3 de fev. de 2010

COLUNA DO MACIEL: Qual é a maior lição do professor?


PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda Brilha, por alta vive.
PARA SER GRANDE – Fernando Pessoa
A agitação nas livrarias e papelarias para a compra do material escolar, toda a movimentação é uma mostra antecipada do ano letivo prestes a ter o seu início. Juntando-se aos funcionários que mantiveram as escolas abertas para matrículas e transferências, chegarão agora os professores. É hora da preparação e planejamento das ações que hão de trilhar o curso do ensinar. É o momento de receber os estudantes. É, enfim, a hora do encontro, as amizades já feitas reassumem o seu relevo da convivência de outrora, assim como o ineditismo de novos encontros, o contato com o novo celebrado das pessoas que passarão a se conhecer.
Como é comum, uniformes de todas as cores e a algazarra marcante típicos da chegada ou saída das escolas, compõem novamente o cenário da cidade, a volta às aulas é o próprio colorido e o pulsar da vida. Série, turmas, estabelecimentos de ensino, grupos sociais, congraçamento coletivo, ímpeto individual, enfim projetos do ser que quer ser.
À entrada ou à saída de cada escola, é como se pais deixassem ou viessem apanhar seus filhos, é assim no gatinhar das primeiras lições, agora numa sala ante a alguém que terá o mister de ensinar. Na proporção que crescerão os filhos, os pais, embora sempre presentes, vão tendo – desejando ou não – que soltar as mãos dos seus filhos, que principiam o andar sem se segurarem nas mãos daqueles que os geraram. Como se soltarão das mãos dos professores a trilharem por si mesmos a trajetória da vida.
Um professor pode ser efetivamente marcante na vida de um estudante? O que de melhor ensina um professor de Biologia, Educação Física, Filosofia, Geografia, História, Línguas, Matemática, Sociologia...?
Seja qual for a disciplina, a maior lição a ser ensinada pelo professor são os exemplos. Tais lições não se circunscrevem ao conteúdo cabal e específico das ciências que manejam. A maior lição é a de vida, não num nível essencialmente pessoal do professor em si mesmo, mas o contexto em que ele se insere a partir do que ele já foi e é, e a transformação constante que engendra coerentemente com um aspecto primordial do conhecimento, a sua evolução – do conhecimento como do professor em cada processo e ação pedagógicos.
Ensinar é preparar-se sempre para aprender, tanto antes quanto depois. O verdadeiro professor é também aquele que sabe e que ainda que saiba muito, carece de aprender, um aprender que também provém daqueles que estão diante dele, os estudantes. É quando ambos são sujeitos ante ao saber, um saber que deve ser o objeto e ambos nunca prontos, acabados e indiscutíveis, mas um saber através do qual, atingido o seu patamar, novos impulsos poderão levá-los a novas (re)descobertas.
Arrisco a dizer que uma das maiores satisfações que o professor tem é a de ser saudado por um ex-aluno, que o aponta ou o apresenta a outrem, dizendo: “este foi o meu professor (a)”, com ênfase, orgulho, admiração e saudade até.
Em novembro de 2008, ao receber um dos mais importantes prêmios concedidos aos escritores brasileiros (Prêmio Jabuti), Ignácio Loyola Brandão fez questão de agradecer às duas professoras primárias que teve na cidade natal dele, Araraquara (SP). Elas, que estão vivas, receberam novamente o enaltecimento de gratidão de um dos mais talentosos escritores do País, disse Loyola, “ao lerem atentamente meus primeiros escritos, me incentivaram ternamente, um impulso que jamais me esquecerei por ter sido decisivo para eu me tornar escritor”. Não foi a primeira vez que Loyola expressa o grande afeto às professoras que teve, tão digno de ser lembrado agora, nessa volta às aulas.
A todos os professores cabe-lhes não esperar reconhecimento, embora, como todo e qualquer ser humano, o reconhecimento de algum modo represente estímulo e segurança a todos no sentido de seguir melhor e mais confiante na sua trajetória.
Reflexo dos muitos estágios que experimenta na sala de aula, o próprio estudante, sem de todo (ou nada?) não percebe nitidamente aqueles momentos, só irá compreendê-los quão poderá ter sido a contribuição do professor na vida do estudante apenas quando não mais estiverem juntos no cotidiano escolar.
Pois, afinal, o estudante já terá se soltado das mãos do professor que o fez também caminhar rumo ao conhecimento, cuja confiança o estudante já passará a ter, mesmo quando imaginara que as mãos do professor ainda seguravam-lhes, embora não mais, momento final que segue a vida por seus próprios passos, e somente aí, se depara com a importância do que e com quem aprendeu.
Fases de Fazer Frases
O servo serve o cervo. O cervo sorve o dado pelo servo. A cerva observa a ambos o que lhes servem. E tudo serve ao servo e aos cervos. É como serventia. É como se ver se tinha.
Olhos, Vistos do Cotidiano
- Olha aí, aproveite que chegou o professor Maciel e tirem esta dúvida.
- Que dúvida? – Eu pergunto.
- Se esta palavra aqui é com “s” ou com “z”?
Respondo: - Azar se escreve com “z”.
- Não falei – afirma outra pessoa, olhando-me assim como os que tinham dúvidas.
Ao pagar o café que tomara no bar em Barbosa Ferraz, aproveito para afirmar: - Mas tem com “s”.
- Como assim? – Em coro me perguntam.
- Asar com “s” significa colocar asas. Aqui, por sorte, ninguém usa.
Reminiscências em Preto e Branco
Antigamente o televisor não tinha controle, remoto. Hoje é remoto o controle da televisão. José Eugênio Maciel escreve aos domingos no jornal Tribuna do Interior. Maciel é sociólogo, advogado, escritor, professor e membro da Academia Mourãoense de Letras.

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