minha cidade querida. Para mim, não tem lugar melhor.
FAMÍLIA: Confiança.
RELIGIÃO: Católica.
ESPERANÇA: Um país onde haja mais justiça, tratamento digno para todos e principalmente respeito para com as diferenças sejam elas quais forem.
SONHO: Aprender tocar bem algum instrumento musical.
SAUDADES: DE QUEM E DO QUÊ? De alguns bons amigos que já se foram e momentos que passaram tão depressa em minha vida.
UM "GOLAÇO" QUE MARCOU NA SUA VIDA E COMEMOROU MUITO: Aconteceram tantas coisas boas na minha vida. Nesse sentido, posso dizer que sou praticamente uma “artilheira: minha fé, meus estudos, meus filhos, minha carreira, minha poesia, meus amigos, só tenho a agradecer a Deus.
O MOMENTO ATUAL DA SUA VIDA: “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia!” (Lulu Santos)
RECADO AOS LEITORES: Espero que vocês queiram ler os livros que estou preparando. Um deles já está pronto, só esperando o momento certo para ser lançado. Quando esse momento difícil passar. E vai passar!
PERGUNTA QUE NÃO FOI FEITA E GOSTARIA DE RESPONDER: Um defeito? Procrastinar. Às vezes eu perco o “time”, perco oportunidades.
SER CONVIDADA PARA A ENTREVISTA DE DOMINGO NO BLOG DO ILIVALDO DUARTE: Chique demais!
Muito interessante a trajetória de vida da Silvânia. Orgulho para nós da AME. Com certeza orgulho para todos e todas que convivem com ela.
ResponderExcluirLinda entrevista e exemplar trajetória de vida! Parabéns!
ResponderExcluir