Com estas palavras o papa foi
saudado na pobre, simples, humilde, esquecida e desconhecida comunidade de
Varginha, em Manguinhos, conhecida como a faixa de Gaza da região, pacificada há
um ano apenas. Construída em cima de um antigo lixão aterrado até hoje só
aparecia nas colunas policiais com as notícias dos conflitos armados, das
enchentes. Desde que foi escolhida para ser visitada, a pedido do papa, passou
a ser lembrada pelo poder público, recebendo asfalto, luz, coleta de lixo,
limpeza nas ruas, pelo menos naquelas onde o papa passaria... Mas recebeu
muitos mais que benefícios-direitos materiais. ”Deus se fez presente nesta
comunidade” “Fomos visitados pelo doce Cristo na terra” disse o jovem que o
saudou.
E o papa retribuiu todo carinho
recebido: “Que bom estar aqui com vocês” Falou que o seu desejo era “bater em
cada porta da casa de cada brasileiro, dizer bom dia, receber um copo de água
fresca, pedir um cafezinho, falar como um amigo, ouvir o coração de cada um...
Mas o Brasil é tão grande e não é possível bater a todas as portas...”.
Mas, com o seu sorriso meigo, ele
está batendo no coração de cada um dos que tem cumprimentado acenado, nas
famílias de cada criança que tem beijado carinhosamente. Com suas palavras
simples e fortes tem batido no coração e na consciência de quem o ouve. Nem a
chuva, nem o frio tem espantado, desanimado os milhares de jovens que estão em
todo Rio, em todos os lugares por onde passa o pastor com cheiro do seu
rebanho.
Estou encantada com o Papa
Francisco, com o bispo de Roma, desde a sua primeira aparição no balcão do
Vaticano como seu carinhoso “Buona sera”, o seu humilde convite à oração, o seu
permanente e incisivo pedido “Rezem por mim, não se esqueçam, eu
necessito...”.E o encanto só cresce na medida em que acompanho seus passos,
suas palavras, sua vida desde então. Tenho lido, assistido tudo que posso sobre
suas ações nestes quatro meses de papado.
Ao vê-lo embarcar carregando sua
própria valise, dispensando todas as mordomias e facilidades do cargo, imaginei
como seria sua presença aqui no Brasil. Na chegada entristeceu-me os primeiros
cumprimentos serem para os políticos ali enfileirados para as fotos, esquecidos
de seu passado não tão distante... Entristeceu-me as palavras da presidenta
falando dos feitos de seu partido, surda aos gritos das ruas que ainda ecoam em
cada brasileiro... Mas o papa que cumpriu as obrigações protocolares de um
chefe de estado não foi o mesmo que encontramos nas ruas, ao lado do povo, para
delírio deste e desespero dos seguranças. E é este papa-povo que nos encanta
cada vez mais.
Ainda nem começou sua
participação oficial na Jornada Mundial da Juventude, mas por onde ele passou
já deixou muitas marcas de Fé, Esperança, Alegria. Em Aparecida pediu para
“Conservar a esperança, Deixar Deus te surpreender e viver Feliz". Com os jovens
em recuperação da dependência repetiu o pedido: “Não deixem que lhe tirem a
esperança”.
Na comunidade de Varginha repetiu: “Vocês,
queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas
muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que,
em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para
vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança,
não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode
mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem
ao mal, mas a vencê-lo”. (...) “Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com
vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as
intenções que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias,
os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de
tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora
Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo
a minha Bênção.”
Que Deus o proteja, abençoe, ilumine seus
passos pai Francisco. Que seu pedido feito aos jovens conterrâneos argentinos
se realize e a alegria que enche o Rio nesta JMJ transborde para as ruas do
mundo todo.
Maria Joana Titton Calderari –
membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização
Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário