Entre linhas, agulhas, tesouras e réguas, mãos, olhos mágicos do pai-alfaiate Tirso e da mãe-costureira Ditinha, estava a menina-bordadeira Edcleia. Juntos, deram início à roupagem que ora me cobrirá. Palavras-fio, multicores, multifônicas, selam marcas, buscam traços no pó do giz, na sabedoria dos livros, no calor do beijo, nos cristais jorrados, com fios de seda bordados, fazendo chão na estrada da educação.
Mas navegar é preciso ...desnudar-se ainda mais.
É preciso fazer palavras, exalar sentidos. Transbordar ações. Emoções: família, amigos, companheiros de luta, artesãos da linguagem iniciando ou continuando fazendo caminhos ao andar, imortais desta academia, exímios talentos na arte do bem dizer.
A vocês descerro a minha alma – Lavada – Pintada - Tosca - que a custo mútuo se reveste de algumas palavras...."
".... adoçando-lhe o caminho num rascunho que dedico a minha mãe, leitora primeira, pintora última das nossas matas e dos nossos céus, costureira que me fez bordadeira na qual me espelhei. Obrigada, mãe, pela grande parte boa que lhe toca do que hoje sou.
Dedico também aos meus netos Ana Luiza, Thiago, Victor Hugo, Sophia e Caio para que levem consigo a importância do ato de ler e de bem viver, como o fez sua vovó-bordadeira-professora que procurou em tudo o sentido da vida. "
"...A menina-bordadeira sempre gostou de versejar. Porém o descompasso do ritmo e o gosto pelo palco, levaram-na a declamar, revelando a tríade que forjou o seu caráter: Deus – família – o ser humano.
De posse de tais construtos, a bordadeira se colocou a trabalhar com a estrangeira, sem jamais se esquecer, contudo, da brasileira seja na curva do rio, ou na esquina de uma escola. Passou a partilhar o aprendido, a desbravar novos territórios por estes mares aqui dantes nunca navegados.
Como no mundo do romance, o palco da sala de aula ativa, propositada e reflexiva torna-se uma arena onde se entrecruzam e lutam os valores sociais de orientação contraditória. A palavra revela-se, no momento de sua expressão, como o produto da interação viva das forças sociais. E a batalha de uma educação pelas línguas alcança o clímax na aula quando as línguas se encontram e reconhecem-se a si mesmas, criando o diálogo das linguagens."
"Nos idos 70, a professoranda- bordadeira reconhecia ser o magistério sua vocação verdadeira. A partir da década de 80, passou a entender na pele, no cansaço, no sorriso e no abraço o diz Beatriz Braga pela passagem do Dia dos Profissionais de Letras.
Fazer Letras é camoniar,
É machadear, é caetanear;
É cora coralizar, mas é
Acima de tudo acreditar
Que pelas palavras,
Podemos o mundo
Transformar e humanizar.
Mais de três décadas trilhando por esta estrada. Trabalhando as palavras. Buscando com Babha, com Gledson, os novos sentidos. Explorando com a tradução as lacunas devidas à incompletude da palavra, na língua de saída, buscando os novos propósitos nas línguas de chegada. Híbridos de sentidos e de manifestações culturais.....Fazer Letras é camoniar,
É machadear, é caetanear;
É cora coralizar, mas é
Acima de tudo acreditar
Que pelas palavras,
Podemos o mundo
Transformar e humanizar.
Esta estrada cheia de vozes, de gente, de cheiros, de cor, mas sobretudo de amor me conduziu até a Academia Mourãoense de Letras. ...
E é por estrada com tantas pessoas trilhadas que Edcleia menina, mocinha, professora e domadora de palavras e da vida chega à Academia Mourãoense de Letras ora com alma desnudada perante este público presente e virtual. "
Parte do discurso da primeira ocupante da cadeira 05 que tomou posse na noite histórica de 31 de maio 2014 na Academia Mourãoense de Letras.
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