9 de jul. de 2013

COLUNA 25 ANOS DE JOSÉ EUGÊNIO MACIEL: A metade como se fosser (quase) tudo

A METADE COMO SE FOSSE 
(QUASE) TUDO
A palavra é metade de quem a pronuncia e metade de que a escuta”
Montaigne
             “Cada uma das duas partes iguais em que se divide um todo”, é o significado da palavra metade. Metade também é o “ponto médio (entre dois extremos)”. As duas partes integrantes, que representam uma divisão, podem ser distinguidas, mas não necessariamente separadas.
            A Coluna de hoje alcança o 25º ano de publicação. O sentimento maior é a gratidão ao caro leitor e ao Jornal, sem os quais o dia 10 de julho de 1988 não teria existido, trajetória percorrida até hoje. Voltar ao tempo pelas reminiscências é oportuno, examinar o caminho percorrido.
            A metade de 50 é 25 e diz respeito à condição pessoal deste colunista: tenho 50 anos de vida, a metade da minha existência tem sido escrever esta Coluna. São metades representadas nos 1798 Artigos publicados: metade representada inclusive pela relação com o Jornal. Quando comecei a escrever aqui, então com 25 anos, a Tribuna do Interior iria completar, naquele 1988, 20 anos de existência. Ela começou a circular no dia do aniversário de Campo Mourão, 10 de outubro de 1968. Fatos que reunidos representam quase uma metade. À época, o Jornal era editado apenas aos domingos, parece inacreditável quando se pensa nos dias atuais, mas era a realidade rudimentar em termos de impressão.
            Jamais estabeleci qualquer meta, tracei algum plano ou vislumbrei uma marca. Confesso, de algum modo estou surpreso ao atingir 25 anos e logo mais a marca de 1800 publicações. O único objetivo tem prazo fixado, escrever para o domingo seguinte. Cuido de subir cada degrau por vez, sem saber o tamanho da escada, quando muito cada lance, sempre a partir dos pés que se alternam entre um degrau e outro, a exigir, ora que apenas um dos pés fique num degrau e o outro seja lançado ao mais alto seguinte, ora ambos ficam por um tempo no mesmo degrau.
 Cada domingo é um degrau. Na altura em que me encontro na escada eu olho para trás, para baixo e vejo os primeiros degraus já bem afastados de mim, talvez eu não esteja vendo-os precisamente, pode ser que é contemplativa a imaginação feita memória a descortinar o começo da escada. Três momentos evidenciam o quanto aqueles primeiros degraus foram decisivos, sem os quais não chegaria até aqui, eles até parecem poucos diante da subida, compreendida não como glória, mas a elevação da responsabilidade em poder corresponder minimamente à expectativa do leitor. 
Marcas que agora retornam brevemente. A primeira referência feita foi quando esta Coluna registrou a centésima vez, em 1992, 17 de março. Citei o escritor Mário da Silva, “Cada escritor tem os leitores que merece”. O centésimo Artigo, intitulado Esta coluna, pela centésima vez, a certa altura do texto afirmei “não se sabe precisamente quantas virão. Existe uma certeza ao menos, o desafio de escrever, e olha que aqui já há certa presunção do articulista ao julgar que ele realmente escreve, no sentido correto do termo”. Em 1994 era publicado o trecentésimo texto, Tudo se pode escrever. Jamais se poderá escrever tudo, era 15 de julho, “razão e emoção caracterizam o escrever. É bem verdade que misturá-las convenientemente não é muito fácil, pois ora a razão prepondera, por vezes a emoção guia determinantemente o texto. O mais importante sempre é procurar fazer com que ambos os aspectos sejam levados em conta ao escrever”. Por fim rememoro o 24 de março de 1996, a Coluna atinge seiscentas vezes, intitulada Ela não tem dono nem é absoluta. O ela em questão se referia a verdade: “nunca deixa de ser enquanto tal, pois ela evolui de acordo com o contínuo conhecimento dos homens, a descoberta de si mesmo lança sempre novas luzes, as quais com os seus raios fazem com que eles enxerguem a verdade como outrora não conseguiam”. Pois é, veio à milésima e chegou também a de n° 1500 (manchete na primeira página deste Jornal) ... Mas tudo tem a ver com cada domingo, cada degrau.
            Exatamente em 1988 o Brasil vivenciava o processo constituinte, a Assembleia eleita para tal finalidade concluiu os trabalho e a oitava Constituição Federal foi promulgada em outubro daquele ano. Vale ressaltar o fim dos 21 anos de ditadura militar e também termos ainda um presidente eleito indiretamente, embora civil. Tancredo Neves foi escolhido pelo colégio eleitoral e afirmou que seria o último presidente a ocupar tal cargo pela via indireta. Ele não chegou a tomar posse, morreu por complicações de doença. O vice José Sarney assume e termina o mandato. 
            Os 25 anos descortinam a recordação como eram os meios de comunicação para transmitir os textos jornalísticos ou a notícia ainda “bruta”, era o telex, através de uma fita de papel perfurada mecanicamente escrita com todas as letras maiúsculas, texto transmitido com muito barulho no momento em que elas operavam. Foi assim também que o texto da coluna chegava à redação do Jornal. Depois veio o fax, transmitido em telecópia, que funcionou até o início do ano 2000, quando surge a rede mundial de computadores.
            Pessoal e profissionalmente, o “escrevinhador” aqui passou por mudanças, de cargos, funções e atuação profissional, a merecer o registro em outra oportunidade. Perdi muitos leitores em razão da morte deles, inclusive tendo retratado aqui biograficamente. Perdi primeiro o meu pai Eloy, que se foi em 1995, junho, e também em junho, no 2011, o derradeiro adeus a mãe Elza.
            Metade da minha vida a escrever para a Tribuna, e buscar na metade da existência dela o ponto de equilíbrio cronológico e o equilíbrio a fundamentar os textos, ser livre para escrever e escrever com liberdade. Obrigado!
Frases de Fazer Frases
            Metade, parte metáfora, parte que não se mete fora. Metades que fazem o inteiro.
Olhos, Vistos do Cotidiano
            É preciso de novo chamar a atenção. O Ministério da Educação voltou com a publicidade na qual a locutora conclama os jovens à participação, “... para fazer planos para o futuro”. Não existem planos para o passado! O ministério deseduca.
Reminiscências em Preto e Branco
            A redação de um jornal é como se fosse a cozinha de restaurante. O freguês escolhe as opções do cardápio. É comum não se ter noção como funciona a cozinha. O cardápio do jornal é as seções. Há 25 anos esta Coluna é opção, sem saber se é “à moda da casa”. 
José Eugênio Maciel, mourãoense, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.

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