17 de ago. de 2010

COLUNA DO MACIEL: Dos Buarques, o Cristovan


“Leituras! Leituras!
Como quem diz: Navios... Sair pelo mundo voando na capa vermelha de Júlio Verne.
Mas por que me deram para livro escolar a Cultura dos Campos de Assis Brasil?
O mundo é só fosfatos – lotes de 25 hectares - soja – fumo – alfafa – batata-doce – mandioca –
postos de cria – pastos de engorda.
Se algum dia eu for rei, baixarei um decreto condenando este Assis a Ler a sua obra.
Iniciação Literária – Carlos Drummond de Andrade
Existem heranças culturais familiares que são tão evidentes
que dispensam apresentações e explicações. Heranças que vão além do que foi recebido, se ampliaram como conquista. Sempre que perguntado, Chico Buarque de Holanda menciona ter nascido e criado num ambiente cercado de muitos livros e de pessoas cultas. A casa dele era referência como reunião de intelectuais recebidos fraternalmente pelo pai de Chico, o historiador e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e do irmão do Sérgio, o Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), também crítico literário e lexicógrafo, autor do dicionário mais conhecido dos brasileiros, o Aurélio.
Uma vida rodeada de livros é, ao mesmo tempo, uma força (inequívoca!) de expressão e um substancial fato a permearem o senador (PDT) pelo Distrito Federal Cristovam Buarque, primo do Chico. Segundo a jornalista Fernanda Torres na coluna que assina no Jornal Folha de São Paulo (edição do dia 1º deste mês) ela informa que Cristovam declarou à Receita que o bem mais precioso dele é “uma biblioteca no valor de R$ 400 mil”. A jornalista relembra a luta político-parlamentar de Cristovam por uma educação de qualidade e acessível a todos e descreve um pouco da pessoa que é o professor Buarque, “a figura gentil, sensível e delicada do senador Cristovam Buarque é tão tocante quanto a de um Dom Quixote, de Cervantes. Um solitário cavaleiro visionário em meio ao violento jogo de interesses do Planalto Central”.
Eu, a contemplar a minha modesta biblioteca, sem fazer ideia quanto ele vale, lembro do seguinte: afirma-se que pelo menos 23 milhões de brasileiros não lêem por serem analfabetos ou devido à absoluta falta de interesse. Se um desses 23 milhões herdasse a biblioteca do Cristovam certamente ficaria imensamente feliz, desde que pudesse vendê-la imediatamente. Entretanto, caso a herança recebida obrigasse o mesmo brasileiro a ter que cuidar e não se desfazer da biblioteca, se tornaria para ele um imenso castigo, sem dúvida.
Fases de Fazer Frases (I)
No devaneio ela veio sem aviso, diva do divã diviso.
Fases de Fazer Frases (II)
Livros não pagam conta alguma, mais ainda da cara ignorância que graça.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Um dos mais talentosos radialistas mourãoenses, Ely Rodrigues sabe relacionar fatos com rapidez, inteligência e ironia aguçada. Ao entrevistar o dirigente do Sport C. Mourão Luiz Carlos Khel, que enumerou as enormes dificuldades financeiras da equipe, quando foi citado o corte da luz por causa da falta de pagamento, “sabe, Ely, mesmo sem pagar, a luz foi ligada...” afirmou Khel, “como assim?”, indagou Ely, “foi uma auto-religação, quando alguém vai lá e restabelece a luz...”, novamente Ely, “sem pagar?”. Então Khel respondeu, “depois será pago...”. E Ely pergunta: “o senhor não é eletricista?” Khel responde: “eu já fui, mas faz tempo que não trabalho mais...”. É bom lembrar, Ely fez apenas a pergunta, dentro do contexto, ainda que sem o texto, inteligentemente.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
No último dia primeiro mencionei aqui o fato de uma lâmpada ficar ligada o dia inteiro à toa na parte externa aos banheiros do Parque do Lago. Alguém leu e deve ter resolvido o problema, a lâmpada não está mais ligada sem necessidade. Quanto à entrada do Parque espera-se que o piso com tijolos quebrados, arrancados e desfarelando, sejam logo substituídos.
Reminiscências em Preto e Branco
A falta de memória na política é tão antiga quanto atual. Dia desses, em Engenheiro Beltrão, o cidadão gesticulava e falava com a voz alta, protestando, “os políticos se elegem e se esquecem do que prometeram para o povo!”. Uma outra pessoa que a tudo escutava (assim como eu) prevendo ou não qual seria a resposta, pergunta ao crítico: “em quem o senhor votou nas últimas eleições?” Nessas alturas dos acontecimentos, o silêncio e a expectativa eram enormes, irrompidos tão logo veio a resposta: “não me lembro!”
Coluna de José Eugênio Maciel, professor, sociólogo, advogado e menbro da Academia Mourãoense de Letras, publicada no jornal Tribuna do Interior, edição de 15/08/2010.

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