16 de ago. de 2023

"UM GRANDE PRESENTE: ser duplamente lapeano, de nascimento e Cidadão Benemérito", diz Ricardo Calderari

Discurso do enegenheiro agrônomo Ricardo Accioly
Calderari no recebimento em 15 de agosto de 2023 do título de Cidadão Benemérito da Lapa.

"Excelentíssimo Senhor Mário Jorge Padilha Santos, / mui digno presidente desta casa. Excelentíssimo Senhor Diego ribas,  mui digno prefeito do município. Minha saudação especial ao vereador Osvaldo Benedito Camargo,  autor do projeto de lei que me concedeu esse honroso título.

Saúdo aos vereadores presentes e já nominados que nos honraram com sua

aprovação. Cumprimentando-os, cumprimento a todos dos poderes Executivo e Legislativo que governam nosso município. Autoridades civis,1 religiosas já nominadas,  amigos, familiares, que me dão a honra de suas presenças.

Senhoras e senhores,  nesta noite me sinto em casa nesta egrégia Casa de Leis,  pois sou filho e irmão de vereador. Feliz por estar nesta casa histórica,  que já abrigou a minha saudosa escola normal novo ateneu, num tempo do qual guardo muitas boas recordações. Fico emocionado e agradecido pela presença de professores,  colegas.

Hoje é um momento de muito significado em minha vida,  que me deixa repleto de emoção e gratidão. É com imensa alegria e felicidade que recebo e partilho com orgulho esta honraria de ser Cidadão Benemérito do município da Lapa,  minha amada terra natal.

Permitam-me contar um pouco da história do destino que trouxe nossa família a esta terra. Meu avô Calderari imigrou do Sul da itália, desembarcando em Paranaguá  juntamente com as famílias Furiatti, Delgaudio, Farani. Estes estes ficaram em Curitiba onde montaram um comércio. Mais tarde o irmão Giuseppe Farani foi para a Lapa com a sua família.

Aqui cresceu sua filha Maria Antonieta,  na época com apenas cinco anos, tendo estudado no Colégio São José até os 14. Fez concurso para professora, mas realizou seu sonho entrando num convento das irmãs Passionistas, dedicado ao cuidado dos doentes em hospitais. Tornou-se, mais tarde,  diretora geral das Irmãs Passionistas do Brasil,   falecendo em 1963. Atualmente o processo para sua beatificação corre em Roma, graças aos muitos milagres realizados.

A família Senna, da mãe do meu pai, saiu da Itália chegando ao Brasil pelo porto do Espírito Santo, deslocando-se para Rio de Janeiro e São Paulo. Meu bisavô Senna,  com a inauguração do teatro São João da Lapa, foi convidado por Dom Pedro II a vir trabalhar com peças teatrais. Chegando aqui conheceu minha bisavó, da família Moreira Faria, com quem casou e teve filhos.

Com o advento da revolução federalista, a Lapa foi destruída, tirando o sustento das famílias. Meu bisavô viu-se obrigado a voltar para o Rio de Janeiro. Minha avó Rachel,  por ser uma criança muito fraquinha / ficou aqui com os bisavós Moreira Faria. Mais tarde veio a casar-se com meu avô Calderari  com quem teve dez filhos, sendo um deles meu pai Frederico Senna Calderari. Ela morreu com apenas 39 anos.

E agora, após esta história permitam-me senhoras e senhores,  relembrar um pouco da minha trajetória de vida desde a Lapa até Campo Mourão.

Cursei o primário no Colégio São José, ginásio e científico no Colégio General Carneiro e a Escola Normal Novo Ateneu, onde estamos agora. Tive   honra e o orgulho de ser o único aluno homem, o "mimo", entre 150 meninas normalistas com as quais muito aprendi, especialmente a arte de ouvir. Entender o mundo a partir da ótica feminina, da intuição que é por certo a voz do coração,  da consciência.

Isso tem me ajudado na minha profissão,  em contato com a terra que também é chamada de "mãe". Essa amizade,  coleguismo ultrapassou os tempos e nos levou várias vezes, em confraternizações aqui na Lapa.

Cursei a faculdade de Agronomia na Universidade Federal do Paraná em Curitiba de 1967 a 1970. Morei na Casa do Estudante Universitário, a C.E.U com 330 colegas estudantes de vários estados do Brasil. De lá saíram muitos brasileiros notáveis como governadores, ministros,  deputados.

Em um domingo de 1968, na TV Record houve o lançamento de uma música com a  cantora Eli Regina, que num dos versos dizia: "quando eu morrer me enterre na lapinha". A partir de segunda feira ganhei um novo nome que carrego com orgulho até hoje, não mais Ricardo ou Lapa,  mas o carinhoso “Lapinha”

Formado em 1970,  apesar de ter passado em três concursos, optei pelo município de Campo Mourão: "terra cheia de desafios e oportunidades para a agricultura e quase tudo para fazer", como dizia um primo engenheiro agrônomo.

Em dezembro de 1970 iniciei meu trabalho na Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná,  numa terra conhecida pelos "3 s"/ saúva, samambaia e sapé, mais taquarinha e muito nó de pinho. Não dava para imaginar que a agricultura dessa região se tornaria a melhor do Brasil.

Graças ao ao trabalho de liderança do engenheiro agrônomo Dr. Aroldo Gallassini, que convenceu, inclusive o Banco do Brasil, e setenta e nove agricultores a acreditarem no cooperativismo, que, com o uso de tecnologia e correção do solo  era possível produzir tal qual às terras roxas e férteis do Norte do Paraná,  consideradas melhores do mundo.

Tive a felicidade de aqui chegar vinte cinco dias após a assembleia de  fundação da Coamo Agroindustrial Cooperativa, ocorrida na data histórica de 28 de novembro de 1970. Tenho orgulho de fazer parte desta história,  sendo há mais de quarenta anos diretor da Coamo. Em 2022 a Coamo teve um faturamento de 28 bilhões de reais,  sendo a maior empresa do Paraná e a quadragésima segunda empresa do Brasil. Cooperativismo é uma sociedade de pessoas e a família Coamo representa mais de 140 mil pessoas.

Na época éramos apenas 15 agrônomos em uma região de mais de 40 municípios,  mas nos unimos e em 15 de julho de 1972 tivemos a honra de fundarmos a Associação dos Engenheiros Agrônomos de Campo Mourão,  uma entidade que se destaca no estado por sua união e trabalho agronômico.

Tínhamos pressa para fazer bem feito a coisa certa desde o início. Todas as grandes discussões da conservação do solo do Paraná foram feitas em Campo Mourão. O audacioso é aquele que planeja, organiza,  estrutura e vai; o aventureiro: vamos e veremos no que dá.

Dentro do controle da erosão foi construída, a microbacia do Rio do Campo, com a união, aglutinação de forças da comunidade, agrônomos, agricultores, Coamo, governo do Paraná, Platec, município, Sanepar, Acarpa. Registre-se que as primeiras microbacias do Brasil foram as de Campo Mourão e de Toledo, garantindo abastecimento e melhor qualidade da água.

A  maior transformação ocorreu com o plantio direto - uma verdadeira revolução da agricultura e do meio ambiente. A primeira experiência no brasil ocorreu na cidade de Rolândia, no Paraná, em 1972/73 por Herbert Bartz, que importou uma plantadeira dos Estados Unidos.

A segunda foi em Campo Mourão, em 1973/74 realizada por cinco agricultores sendo um deles esse que vos fala. A persistência destes agricultores garantiu a sobrevivência da "mãe terra". Se existe agricultura hoje no Brasil é por que existe plantio direto, ou plantio na palha, sem precisar remover a terra, evitando assim a erosão e assoreamento dos rios.

A gente não aprende com os erros. A  gente aprende com a correção dos erros. Todo esse trabalho pioneiro dos agricultores teve o reconhecimento nacional. Em 1976 Campo Mourão foi escolhido como Município Modelo de conservação de solos do Brasil. Lá foi lançado o  PNCS - Plano Nacional de Conservação de Solos pelo então ministro da agricultura o saudoso Alysson Paulineli. Um monumento na praça do Fórum de Campo Mourão, praça Bento Munhoz da Rocha Netto,  celebra este feito.

Olhando para o presente e constatando as profundas transformações que testemunhei nestes quase cinquenta e três anos bem vividos em Campo Mourão,  posso apostar num futuro grandioso para essa terra abençoada,  farta de água, sol, povo trabalhador e honesto,  com pesquisa e tecnologia. Tenho certeza da contribuição para o Brasil ser o grande celeiro do mundo.

Nesses anos, vimos o Brasil passar de importador para exportador de alimentos para o mundo. Hoje somos o grande celeiro que atrai os olhares, a inveja, a cobiça mundial. Conseguimos produzir com eficiência, qualidade, sem subsídios e sem agredir o meio ambiente.

E para isso, investir na agricultura deve ser a chave para diminuir a fome e reduzir a miséria. Isso é fundamental para o futuro do nosso planeta, pois para alimentar uma população que cresce rapidamente - oito bilhões-  mais quinze anos serão nove bilhões,  precisamos proteger o meio ambiente, fazer uso eficiente dos meios naturais, promovendo assim, o desenvolvimento sustentável. Nas asas da agricultura  o Brasil viajará com segurança para o primeiro mundo.

Hoje o Paraná tem a maior produtividade por metro quadrado do Brasil. O   agronegócio representa 27,4% do PIB nacional, 120 bilhões de dólares de exportação brasileira sendo 40% do agronegócio.

Garantimos a segurança alimentar de 800 milhões da população mundial,  preservando 66% da nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território, sendo que a agricultura usa apenas 7,3% números que nenhum outro país possui.

Sem o agronegócio brasileiro o mundo terá déficit alimentar. Temos que defender o nosso país/ das inverdades interesseiras que nos acusam e acreditar: o Brasil é o país que melhor cuida do meio ambiente no mundo.

Esses quase 53 anos de trabalho na região de Campo Mourão deram-me a oportunidade de realizar um sonho: ter uma propriedade rural com bastante água, como dizia meu pai e o nome só poderia ser: Lapinha.

Ela é abençoada por muitas fontes d'água que correm em meio a muitas reservas florestais. Quis o destino que a localidade Agua da Fonte,  no município do Farol, ficasse dentro da minha propriedade.

Num domingo, ao  ver a movimentação de ônibus e caminhões  na Agua da Fonte, fui ver o que estava acontecendo e descobri que ali foi uma das paradas do monge João Maria. Até hoje muitas graças são atendidas, como aqui na Lapa,  pela força da fé do povo,  que levamos sinais da cura em agradecimento.

Faço um agradecimento especial ao afilhado Gilmar Cardoso, a primeiro prefeito do Farol que revitalizou o patrimônio cultural e religioso da Água da Fonte.

Existem homens que são enterrados e homens que são plantados, viram sementes,  deixam legados tão profundos que suas ideias se transformam em frutos que alimentam gerações. E a própria Lapa está plantada no coração do Brasil, tendo sido homenageada com nome de ruas, bairros, em todas as capitais dos estados  brasileiros da época.

E desta terra legendária saíram lapeanos que se tornaram pioneiros de Campo Mourão, município criado em 10 de outubro de 1947. Os pioneiros lapeanos são : Guilherme de Paula Xavier, Francisco Ferreira Albuquerque, Eutério Galdino de Andrade, João Pinto dos Santos, minha professora e juíza Anny Mary Kuss.

Como lapeano aprendi desde criança a amar a terra natal e a terra que nos acolhe. Nós lapeanos, manifestamos nas nossas atitudes, sentimentos de bairrismo que vem sendo repassados e perpetuados, de geração em geração, transcendendo a tudo o que se vê.

As ações dos lapeanos são sempre de promoção,  defesa e orgulho de sua terra,  das suas coisas,  das suas conquistas e de sua gente. Grande prova disto são as vinte sete turmas de jovens cooperados, que acompanhei até a Lapa, em sua tradicional viagem de conhecimento da diversas regiões atendidas pela Coamo. Aqui degustaram não só a deliciosa comida tropeira, como também a história, os monumentos, a beleza da amada terra natal, que a gente carrega sempre no coração.

Este meu bairrismo lapeano se estendeu a Campo Mourão,  ao Paraná e ao Brasil. Tenho a certeza e defendo que se todo brasileiro amasse o brasil como o lapeano ama a sua terra, o Brasil seria realmente muito melhor.

Finalizando, agradeço de coração por suas presenças, i carinho e consideração.  Os meus agradecimentos a todos os amigos que aqui,  junto com meus familiares, partilhando desta minha alegria.

A minha esposa Majô, minha companheira. a você, amor da minha vida o meu carinho, respeito e consideração;  declaro que você sempre esteve ao meu lado, sempre foi o alicerce, a alavanca,  muito importante nesta minha trajetória.

Com você Majô e as nossas filhas - Mirele, Graziela e Ivone maria- partilho esta noite,  pois sem o apoio e incentivo de vocês no meu dia a dia jamais teria sido agraciado com esta honraria; a minha irmā Juçara, meu irmão Nelson, meu genro Paulo Sérgio e as sete alegrias de nossa vida- os netos  João Antonio, Isabel, Maria Luiza, Laura, Francisco, Ricardo e Júlia.

Agradeço a Deus, as autoridades que muito me alegraram com esta honraria,  aos meus amigos de caminhada, amigos das comunidades cooperativista e rotariana.

Dou graças por tudo de bom que aconteceu em minha vida e aos meus; por este momento ímpar, indescritível e inesquecível.

Ao vereador Osvaldo Benedito Camargo,  nobres vereadores que compõem esta Câmara Legislativa: vocês me deram um grande presente. Ser duplamente lapeano, de nascimento e agora, Cidadão Benemérito. Muito Obrigado."


 


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