30 de jan. de 2010

COLUNA DE NERY THOMÉ: Até quando temos culpa


O mês de janeiro abalou os brasileiros já nos seus primeiros dias, quando desastres causados pelas chuvas mataram dezenas de pessoas e desabrigaram outras tantas numa das regiões litorâneas mais bonitas do Brasil, Angra dos Reis. Ainda hoje, vemos com tristeza a história de pessoas cuja enxurrada levou não apenas as casas, mas todas as esperanças e, muitas vezes, os entes mais queridos.
Na capital paulista, as inundações causadas pelas chuvas são tão comuns que até parece notícia velha, mas é impossível não se compadecer com as imagens de pessoas utilizando botes em lugares onde antes havia ruas, tirando lama e entulho de suas casas e chorando perdas materiais e humanas.
As inundações e desmoronamentos causados pelas águas das chuvas são muito comuns no mês de janeiro, tipicamente um período em que se chove muito. No entanto, cada vez mais cidades e milhares de pessoas são vítimas de problemas que nos surpreendem e nos fazem pensar de quem é a culpa.
Especialistas insistem em dizer que o crescimento desordenado das cidades, utilizando regiões de vale e de nascentes de rios, são um dos motivos que tornam cada vez mais comuns desgraças que assolam diversas cidades brasileiras. Outros alertam também para um problema antigo, mas muito presente: o acúmulo de lixo nas ruas.
Pesquisas realizadas aqui e ali apontam que, todos os dias, nas principais cidades do país, são recolhidas toneladas de lixo depositado nas ruas (e não estamos falando daqueles retirados das lixeiras). Salvador, por exemplo, no final de um dia, teve mais de uma tonelada de lixo coletado do que fora jogado nas ruas. O título de campeã da limpeza foi Curitiba, com 33 quilos de lixo.
Culpados e motivos para tanta sujeira em nossas ruas não faltam. Alguns dizem que não existem lixeiras em número suficiente espalhadas pelos principais pontos do centro das cidades. Outros, afirmam categoricamente que o que falta é a educação do brasileiro, em saber que o papel jogado inocentemente na próxima esquina irá se juntar com tudo o que é jogado diariamente, entupindo bocas de lobo e impedindo o escoamento rápido e eficaz das águas das chuvas.
O mau costume de jogar lixo e entulhos nas ruas provoca ainda o assoreamento dos rios, ou seja, a sujeira se acumula nas bordas e no fundo dos mesmos, deixando-os rasos e estreitos, fazendo com que transbordem com facilidade.
É claro que o excesso de impermeabilização dos solos é um dos motivos principais para que assistamos, todos os anos, as mesmas matérias falando sobre os efeitos das enchentes nas cidades brasileiras, mas nós também temos nossa parcela de culpa, primeiro em não evitar a prática de jogar lixo nas ruas e, depois, em não cobrar de nossas autoridades e instalação de lixeiras nos principais pontos.
A iniciativa privada já faz e pode fazer ainda mais pela limpeza de nossas ruas, instalando, em frente aos estabelecimentos, lixeiras, de preferência aquelas que promovam a separação de lixo reciclável.
Nas escolas, campanhas incentivando a prática do uso de sacolinhas de lixo em carros e a conscientização para a importância de se manter as ruas limpas, devem e precisam ser incentivadas, porque a educação começa pelas nossas crianças que, certamente, irão cobrar dos adultos uma atitude mais responsável.
Não basta apenas culparmos este ou aquele órgão ou administração pública pelos resultados das enchentes que nos assustam e tantos prejuízos causam. Nós também temos que fazer a nossa parte, pois se afinal se ainda em nossa Campo Mourão os problemas verificados até agora não foram tão intensos, não devemos esquecer os casos de Barbosa Ferraz e Nova Tebas cujos prejuízos foram enormes. Prevenir sai muito mais barato que remediar.

Nery José Thomé e engenheiro agrônomo e jornalista em Campo Mourão.

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