“O neto é à hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, as avós são tão desmesuradas e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam”
O texto do poeta Affonso Romano de Sant'Anna nos faz voltar no tempo e relembrar tantos momentos gostosos vividos com nossos filhos “antes que eles cresçam...” E tantos outros perdidos por falta de tempo, na corrida para equilibrar os trabalhos profissionais, a casa, os filhos, o marido. Fizemos o que pudemos na medida de nossa capacidade, do nosso tempo, do nosso coração, mas ficou muito afeto estocado... Por isso podemos entender essa imensa capacidade de amar os nossos netos, as “crianças amadinhas” que já nos alegram com a sua presença, e os amadinhos que estão a caminho.
Nas famílias onde os filhos já cresceram e nos dão a alegria do convívio com os netos, vale esta segunda oportunidade de distribuirmos essa “incontrolável afeição”, ”o carinho ocioso e estocado”, esse chance de “reeditar o nosso afeto”, especialmente nestas datas festivas como o dia das mães, onde as saudades enchem o nosso coração e memórias boas. As ruins o tempo se encarregou de apagar...
Quando os filhos crescem vamos realmente ficando órfãos dos nossos próprios filhos, sentindo falta da correria, dos gritos alegres, das brincadeiras, do cheirinho gostoso de nenê, das viagens de férias, dos “falta muito para chegar, mãe... Dorme que chega logo filha”. Quantas vezes nos perguntamos onde estão àquelas crianças que alegravam a nossa casa, ocupavam todo o nosso tempo, davam sentido a nossa existência. Onde estão os adolescentes cheios de opinião querendo ocupar seu espaço no mundo, ter sua razão... Onde os jovens festeiros, esperando as boatinhas dos fins de semana, participando de mil e uma atividades, fazendo-nos de motoristas em tempo quase integral. Ou os jovens indecisos preocupados com a escolha da profissão, com o encontro de outra metade, reclamando dos excessos de zelo, de cuidado, de “juízo” que pedimos para ter...
Aos poucos vamos percebendo que não podemos mais trocar as fraldas daquelas crianças. Já não as podemos levar e buscar na escola, no balé, no CTG, na ACECRIS, na casa das amigas. Elas saíram do banco de trás, das caminhas improvisadas para as viagens e passaram para o volante do carro e das próprias vidas. Agora são as nossas motoristas preferidas...
Quanta verdade nas palavras de Affonso “Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros”. Sim, “Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto”. Sim Affonso, “Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância...” Sim... Sim... Deveríamos ter feito isto... aq uilo... Quanta coisa ficou para trás, poderia ter sido diferente...
Mas agora temos a segunda chance e não podemos desperdiçar. Por isso nos tornamos ”vovós-mães e pais com açúcar” e queremos dar o melhor do tempo que nos resta para essas crianças amadinhas que encantam nossa vida... antes que eles cresçam... Feliz Dia das Mães a todas as mães e avós que vivem profundamente essa maravilhosa experiência da “voternidade”. Que Deus ilumine a todas mostrando sempre o melhor caminho.
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br
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