27 de fev. de 2010

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: Fevereiro chega ao fim.... O mundo não


Apesar de tantos acontecimentos catástrofes, as previsões de que o mundo terminaria em fevereiro não se concretizaram. Mas a natureza nos envia muitos motivos para refletir, aprender e descobrir nossos limites como no terremoto no Haiti: um apocalipse real, provocado por forças muito além do nosso controle. Mesmo que a ciência possa explicar as causas dos terremotos, das erupções vulcânicas, das enchentes, vendavais, permanece incapaz de prever quando irão ocorrer. Saber a localização das falhas geológicas onde os terremotos ocorrem claramente não é suficiente. A Terra é um planeta ativo, borbulhando em suas entranhas, com uma crosta formada de placas que tendem a mudar de posição em busca de um maior equilíbrio quando a pressão subterrânea aumenta, sem dar a menor importância para a destruição que causam.

Cataclismos naturais, como o do Haiti ou o tsunami de 2004 no oceano Índico, que causou em torno de 230 mil mortes, expõe a crua realidade da vida na Terra: precisamos da natureza, mas a natureza não precisa de nós. No nosso desespero e sem poder prever quando cataclismos dessa natureza irão ocorrer, colocamos a culpa em Deus. Um exemplo é do pastor americano Pat Robertson, que atribuiu o terremoto a uma punição divina contra o povo haitiano, que supostamente assinara um pacto com o diabo para conseguir obter sua independência dos franceses. Ou como Chávez que culpou os norte americanos….
Mais que achar culpados, as tragédias têm muito a nos ensinar: a ciência tem limites, e que existe muito sobre o mundo que ainda não sabemos. Mas temos que ouvir seus avisos e aprender que a vida é extremamente frágil e deve ser protegida a todo custo. Nosso planeta, apesar de demonstrar fúria ocasionalmente, é nossa única morada viável. Devemos tratá-lo com o respeito que merece.

Aprender que a Natureza é sofrimento e morte. Sua harmonia exige violência. Seu "ciclo da vida" é realmente um ciclo de mortalidade. E as sociedades humanas que chegaram o mais perto possível da ordem natural não são os brilhantes Paraísos de Pandora. Elas são lugares onde a existência tende a ser sórdida, animalesca e curta. As religiões existem, em parte, exatamente porque os humanos não se sentem confortáveis em meio a esses ritmos cruéis. Permanecemos metade dentro do mundo natural e metade fora dele. Somos animais com autoconsciência, predadores com ética, criaturas mortais que anseiam por imortalidade.

Nestes tempos apocalípticos de tantas previsões sombrias sobre o futuro da humanidade, marcando inclusive data para o fim do mundo, vale a pena refletir com Cecília Meireles sobre a vida e a única certeza que temos que nós teremos um fim, em fevereiro, ou noutro mês qualquer…

“(...) O mundo vai acabar, e certamente saberemos qual era o seu verdadeiro sentido. Se valeu a pena que uns trabalhassem tanto e outros tão pouco. Por que fomos tão sinceros ou tão hipócritas, tão falsos e tão leais. Por que pensamos tanto em nós mesmos ou só nos outros. Por que fizemos voto de pobreza ou assaltamos os cofres públicos - além dos particulares. Por que mentimos tanto, com palavras tão judiciosas. Tudo isso saberemos e muito mais do que cabe enumerar numa crônica. Se o fim do mundo for mesmo em fevereiro, convém pensarmos desde já se utilizamos este dom de viver da maneira mais digna. Em muitos pontos da terra há pessoas, neste momento, pedindo a Deus - dono de todos os mundos - que trate com benignidade as criaturas que se preparam para encerrar a sua carreira mortal. Há mesmo alguns místicos - se gundo leio - que, na Índia, lançam flores ao fogo, num rito de adoração.

Enquanto isso, os planetas assumem os lugares que lhes competem, na ordem do universo, neste universo de enigmas a que estamos ligados e no qual por vezes nos arrogamos posições que não temos - insignificantes que somos na tremenda grandiosidade total. Ainda há uns dias a reflexão e o arrependimento: por que não os utilizaremos? Se o fim do mundo não for em fevereiro, todos teremos fim, em qualquer mês..." do livro "Quatro Vozes", Distribuidora Record de Serviços de Imprensa - Rio de Janeiro, 1998, pág. 73.
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br

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