13 de mar. de 2012

COLUNA DO PROFESSOR MACIEL: “Brincadeira criminosa"


“Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas
uma coisa é certa: haverá na terra um canalha a menos”
Millôr Fernandes
Amarildo de Araújo Pereira está morto. Tinha 19 anos, foi enterrado onde ele vivia, em Rancho Alegre do Oeste. Rapaz de boa afeição, tinha problemas mentais, o que não o impedia de ser simpático e generoso. Vítima de uma “brincadeira criminosa”, expressão empregada pela família do jovem, ele estava em um bar da cidade quando passou a ser incentivado a beber, induzido de intensamente por um grupo que pagou a bebida para se divertir. Na medida em que ingeria grande quantidade de álcool era motivo de zombaria, alvo de gargalhadas sobretudo desumanas, posto que feriram visceralmente a dignidade moral e física de alguém relativamente incapaz e naquelas circunstâncias mais vulnerável ainda.
O fato, noticiado por esta Tribuna no domingo passado, informa que Amarildo ainda foi levado com vida para a vizinha cidade de Goioerê, mas não suportou o coma alcoólico e retornou em um caixão.
O inquérito está aberto e um vídeo, já em poder da Polícia, é objeto de investigação. Evidentemente que a família clama por Justiça. O fato mantém enorme repercussão na pacata e querida Rancho Alegre do Oeste, dada a maneira preparatória, ânimo de fazer e a torpeza em praticar tamanha covardia e hedionda conduta criminosa, além de covarde.
Indignar-se e associar solidariamente à família enlutada é o mínimo que se pode fazer. Embora este Jornal tenha dado adequadamente a machete e além da expectativa tangente aos desdobramentos do fato, existe uma característica comum entre Amarildo e o Jorel, recentemente abordado por esta Coluna. Em ambas as situações um grupo de covardes se aproveita de alguém com limitações mentais, criando ou se aproveitando de situações para zombar e satisfazer instintos sórdidos. Andarilho ou pessoa pobre, tais fatores, bem como a condição mental restrita a ponto de aquelas pessoas não terem o correto discernimento e capacidade de reação.
Mais do que esperar, exigir é que o se impõe no intuito de a Justiça seja efetivamente exercida, a de condenar os que estiveram no bar, seja pela ação absolutamente repulsiva e mesmo para aqueles que assistiam a tudo e nada fizeram no caso de ser sido possível evitar. Tão certos da impunidade provável que julgaram estar seguros, é que filmaram aquela prevalecida violência, “brincadeira criminosa”, destituída de qualquer graça e impregnada de perfídia, no mais cruel significado.
Fases de Fazer Frases
A palavra transar está incorporada ao dicionário, sinônimo de relacionamento íntimo, sexual. Tem outra palavra, só que há muito registrada, é transir, que significa invadir, penetrar. De sons parecidos, transar e transir se juntam mesmo.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Na semana passada o Sítio Boca Santa repercutiu o texto aqui publicado sobre o Jorel, (A zombaria calhorda e desumana contra o Jorel) ao comentar o conteúdo e tendo disponibilizado naquele espaço virtual a íntegra do texto, citando um trecho aqui transcrito: “Além da facilidade e comodidade, zombar de alguém sabidamente limitado (…) é desumano, covardia”. Na oportunidade da publicação, o escrevinhador aqui agradeceu o prestígio dado pelo Sid Sauer, jornalista responsável. Aliás, Boca Santa em outras duas oportunidades comentou textos aqui publicados. Assim, torno publico o meu agradecimento, honrado com a referência.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Sobre o Jorel também, o eminente professor de matemática Wagner Szpak (dos Colégios Rondon e SIGMA) levou o texto e trouxe à tona a questão do tratamento dispensado em tais situações, estimulando os estudantes para a reflexão sobre a dignidade humana. Agradeço ao estimado mestre, com enorme satisfação.
Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
Sobre o tempo, dois conhecidos ditados se encaixam no que será escrito a seguir. Primeiro, eis os adágios: “O tempo é o senhor da razão” e “O tempo cura todas as feridas”.
Em algumas oportunidades apontei a contradição da Igreja Católica em Campo Mourão ao realizar o saboroso e suculento Costelão, festa tradicional alusiva ao Dia do Padroeiro São José, com a quaresma, sabidamente período de abstinência da carne, quando é para comer peixe. Anonimamente ou não diretamente a mim foram feitas críticas a minha abordagem, acusado de ser contra o clero. Agora o Padre Jurandir (não era pároco da Catedral à época) anunciou que no dia 19 de Março, feriado municipal, o Costelão não irá acontecer, pelo exato motivo de contrariar o dogma cristão.
De propósito não irei mencionar determinada figura que foi (ou ainda é?) acostumada a escrever para “rebater” textos quando abordo questões de tal natureza. Arrogante e ardiloso, tem o hábito de ficar em silêncio quando lhe é conveniente. E ele não precisará me atacar para “se” defender e bajular os superiores dele, haja vista os fatos de agora.
Olhos, Vistos do Cotidiano (IV)
Observador social arguto, o jornalista Sid Sauer, do Boca Santa, noticiou recentemente a Rua Brasil em um trecho da área central, onde caminhões que fazem frente ficam o dia inteiro ocupando grandes espaços de estacionamento, quando se realiza aquela atividade comercial.
No embalo do fato noticiado, menciono outra Rua e o trecho central que ocorre outro problema com a mesma característica. Uma loja de motos ocupa um grande espaço pondo dezenas de motos em exposição, parecendo que todas elas foram “estacionadas” por “clientes”. A Rua é a prefeito Devete de Paula Xavier, esquina com a Av. Capitão Índio Bandeira.
Reminiscências em Preto e Branco
O relojoeiro dava cordas nos relógios, como o sineiro tocava o sino, a professora tocava a campanha em sala. Sinais dos tempos, quanto mais longínquos menos velhos sinais aparecem. Tempos são outros, horas são as mesmas. Sinais dos novos tempos.

Coluna publicada no domingo (4) no jornal Tribuna. José Eugênio Maciel é professor, sociólogo, escritor, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras.

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