26 de dez. de 2009

ENTREVISTA DE DOMINGO: Padre Reinaldo Kuchla


A ENTREVISTA DE DOMINGO desta edição, a última do ano é com o padre Reinaldo Kuchla. Uma emocionante entrevista com o filho do seo Antonio (in memorian) e da dona Ida Kuchla. Roncadorense de nascimento, ele conta um pouco da sua história e principalmente, da sua luta e da vitória pela vida.
Padre Reinaldo, graças a Deus, está se recuperando muito bem do grave acidente automobilístico que sofreu este ano. Contrariando as previsões dos médicos que diziam ser muito díficil voltar a andar, com três meses pós-acidente ele já estava em pé e com seis meses voltou a celebrar.
Viva! Glória a Deus.
“Gosto de viver o presente e ajudar a comunidade onde estou a crescer e a reconstruir suas vidas através das palavras de Deus”, disse o determinado, disciplinado, prático e racional padre Reinaldo, que tem uma fé e um coração grandioso, e segue feliz a sua missão de evangelizar e fazer tudo em nome de Deus.
Perguntado se é um milagre de Deus, ele responde: Eu acho que sou sim um milagre de Deus, que me colocou em pé e me ressuscitou várias vezes. Não sei se é Deus que é mais teimoso ou sou eu que sou mais teimoso que Deus.”
Boa Leitura, ótima ENTREVISTA DE DOMINGO, excelente final de semana e um maravilhoso 2010.
QUEM É REINALDO KUCHLA?
Sou filho de Antonio (in memorian) e Ida Kuchla, nasci na localidade Rio Bonito, em Roncador-PR (foto, vista aérea da cidade).
Na minha família éramos em dez irmãos, sendo sete mulheres com nomes começando com a letra “I” (Irene e Ilma - já falecidas-, Ivanete, Ida, Isabel, Inês e Ivone) e três homens, sou o mais novo deles, com a letra “R” (Renato, Renê e Reinaldo). Eu e a Irene éramos gêmeos, mas ela faleceu com cinco meses de idade. Na foto, a família do padre Reinaldo
ONDE E COMO FOI SUA INFÂNCIA? Morei no sítio em Rio Bonito até os nove anos quando vim morar em Campo Mourão. A minha infância era muito gostosa, perto da natureza, gostava de jogar betes, caçar passarinho, tomar banho no rio, brincar de esconde-esconde. Pena que não volta mais. Quando tinha 11 anos, já morando em Campo Mourão, tive uma apendicite, fiquei em coma por mais de um mês e sarei, mas seis meses depois tive uma artrite reumatóide que me deixou acamado por quase cinco anos, até os 16 anos. Daí voltei a andar e continuei meus estudos, fiz o supletivo do segundo grau no Colégio Afirmativo.
ONDE O SENHOR ESTUDOU E QUE CURSOS FEZ? Estudei o primário, o primeiro e o segundo grau em Campo Mourão. Estudei catequese e com 10 anos fiz a minha Primeira Comunhão (foto), depois estudei Filosofia e Teologia
no Seminário de Jundiaí e na Faculdade em São Paulo, durante sete anos.
CONTE-NOS COMO FOI O SEU INÍCIO NA IGREJA? Eu ia diariamente à missa na Catedral e sentava no primeiro banco, o padre na época (Padre Jorge Wostal) percebia aquele jovem todo santo dia na missa. Um dia ele me chamou e disse que queria conversar comigo. Levei um susto porque tinha muito medo de falar em público com autoridade, professor, tanto que na escola preferia ficar sem nota a ir à frente e ter que fazer apresentação, porque tremia de medo. Então fui à Sacristia da Catedral e o padre me convidou para ser Sacristão. Eu disse: padre eu não sei o que é isso? E ele me disse: não tem problema, vou ensiná-lo. Então, aceitei e a minha vida mudou. Passei a ser sacristão no final de semana fazendo as coisas que a função pede como abrir a igreja, acender velas, etc. E diariamente trabalhava na Secretaria da Catedral. Vejam só, eu que tinha um medo danado de falar em público fui escolhido por Deus para estar e falar no meio do povo.
As fotos do padre Jorge foram extraídas da capa do livro de Agnaldo feitosa em homenagem ao hoje Monsenhor Jorge Wostal com o título "Vida Missionária - 40º aniversário de Sacerdócio"
E COMO SURGIU A SUA VOCAÇÃO SACERDOTAL?
O Dom Virgílio era o Bispo Diocesano e trouxe para a Catedral o movimento do Catecumenato. Eu era do grupo de jovens da Mocam – Mocidade Católica Mourãoense (na foto com a camisa amarela da Mocam)- e ficava curioso para saber o que era o Catecumenato. Numa celebração especial alguém perguntou quem gostaria de seguir o vocacionado e eu fiquei em pé, pois queria ser padre. Foi ali que senti o chamado de Deus. O Dom Virgílio me levou de carro até Campo Limpo Paulista (SP) para participar de um Encontro de Vocacionados durante três dias. Antes de vir embora, dormi no Seminário de Jundiaí (SP). Voltei decidido, terminei o segundo grau fazendo supletivo no Colégio Afirmativo e aos 23 anos conversei com Dom Virgílio dizendo que queria entrar no Seminário e ser padre.
E COMO FOI A SUA ENTRADA NO SEMINÁRIO? Na época (1986) os seminaristas estudavam Filosofia em Maringá, mas até hoje não sei porque eles não me aceitaram lá. Então pedi a Dom Virgílio para estudar no Seminário de Jundiaí (SP). Ele escreveu uma carta em setembro de 1986 ao Reitor de lá pedindo minha inscrição e fiquei esperando a resposta durante alguns meses, que veio em janeiro de 1987. Lembro bem que em fevereiro de 1987 o padre Jorge me levou no fusquinha que ele andavam , saímos às cinco horas da manhã e chegamos a Jundiaí às oito da noite. Eu nunca tinha saído de Campo Mourão, chegamos lá à noite e na manhã seguinte o padre Jorge voltou embora e eu fiquei.
Na foto, Dom Virgílio em evento com a presença do então governador do Paraná, José Richa e o prefeito José Pochapski, de Campo Mourão.
QUE FATO ACONTECEU NO SEMINÁRIO ANTES DO SENHOR SE FORMAR QUE MUDOU A SUA VIDA?
Em 1992, um ano antes de terminar os estudos e me formar, estava subindo as escadas e cai de costas no chão. Fraturei três vértebras e fiquei tetraplégico, não sentia os braços e nem as pernas. Foi muito difícil, voltei para casa da minha família em Campo Mourão e com fisioterapia intensa fui recuperando os movimentos dos braços e das pernas, e a andar. Em 1993, voltei para Jundiaí para concluir os estudos e fui surpreendido com uma crise de artrite. Quase morri, tinha muita dor, muita febre e o corpo todo inchado. Em maio daquele ano estava com osteoporose, fui submetido a uma cirurgia de prótese do quadril. Graças a Deus contei com o apoio e a solidariedade dos amigos que me carregavam de um lado para o outro. Nesse ano o Dom Virgílio me ordenou Diácono.
E DEPOIS, O QUE ACONTECEU? Os meus problemas de saúde não acabaram, mas tinha uma vontade muito grande de ser padre. Em 1994, estava acometido de uma grave crise de reumatismo, estava numa situação de “morre, num morre, situação gravíssima”. O Dom Virgílio vendo as minhas dificuldades estava em dúvida se me ordenava ou não padre. Então ele me disse: “Como você já é Diácono e quer morrer como padre então eu vou te ordenar”. Foi uma Loucura, ele tinha certeza que eu ia morrer. Os padres me ajudaram, foram muito solidários comigo em todos os momentos da minha celebração sacerdotal que aconteceu no dia 10 de dezembro de 1994.
APÓS A ORDENAÇÃO COMO FOI SUA CAMINHADA SACERDOTAL? Eu andava de muletas, usava colete no pescoço, então Dom Virgílio em 1995 me designou como Diretor Espiritual do Seminário São José, onde fiquei por um ano. Como nesse ano o padre Ademar Oliveira Lins – atualmente Pároco da Catedral São José- era Pároco da Igreja Nossa Senhora do Caravágio, no Lar Paraná, e precisava de alguém para ajudá-lo, fui auxiliá-lo nas missas de final de semana. Na foto histórica, os padres Ademar e Reinaldo.
Na metade de 1995 tirei o colete, andava de muletas, mas podia dirigir. E daí, com a saída de um padre em Farol, o Bispo me chamou para trabalhar lá. Pelo meu estado físico senti muita rejeição por parte de muitos que freqüentava a Igreja e me chamavam de “aleijado”. E me perguntava: “Como é que pode haver esta rejeição do próprio povo da Igreja?”
Fiquei três meses lá, fui conquistando o povo e a Igreja foi "enchendo", tanto que tive que aumentar uma missa a mais.
E DE FAROL, O SENHOR VEIO PARA A PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA NA VILA URUPÊS? Sim, com a saída do padre Marcelino, assumi a paróquia Nossa Senhora Aparecida em 17 de fevereiro de 1996, deixando a função de Diretor Espiritual no Seminário São José, e também deixei de usar muletas e passei a conviver com bengala. Fiquei na Paróquia durante 11 anos, muitas conquistas e transformações aconteceram nesse período - veja fotos da construção do santuário ao final da entrevista-. Tinha como meta a elevação da Paróquia à categoria de Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida e também solicitei na época a construção do calçadão.

Dom Mauro em uma de suas celebrações no Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, na Vila Urupês, em Campo Mourão-PR, tendo o padre Reinaldo como um dos co-celebrantes.
Festa da Padroeira: como choveu, o jeito foi montar as mesas do Bolo dentro da Igreja, em uma das primeiras celebrações alusivas a Padroeira Nossa Aparecida na Vila Urupês.
Fico feliz em ver que esses sonhos foram transformados em realidade e que o Santuário vai indo muito bem com grande participação dos fiéis na devoção à Nossa Senhora Aparecida. Como o meu ciclo havia chegado ao fim, em dezembro de 2006 encerrei meus trabalhos no Santuário e em fevereiro de 2007 assumi a Paróquia do Santa Cruz – que anteriormente pertencia a Paróquia Santa Rita de Cássia, do Jardim Alvorada.
PADRE REINALDO, O SENHOR VIVEU RECENTEMENTE OUTRO MOMENTO MUITO DIFÍCIL NA SUA VIDA. QUAL FOI? No dia 15 de junho eu me envolvi em um grave acidente automobilístico ali perto do Posto J e do Tio Patinhas, na saída para Iretama. Fiquei vários dias na UTI, sofri uma cirurgia que durou vários horas. Lembram do acidente que contei quando cai da escada e estava prestes a me formar Padre? Pois é, nesse acidente fraturei as mesmas vértebras e novamente fiquei tetraplégico. As previsões eram de que se eu voltasse a andar não voltaria em menos de dois anos. E um médico me falou que, pela lesão da medula, eu ficaria tetraplégico pelo resto da vida. E como Deus age e é misericordioso, três meses depois já estava em pé e seis meses depois já estou celebrando missas, que era o que mais queria.
POR TUDO ISSO QUE ACONTECEU, O SENHOR SE CONSIDERA UM MILAGRE DE DEUS? Eu acho que sou sim um milagre de Deus, que me colocou em pé e me ressuscitou várias vezes. Não sei se é Deus que é mais teimoso ou se sou eu que sou mais teimoso que Deus! – Neste momento da entrevista, padre Reinaldo se lembra da sua frase escolhida para sua ordenação que foi “Tudo Posso naquele que me fortalece”.
VIVENDO TUDO ISSO, COMO O SENHOR SE DEFINE? Sou uma pessoa determinada e de fé, porque ia espontaneamente às missas todos os dias de manhã na Catedral São José em Campo Mourão, sem os meus pais pedirem. Desde cedo senti o chamado de Deus.
QUAL O SEU ESPORTE PREFERIDO E TIME DO CORAÇÃO? Não ligo muito para futebol, gosto de assistir jogo do Brasil na Copa do Mundo.
QUAL PROJETO GOSTARIA DE REALIZAR QUE AINDA NÃO FOI?Gosto de viver o presente e ajudar a comunidade onde estou a crescer e a reconstruir suas vidas através das palavras de Deus.
QUAL CELEBRAÇÃO NÃO SAI DA SUA MEMÓRIA? Duas, a minha Primeira Comunhão e a minha ordenação sacerdotal.
Padre Reinaldo celebrando com o Bispo Dom Virgílio e o padre Ademar Lins
ÉTICA EM UMA FRASE É...
Ética é ser justo.
SER CRISTÃO EM UMA FRASE: Ser cristão é viver a experiência e fazer a vontade de Deus, amando a Deus e ao próximo.
Homenagem da comunidade em uma das celebrações
O MOMENTO ATUAL DA SUA VIDA É.. de superação, e o fato de estar em pé é uma vitória de Deus.
Padre Reinaldo recebe a visita do amigo Geraldo dos Santos, momentos antes de conceder esta entrevista para o BLOG. Padre Reinaldo tem um grande número de amigos. OS POLÍTICOS SÃO... na grande maioria são corruptos, poucos pensam no próximo, no povo. Há muito desvio de verba em todos os Poderes.
CAMPO MOURÃO É... Uma cidade bonita para se viver, mas ainda falta muita coisa para melhorar as condições de vida das pessoas.
QUAL PERGUNTA NÃO FIZ QUE GOSTARIA DE TER RESPONDIDO? Nenhuma, penso que todas foram feitas.
COMO SE SENTE HOMENAGEADO NESTE BLOG? É uma grande honra, sinceramente não esperava receber este chamado nesta minha fase de recuperação. Penso que, com este convite, fecho 2009 com chave de ouro.
QUAL O RECADO DO SENHOR AOS FIÉIS E LEITORES DO BLOG? As pessoas do mundo consumista e capitalista não podem esquecer de fazer a experiência de Deus na sua vida e na sua história para superar seus desafios, provações e serem felizes. As pessoas precisam amar mais, pois Um sentimento de amor, por menor que seja, derruba uma montanha de ódio” e "Cada um de nós deve escrever com a própria vida a história de um filho de Deus.".
Abaixo algumas imagens da construção do Santuário Diocesano Nossa Senhora Aparecida na Vila Urupês, em Campo Mourão- PR.
Nota do BLOG: Obrigado Padre Reinaldo, o Senhor merece esta modesta homenagem. Tem uma história linda de vida, de luta e de vitória com o firme propósito da evangelização e da construção do reino de Deus.

9 comentários:

  1. Parabéns Ilivaldo por mostrar aqui no seu blog o valor de pessoas que lutam por dias mais justos. Com certeza Pe. Reinaldo é uma pessoa lutadora em todos os sentidos, pela sua vida e as dos seus irmãos. Que em 2010 possa continuar com esse trabalho maravilhoso. Feliz 2010!

    Renata

    ResponderExcluir
  2. Padre Reinaldo é um "gigante da fé"! Aprendo muito com seu testemunho de vida. Muitas pessoas perdem a fé por pouca coisa. Tenho acompanhado a tragetória de vida do Pe. Reinaldo, muito antes de sua ordenação sacerdotal. É uma verdadeira lição de vida. Recordo, neste momento, do dia da sua ordenação... Que Deus continue lhe dando força!

    Agnaldo Feitoza

    ResponderExcluir
  3. padre Reinaldo realmente o senhor é o milagre vivo de Deus, e sua missão ainda não acabou, vc é o exemplo pra todos nós, de luta, amor, dedicação e perseverança, fiquei extremamente emocionada com sua história de vida e lição de amor. que Deus continue a estender sua mão e dando sempre o que precisar, parabéns pela luta, parabéns pela vida.

    ResponderExcluir
  4. Parabéns Ilivaldo.
    Mais uma entrevista emocionante.
    A história de vida do Padre Reinaldo é uma grande lição de fé. Que Deus continue abençoando vocês (Ilivaldo e Pe. Reinaldo) em suas caminhadas semeando o bem.

    ResponderExcluir
  5. É prazeroso e emocionante conhecer histórias de vida como a do Pe Reinaldo, Já o conhecia, mas não conhecia sua história e minha admiração por ele sempre aumenta. Parabéns pela iniciativa Ilivaldo. Adriano L. Souza-idéia comunicação

    ResponderExcluir
  6. Paz e bem caro irmao.
    Achei muito legal blog e a homenagem ao Padre Reinaldo. Minha mae (Carmen de Fatima Dutra) cresceu em Campo Mourao e foi participnte durante muuuuuuuuuuuuiiiitos anos da MOCAM.Ela sempre me conta com grande entusiasmo os feitos do grupo. Por coincidencia ela conheceu o Padre Reinaldo.
    Gotaria de pedir um grande favor: se possivel me passar o email do Padre para que ela possa entrar em contato com seu velho conhecido.
    Grande abraço fraterno!

    ResponderExcluir
  7. Caro irmão agradeço vc ter respondido, contudo não consegui abrir nos meus recados ;´(
    vc poderia reenviar, ou mandar no meu email
    dutrapinheiro@gmail.com

    muito obrigada desde já, e desculpa pelo incomodo.

    p.s. o grupo MOCAM existe?

    ResponderExcluir
  8. parabens ILIVALDO ! Não o conheço,pois sou de Curitiba . Sou parente do Pe Reinaldo que também não conheço pessoalmente e no entanto fiquei conhecendo sua historia ,pelo seu BLOG. Foi emocionante . obrigada. Lucia T. Kuchla

    ResponderExcluir
  9. Parabens nao ha palavras so para se ver o Poder de DEUS e muito grande

    ResponderExcluir