Numa tentativa para melhorar a produção interna, aumentar o consumo e diminuir o quadro cada vez mais negro da economia brasileira, o governo federal, reduziu, recentemente, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), durante 90 dias, sobre produtos da chamada linha branca, como geladeiras, máquinas de lavar e fogões, por exemplo.
Todos os dias, matérias nos principais veículos de comunicação relataram os resultados benéficos da medida, como o aumento de vendas para o comércio, de 15 a 20% nos primeiros dias da medida.
Mas agora, recentemente, a divulgação do número de cheques devolvidos no mês de maio no Brasil por falta de fundos assustou o setor, principalmente aqueles que são suas maiores vítimas, o comércio varejista.
Segundo a Serasa Experian, foram registradas 25,2 devoluções para mil compensações, o maior número verificado desde 1991, o levantamento começou a ser feito. De janeiro a maio deste ano, foram devolvidos 12,11 milhões de cheques e compensados 512,73 milhões. Na comparação com igual período de 2008, o número de cheques devolvidos a cada mil compensados cresceu 16,3%.
Para explicar os motivos do aumento dos “voadores” no país, não é preciso ser especialista em economia: a crise financeira internacional, a elevação do número do desemprego e a maior utilização de cheques pré-datados, para aproveitar as ofertas tentadoras como a citada acima, são alguns dos principais motivos para o aumento.
Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, o aumento do número cheque sem fundos ocupa o terceiro lugar no ranking que mede a inadimplência no país. As dívidas de cartões de crédito e pendências com as instituições financeiras complementam o termômetro, fincando em primeiro e segundo lugares respectivamente.
Já abordamos anteriormente em uma de nossas colunas que o incentivo ao consumo nos tornou, nos últimos anos, reféns dos gastos em excesso, e, muitas vezes, sem necessidade aparente.
São diversas as armadilhas que nos levam a comprar mais e sempre. Embora a maioria de nós não tenha recursos para comprar um carro que vale mais de R$ 100 mil, não é difícil verificar que muitos acabam gastando o que não tem para comprar um celular de último tipo ou uma televisão de tela plana, que logo estarão obsoletos. É uma muleta que nos ilude, dando-nos a triste ilusão de também podemos adquirir os produtos que para os ricos são apenas mais um complemento de seu estilo de vida.
Volto também a falar sobre a importância de educarmos nossos filhos para controlar seus gastos, estabelecer objetivos, e, por que não, enriquecer, ou seja, incentivar, através de nossa prática diária, atitudes que nos levam a economizar para investir.
Em período de crise internacional, seria muito mais fácil para nós adultos se, quando crianças, tivéssemos tido uma educação voltada ao uso consciente e equilibrado do dinheiro. É através do dinheiro, que muitas pessoas consideram ainda como algo sujo, que podemos ensinar aos nossos filhos a matemática do uso cotidiano, responsabilidade, caridade, planejamento, entre outras propostas.
Fala-se tanto em economia dos recursos naturais não renováveis, em comportamentos ecológicos mais corretos, como a separação do lixo, entre outras, mas não se relaciona o aumento dos prejuízos ao meio ambiente ao fato de vivermos numa sociedade de incentivo massivo ao consumo em excesso.
O desenvolvimento sustentável, tão cobrado por nossas autoridades, passa também pelo consumo com moderação, com qualidade, e, principalmente, pensando nos tempos que podem ainda ser mais difíceis, com a falta do dinheiro e com a falta de bens ainda mais importantes para nossa sobrevivência, como os recursos naturais.
Nery José Thomé é engenheiro agrônomo e escreve aos sábados no jornal Tribuna do Interior.
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