Embora a chuva tenha dado uma trégua nesta semana (e com muito calor!), o resultado dos últimos dias chuvosos de janeiro para os paranaenses foi desastroso, a ponto de afetar mais de quatro mil pessoas, deixando desabrigados cerca de mil e cem paranaenses, sem contar os desalojados (que estão em casa de amigos ou parentes), além de alguns mortos e feridos.
No artigo do último sábado, já debatemos os efeitos das chuvas em excesso para as cidades e como nós, cidadãos, podemos fazer nossa parte para evitar o entupimento de bueiros e o assoreamento de rios, algumas das causas para as enchentes que têm assolado vários municípios brasileiros, entre os quais, alguns paranaenses.
Mas a chuva é um motivo ainda maior de apreensão para o produtor rural, pois, quando em excesso, pode causar prejuízo em diversas etapas das culturas típicas desta época do ano. Como se não bastasse olhar para o céu e rezar para que as chuvas cessem no momento certo, os moradores das áreas rurais passam por dificuldades diversas resultantes do mau tempo e da falta de infraestrutura básica como pontes em boas condições de uso e estradas rurais trafegáveis.
Certamente as chuvas são um grande fator de risco para a safra de grãos, pois podem aumentar a incidência da ferrugem na soja, por exemplo, além de retardar a colheita e causar prejuízos à produtividade. Com as estradas nas péssimas condições que conhecemos, como por exemplo, nas regiões das cidades de Mato Rico e Campina do Simão, o resultado é o aumento do custo do frete e maiores riscos para o produtor rural.
Há que se lembrar ainda das centenas de crianças que residem nas zonas rurais de nossos municípios, as quais, para frequentar a escola, dependem de um transporte escolar de qualidade e de estradas com condições de levá-las em segurança à esperada sala de aula. Com a proximidade do início das aulas, esperamos que o tempo não seja mais um empecilho que impeça nossas crianças de receberem uma educação de qualidade.
Outros transtornos parecem simples, mas que igualmente se transformam em problemas para os moradores, como a simples possibilidade de ir e vir, seja para ir a um médico, ou para o transporte de insumos, mercadorias, etc.
Infelizmente, nossas autoridades só lembram das promessas de melhorias nas estradas rurais, pontes e limpeza dos rios quando dias e dias de chuvas nos levam a constatar que, quando a força da natureza se revela, o homem se torna frágil e dependente.
O mês de janeiro foi um dos mais chuvosos dos últimos 30 anos, o que irá, certamente se refletir em nossa economia, tão dependente do setor de agronegócio. O atraso nas colheitas, o maior tempo de secagem necessário para diminuir a umidade dos grãos e as estradas rurais intrafegáveis são apenas um dos lados da moeda que nos fazem refletir mais e mais o quanto somos impotentes quando a natureza reage após tantas agressões.
No entanto, há diversas atitudes que podem e devem ser tomadas por nossas autoridades, como o estabelecimento de preços mínimos de garantia para o produtor rural; investimento em infraestrutura nas áreas rurais de nossos municípios, como estradas rurais e pontes; conscientização sobre a importância da preservação das matas ciliares; entre outras propostas que juntas podem tornar menos amargos os efeitos da chuva que, quando na medida certa, é o bálsamo que a terra aguarda, mas, quando em excesso, se converte em temor por nosso futuro e por nossas vidas.
Nery Thomé é engenheiro agrônomo em Campo Mourão e presidente da Associação dos Jornais Diários do Brasil (ADI-BR)
Nenhum comentário:
Postar um comentário