4 de jun. de 2014

COLUNA DE JOSÉ EUGÊNIO MACIEL: É só começar

“(...) É SÓ COMEÇAR”                 
No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga. Na entrada, restringem o fluxo da vida. Empilhadas no chão, nos puxam para baixo. Acima de nós, são dores de cabeça. Sob a cama, poluem o sono”.Luiz Augusto Gonçalves Barbosa
Não queria me desfazer deles. Mas não tinha motivos para continuar a tê-los. O tempo veloz os tornou desatualizados. A falta de espaço era outro motivo para me desvencilhar. Fiz então a pequena pilha colocada propositadamente perto da porta. Quando eu fosse sair, levaria aqueles livros para o lixo, cerca de dez ou doze.
A semana passou e a pilha continuava ali. Embora não agisse, a intenção de desfazer se mantinha. Era o certo. Incerta era minha omissão.
Lembrava deles ao sair ou no retorno. Tinha um exemplar que ganhei do autor quando eu morava em Curitiba. O livro continha tantos erros e escasso conteúdo que foi penoso ler.
Não foi sonho nem devaneio. Nada sobrenatural, simplesmente levanto na madrugada com grande calor e olho pela janela, o luar instigante como eco do silêncio em tudo.
Visto-me. Uma roupa simples qualquer (todas elas são simples, com ou sem seus quaisqueres). Caminho quadra dali, acolá. Sem supor que alguém perceba a minha existência, aleatoriamente fui lançando aqueles livros em jardins, calçadas internas, garagens. Antes havia arrancado as folhas que contivessem identificação do então dono.
Foi só gesto insano/sadio de alguém que resolveu transferir para outrem, desconhecido, a incumbência de se desfazer do que eu próprio não me livrara diretamente.
Lembrei-me daquela noite ao assistir a propaganda na televisão sobre a página eletrônica de classificados gratuitos veiculada atualmente (a empresa OLX tem sede em Nova Iorque). É criativa, hilária: “desapegar é só começar”, e tem vários exemplos de objetos com a cabeça de gente conhecida tentando fazer com que a consciência pese, até que alguém bota tudo à venda, faz bom negócio instantaneamente.
Talvez se eu fosse oferecer os livros da pilha, seria presente de grego, a boa educação seria incapaz de fazer alguém aceitar. Livros velhos como eu. Eu que não me dou por saber que não seria aceito. Livros não têm idade nem vida quando não lidos e são solenemente ignorados.   É uma pilha o texto de hoje. Eu a pilhar.        

Fases de Fazer Frases (I)
Ouça a voz da razão, ainda que muda.

Fases de Fazer Frases (II)
Dar o que não tem a quem não precisa, gentileza fútil.

Fases de Fazer Frases (III)
Verdades não se prestam a esconder mentiras. Mentiras tentam esconderijo nas verdades.

Fases de Fazer Frases (IV)
Uma ideia poderá se apresentar pelo contrário. Poderá o contrário uma ideia se apresentar.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Não dá para negar, o deputado federal Zeca Dirceu (PT) agiu rápido, ao demitir a assessora dele Lucy Mary Silvestre Esteve. Ela foi presa ao tentar liberar uma verba judicial na Caixa Econômica, contendo a assinatura falsa do juiz. O gerente desconfiou e ela foi presa em flagrante. Ela já responde a outro golpe, quando conseguiu sacar o dinheiro. 
O Zeca é a segunda vez que tem gente da equipe dele envolvido com a Justiça. O ex-vereador de Umuarama José Cícero Laurentino foi preso anos atrás por não pagar pensão.
Se pode ser estranha coincidência, o fato é que o deputado petista não sabe escolher quem trabalha com ele, e fica difícil todo mundo crer que seja capaz de exercer uma das funções primordiais do parlamento, fiscalizar.
Ele é filho do deputado cassado José Dirceu condenado e preso por causa do mensalão. O filho dele poderia propor à Justiça que o pai trabalhasse no gabinete petista, seria o terceiro “enrolado” com a Justiça, ou melhor, neste caso, condenado em definitivo.    

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Por falar em deputado federal (ex- PT), outro paranaense, André Vargas começa a agudizar na agonia do ostracismo. Êta vida dura dos amigos e dos doleiros! 

Reminiscências em Preto e Branco

Noites frias, a cidade silencia mais cedo. Pessoas se recolhem. Acolhem. Se encolhem. O vento que cala o frio. Calafrio. Pingos, gotas, chuva. A imagem da lua espelhada na poça d'água que não tardará desaparecer quando o sol vier. A quietude é tão negra como a escuridão da noite. “A calada da noite” não sai de casa, para ela voltou antes de atrair o sussurro que trai.  
José Eugênio Maciel é mourãoense, filho de pioneiros, professor, sociólogo, advogado, membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.

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