Na 4º feira de cinzas começa um tempo litúrgico importante: a
quaresma. Neste dia existe um gesto próprio e exclusivo: a imposição das
Cinzas. Qual é o seu significado mais profundo? Certamente não se trata
somente de um gesto exterior, mas de algo mais profundo, que toca o nosso
coração. As cinzas nos fazem compreender a atualidade das palavras Joel
2, 13: “Rasgai vossos corações, e não vossas vestes! Voltai ao Senhor vosso
Deus, porque Ele é bom e compassivo!” Esta advertência é importante para todas
as práticas religiosas: os gestos exteriores devem corresponder sempre à
sinceridade da alma e a coerência das obras. Para que serve rasgar as vestes,
se o coração permanece distante do Senhor, por isso, eis aquilo que conta:
voltar para Deus, com o coração arrependido, para obter a Sua misericórdia.
Um coração renovado e um espírito novo é o que pedimos com o
Salmo 50,12:“Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito
de firmeza.”
O verdadeiro cristão, consciente de ser pecador, deseja e busca
a renovação espiritual. Neste sentido são importantes as palavras de Jesus no
evangelho. Ele fala de três práticas religiosas importantes:
1. A prática da caridade
Mt 6,3 “Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que fez
a direita.”
Tudo o que temos é dom de Deus, assim a prática da caridade só é
realizada por quem tem um coração cheio do amor de Deus. Quem tem o coração
dominado pelo egoísmo ou avareza, não é capaz ser caridoso e nem ajudar de
coração o próximo.
2. A oração
Mt 6,6.7 “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu
Pai em segredo. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem
os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.”
A oração é a expressão mais direta do nosso encontro pessoal com
Deus. Por isso, entrar no quarto significa entrar no próprio coração para falar
com Deus. Significa também parar, para estar a sós com Deus. Daí cresce ou
desaparece a força do cristão. A quaresma é tempo para melhorar nossa vida de
oração ou começar a praticá-la. Isso exige a coragem arrumar o modo como usamos
o tempo, para ter tempo diariamente para estar com Deus. Não importa quanto
tempo, mas é importante começar como sabemos e como podemos. Um dos meios mais
simples é rezar com a Palavra, por exemplo o evangelho do dia.
3. Jejum
Mt 6,16 “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas,
que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam”
O jejum não é somente deixar de comer algo. Segundo Sto.
Inácio de Loyola tem 3 finalidades:
– reparação dos pecados;
– para nos libertar de alguma tentação, vício ou mau sentimento;
– para alcançar alguma graça ou solução para alguma dúvida.
Peçamos que as cinzas sejam o sinal da graça de Deus nos
acompanhando, para que conduzidos pelo Espírito Santo vençamos o pecado e as
tentações do demônio.
E sigamos o conselho de São Bento aos seus monges para que
fizessem um plano de trabalho espiritual para a quaresma, onde pudessem rezar
melhor, falar menos, meditar com o coração a Palavra e lidar com as pessoas com
mais atenção.
O Tempo da Quaresma é o tempo da misericórdia de Deus. Mesmo
diante da nossa demora em abandonar o pecado, o Senhor nunca se cansa de ter
misericórdia de nós, e quer nos oferecer uma vez mais o seu perdão, todos
precisamos disso, convidando-nos a voltar a Ele com um coração novo, purificado
do mal, purificado pelas lágrimas, para tomar parte da sua alegria. Como
acolher este convite? São Paulo nos da o caminho: “Em nome de Cristo, nós vos
suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20).
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