29 de out. de 2012

PROFESSORA MARIA JOANA: De mensalão em mensalão lá se foi mais uma eleição...


“Se vivêssemos ainda no tempo em que o eleitor escrevia o nome de sua preferência na cédula de papel, Joaquim Barbosa seria o "cacareco" da vez em todo o País. Calcula-se que sete em cada dez brasileiros votariam hoje no ministro do STF, a despeito de sua não candidatura” – Tutty Vasques, humorista – O Estado de S. Paulo.
O desencanto com a política dominou esta eleição como nunca se viu antes, nem mesmo na época do regime militar, em que não havia eleições diretas para prefeitos de capitais, governadores e presidente da República. Muita gente votou por obrigação dizendo mesmo que, se pudesse, nem iria votar. Os votos brancos aumentaram e se pudéssemos escrever nas cédulas muitos votos de protestos apareceriam. Não houve discussões acaloradas entre eleitores, não se viam muitos carros com adesivos, a não ser os que estão a serviço das campanhas, não houve interesse em pegar os panfletos distribuídos nas ruas, nem presença significativa nas manifestações públicas. Caiu a audiência do horário eleitoral na televisão, sumiram os militantes não remunerados, com camisetas, broches e argumentos, tentando convencer eleitores a votar no candidato do seu partido e discutir suas propostas.
Ainda precisa ser analisado este desinteresse nas eleiçõesque revela a insatisfação da população com os políticos, com a corrupção generalizada e com a obrigatoriedade do voto. Elas ocorrerem ao mesmo tempo do julgamento do mensalão, apesar de todo esforço do PT para adiá-lo... Segundo o ex-presidente Lula o julgamento não afetou as eleições e o PT teve sua maior vitória... Contrariando a avaliação do ex-presidente, o ministro Gilberto Carvalho avaliou que o mensalão atrapalhou o PT nas eleições, mas que o partido "conseguiu sobreviver a esse obstáculo".
Mas, vendo a propaganda massiva de certos candidatos nas ruas, dá para imaginar o que aconteceria se o voto não fosse obrigatório: abuso do poder econômico para arregimentar eleitores dispostos a votar em quem der mais. Outro risco do fim do voto obrigatório é a política passar a ser dominada pelas igrejas, com sua capacidade de arregimentar e de dominar por meio da lavagem cerebral.
Realmente a manipulação religiosa nesta eleição cresceu tanto a ponto de haver manifestação dos próprios evangélicos contrários ao "mercado do voto religioso". O protesto contra o "voto do cajado", como apelidaram esse tipo de prática, em alusão ao antigo voto de cabresto, foi comandado pela Rede Fale, formada por evangélicos e com atuação nas redes sociais. Eles defendem a necessidade de conscientizar o eleitor cristão a usar o voto como arma de libertação e a ilegalidade da campanha nos espaços públicos, como templos e igrejas. Denunciaram que alguns pastores têm usado seus cargos de liderança nas igrejas para conduzir os votos dos evangélicos, aproveitando-se da fé sincera das pessoas, como em um curral eleitoral.
Incentivaram que cada cristão evangélico investigue o histórico e os ideais dos candidatos antes de fazer sua escolha, sem se sujeitar exclusivamente à opinião dos seus líderes e pastores. Eles recusam-se a pregar voto em algum candidato, mas a se ligar a partidos a partir da identidade programática de cada um, que defendam a promoção da vida, a igualdade, a garantia dos direitos de cada um.
Também o bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, d. Maurício de Andrade, condenou o que chamou de "troca de favores pelo voto", em que se busca "o interesse individual, e não o coletivo". "O voto é a maior arma que o cidadão tem para transformar a sociedade. É preciso pautá-lo pela ética do Evangelho, que prega a transformação e a liberdade", afirmou.
“Não se pode instrumentalizar a religião para obter voto”, disse o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno O cardeal disse ainda, referindo-se a todas as religiões, que "no mundo democrático não cabe à igreja assumir papel político-partidário”. "A posição da Igreja Católica, enquanto instituição é de que não deve assumir nenhuma posição político-partidária. O papa Bento XVI, numa de suas encíclicas, Deus É Amor, foi muito claro ao dizer que a Igreja não pode nem deve tomar em suas mãos a batalha política. Isso é próprio dos políticos, dos leigos. A Igreja não pode ter pretensões de poder." "não cabe à igreja assumir papel de protagonista no campo político".
D. Raymundo disse que a Igreja acompanha o processo eleitoral em todo o País, com orientações para o voto consciente e estímulos aos leigos que desejam participar como candidato. "A Igreja estimula, apóia, vê com bons olhos o leigo que se sente chamado para a política", afirmou. "Queremos que ele não tenha medo de assumir posições político-partidárias. Isso é fundamental, porque a sociedade justa vai ser resultado da ação de homens políticos, homens públicos. Eles é que devem trabalhar para uma sociedade mais solidária."
E que Deus ilumine os eleitos para que busquem o bem comum e não se aprimorem em criar novos mensalões...
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br

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