5 de mar. de 2012

DOM ORLANDO BRANDES: Quaresma, encontro com Jesus


Quaresma não é tristeza, é decisão de vida. Não é rosto fechado, melancolia, senso de culpa, é oportunidade de encontro, de olhar para cima através da oração, olhar para o lado através da esmola, olhar para dentro de si por meio do jejum. Quaresma é chance de encontro consigo mesmo, com os outros, com Deus. Toda, a liturgia e espiritualidade quaresmal é cristocêntrica, é tempo especial para um encontro vivo decisivo, definitivo com Jesus Cristo. A paixão de Jesus oportuniza uma vinculação com Ele e a causa pela qual morre executado. Aumenta nossa fascinação por Ele, o Inocente condenado, aquele que passou fazendo o bem e foi rejeitado. No tempo da quaresma nos é dado fazer uma experiência única de conhecimento e apaixonamento quando contemplamos o sangue, as chagas, o coração transpassado, as injurias, a tortura, o rebaixamento pelos quais Ele passou. Podemos fazer uma experiência que se torna um acontecimento inesquecível em relação à cruz de Jesus, a nossa cruz e a cruz da humanidade. Quaresma não é muito pensar, mas, muito amar, muito crer, muito meditar. O Evangelho da paixão do Senhor cativou a humanidade e transformou perversos em santos, fracassados em reabilitados, perdidos em renascidos. A Paixão do Senhor nos torna apaixonados por Ele e pelo próximo, porque o Pai revela o máximo de seu amor misericordioso. A paixão causa assombro, impacto, descobertas e faz crescer nossa amizade com o Filho de Deus, que experimenta o silêncio do Pai, as tentações do Maligno, a grandeza dos discípulos, a zombaria do poder religioso, a prepotência do poder político. Tudo, isso, cria afinidade, sintonia, simpatia, atração por Jesus, verdadeiro Deus, verdadeiro homem, benfeitor da humanidade. A paixão de Jesus convence, porque Ele é o amor de Deus, é o rosto e a personificação do amor de Deus. Nele temos um potencial de luz e esperança. Sem Jesus o mundo seria mais desumano do que é. O seu sangue arrebatou um exército de mártires, confessores, virgens, profetas, missionários e santos. Jesus é atraente e surpreendente. Não teve medo do conflito e pagou alto preço para nos libertar de enganos, egoísmos, medos. A quaresma facilita maior familiaridade e intimidade com Jesus de Nazaré. Conquistados e cativados por Ele, cheios de admiração assumimos seu estilo de vida, seus pensamentos e afetos, seus critérios e valores. Mais ainda, nos propomos a aceitar o destino de Jesus, a morte de cruz. O bom ladrão, o centurião romano, Cirineu, Verônica, os filhos de Jerusalém, deixaram-se tocar e transformar vendo o jeito sereno, filial, obediencial de Jesus. Sempre fiel ao Pai e sempre compassivo e solidário com os outros. Jesus é a vítima que vai vencer, é o perdedor que vai ganhar, é a pedra rejeitada que se torna a pedra angular. Ele é o último que se tornou o primeiro. Na quaresma podemos meditar sobre esta pergunta. Que fiz, que faço, que farei por Jesus? Que bom se conseguirmos confiar no Pai que Ele confiava, crer no amor que Ele acreditava, defender a vida como Ele defendia. Jesus marcou a história da humanidade, trouxe mais humanismo, mais sentido, mais esperança. Deixemo-nos surpreender sempre de novo por Jesus de Nazaré e teremos mais razões para lutar pela justiça, para usar de compaixão com os fracos e viver com alegria. A quaresma quer nos mobilizar e entusiasmar por Jesus Cristo, despertar o desejo de segui-lo porque Ele mesmo é a melhor notícia a melhor pessoa, a melhor estrada. Ele é a verdade, caminho e vida, ontem, hoje e sempre. Dom Orlando Brandes é arcebispo de Londrina.

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