14 de mai. de 2010

COLUNA DO SHAPIRO: A vida quase arruinada


Chamado às pressas, no meio da noite, o médico chega todo esbaforido à casa de um rico empresário cuja esposa adoeceu. Pede a todos que se retirem do quarto, pois precisa ficar só com a paciente e examiná-la.

Apreensivo, o marido fica do lado de fora do quarto. Ouve barulhos estranhos e depois de alguns minutos, o médico enfia a cabeça pela porta e lhe pergunta:

- O senhor tem um alicate?

O marido busca um alicate. A porta torna a se fechar. Mais barulho estranho. Instantes depois, a cabeça do médico reaparece na soleira da porta:

- O senhor tem uma chave de fenda?

Espantado, o marido vai buscar a chave de fenda.

Mais tempo, e de novo:

- O senhor tem uma furadeira? E o marido, desesperado:

- Furadeira? O caso dela é tão grave assim?

- Ainda não sei - sentencia o doutor - Não consegui nem abrir a minha maleta!


Leonardo da Vinci, que viveu no século XVI, e quase todo mundo conhece, foi pintor, músico, arquiteto, inventor e muito mais. E saiu-se bem em tudo o que fez.

Hoje em dia, dificilmente as pessoas têm senão uma habilidade especificamente desenvolvida. Vivemos numa época que pode receber o apelido de Era da Especialização em que o domínio da cultura geral tornou-se escasso. Dificilmente um profissional sabe discorrer sobre outro assunto que não seja de seu métier.

Nossa capacidade essencial, contudo, pode muito mais que isso. Tranquilamente! O que talvez esteja ocorrendo é que a exigência de qualquer desempenho traduzir-se em resultados financeiros elevados e crescentes tenha se tornado uma obcessão a ponto de minimizar o valor da dedicação à leitura de um bom livro ou à audição de boa música, ir ao teatro, caminhar com calma, cultivar um hobby etc. Estamos e somos uma função do trabalho, trabalho e mais trabalho. E o que se ganha realmente com isso? Nunca fomos tão pobres. Nesta geração os pais desconhecem seus filhos. As crianças aprendem comportamentos básicos com babás e professores que também não educaram seus próprios filhos. Por quê? Suas mães lutam por um salário. Mas tanto esforço tem semeado mais amargura do que prosperidade financeira no seio da família.

Há algo de errado nisso. Tenho certeza de que todo mundo vê o mesmo que eu. Mas tem medo de admitir. Tem um terror de nadar contra a correnteza. Um pensamento é certo: nesse estado de coisas, o próximo nível deste jogo delirante será a consolidação de uma crise existencial de proporção inimaginável. E ela já a se alastra. A responsabilidade é de cada um.

Por mais patológico que isto seja, temos o poder, por nós próprios, de dar novo sentido à vida e ao trabalho, e vê-los desde uma perspectiva mais ampla, útil e menos materialista. O que isto significa para você?

Pense a respeito. A família - já confusa, e talvez quase perdida - agradece de coração e alma.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473

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