Em “A Ética dos Pais”, um dos tratados do Talmude da Babilônia, existe um curioso conceito de riqueza, proposto pelo sábio Ben Zomá. “Quem é rico?”, pergunta ele. “Aquele que se alegra com o seu quinhão”, responde. Eis um ponto de vista, pelo menos curioso, estabelecido há mais de dois mil anos. Parece simples. Mas todos sabemos quão difícil é se alegrar com a própria porção, e igualmente encontrar alguém que consiga isto.
Se buscarmos luz entre os discursos da sabedoria do povo de Israel, encontraremos alguém que disse: "Aquele que tem cem, deseja duzentos. E o que tem duzentos, quer quatrocentos”.
Outro erudito teria pronunciado: “Todo homem vai embora deste mundo sem ter alcançado sequer um terço daquilo que almejou possuir”.
É tentadora a comparação entre os ditos destes rabinos. Ao fazê-lo, fica a impressão nítida de haver uma certa contradição entre eles, vez que a metade de quatrocentos é duzentos, e a de duzentos é cem. Qual a razão daquele sábio ter dito que “Todo homem vai embora deste mundo sem ter alcançado sequer um terço daquilo que almejou possuir”?
Na verdade, não há controvérsia alguma aí. Para entender as duas propostas é preciso lançar vistas à pura essência do comportamento humano no que concerne a dinheiro e bens.
O real sentido de "quem tem cem, deseja duzentos, etc...” é o seguinte: aquele que conseguiu cem, almeja “outros duzentos”, e não apenas mais cem. Consiste em juntar duzentos aos primeiros cem que ele já conseguiu. O resultado final seria trezentos. Quanto representa cem sobre trezentos? Um terço. E assim será sucessivamente com qualquer quantia.
Se este indivíduo que conseguiu cem partisse deste mundo agora, ele teria obtido a metade de duzentos, é claro. Mas ele não queria duzentos. O seu propósito em vida era cem mais duzentos, ou trezentos.
O que explica este comportamento?
Conseguir cem requer esforço, estratégia, desenvolvimento, competência e experiência. Tendo alcançado cem, este homem não mais deseja percorrer o mesmo caminho. Por isso, ele buscará um novo desafio, isto é, duzentos. Ele ainda não sabe qual força demandará para a conquista de duzentos. O seu novo estímulo se resume nisto.
É natural ao homem investir sua luta na busca de metas ainda não conquistadas. Assim é um homem comum. E também assim são as pessoas que conduzem suas vidas por este pensamento dia após dia, ano após ano, até a morte. Daí a imensa dificuldade - quase impossibilidade - de se alegrar com o próprio quinhão.
Podemos concluir, portanto que a riqueza segundo a ótica de Ben Zomá nada tem de natural e comum. Não se aplica ao homem natural e comum, mas ao sobrenatural e incomum – àquele que se refina na alma, que se eleva em seus sentimentos e subjuga os seus desejos. Este se alegrará com o seu quinhão.
E daí? O que diz? Você é rico?
Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473
Se buscarmos luz entre os discursos da sabedoria do povo de Israel, encontraremos alguém que disse: "Aquele que tem cem, deseja duzentos. E o que tem duzentos, quer quatrocentos”.
Outro erudito teria pronunciado: “Todo homem vai embora deste mundo sem ter alcançado sequer um terço daquilo que almejou possuir”.
É tentadora a comparação entre os ditos destes rabinos. Ao fazê-lo, fica a impressão nítida de haver uma certa contradição entre eles, vez que a metade de quatrocentos é duzentos, e a de duzentos é cem. Qual a razão daquele sábio ter dito que “Todo homem vai embora deste mundo sem ter alcançado sequer um terço daquilo que almejou possuir”?
Na verdade, não há controvérsia alguma aí. Para entender as duas propostas é preciso lançar vistas à pura essência do comportamento humano no que concerne a dinheiro e bens.
O real sentido de "quem tem cem, deseja duzentos, etc...” é o seguinte: aquele que conseguiu cem, almeja “outros duzentos”, e não apenas mais cem. Consiste em juntar duzentos aos primeiros cem que ele já conseguiu. O resultado final seria trezentos. Quanto representa cem sobre trezentos? Um terço. E assim será sucessivamente com qualquer quantia.
Se este indivíduo que conseguiu cem partisse deste mundo agora, ele teria obtido a metade de duzentos, é claro. Mas ele não queria duzentos. O seu propósito em vida era cem mais duzentos, ou trezentos.
O que explica este comportamento?
Conseguir cem requer esforço, estratégia, desenvolvimento, competência e experiência. Tendo alcançado cem, este homem não mais deseja percorrer o mesmo caminho. Por isso, ele buscará um novo desafio, isto é, duzentos. Ele ainda não sabe qual força demandará para a conquista de duzentos. O seu novo estímulo se resume nisto.
É natural ao homem investir sua luta na busca de metas ainda não conquistadas. Assim é um homem comum. E também assim são as pessoas que conduzem suas vidas por este pensamento dia após dia, ano após ano, até a morte. Daí a imensa dificuldade - quase impossibilidade - de se alegrar com o próprio quinhão.
Podemos concluir, portanto que a riqueza segundo a ótica de Ben Zomá nada tem de natural e comum. Não se aplica ao homem natural e comum, mas ao sobrenatural e incomum – àquele que se refina na alma, que se eleva em seus sentimentos e subjuga os seus desejos. Este se alegrará com o seu quinhão.
E daí? O que diz? Você é rico?
Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473
Nenhum comentário:
Postar um comentário