22 de mai. de 2022

'DUAS COMENDAS, À VIDA E A LIBERDADE", por Arleto Rocha, nos 20 anos da Academia Mourãoense de Letras

"Aos 20 anos dá-se entrada na maioridade, a qual se completa no ano seguinte, de forma plena aos 21.  Uma entidade não é uma “Pessoa”, embora jurídica seja, mas é efetivada “por pessoas”: viceja pensamentos, planos, ações, contradições, alegrias e por que não? —, às vezes, tristezas, porque  ela é viva e também padece as situações sociais e econômicas vivenciadas coletivamente.

E nesses 20 anos de existência a Academia Mourãoense de Letras cumpriu e cumpre o que seu estatuto expressa:  por diversas formas, preservando, cultivando e divulgando a Língua Portuguesa, nos seus aspectos científicos, históricos e artísticos, finalidades que norteiam a Vida literária e cultural da entidade. Nas relações internas e com a sociedade, proclama a Liberdade e a igualdade como princípios contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, dedicando-se a projetos ou causas que possam contribuir com a democratização da cultura.

Desta feita, pergunta-se: por que a “Comenda Vida e Liberdade”? Como a pessoa é agraciada com tal honraria?

Explicamos: a “Comenda Vida e Liberdade da Academia Mourãoense de Letras” foi criada para  homenagear pessoas as quais empregaram a própria vida e a própria liberdade para transformar, pela cultura, e que, por sua atuação, são exemplos que dignificam a cultura, tanto de Campo Mourão, como dos municípios vizinhos.

Assim, a trajetória das homenageadas Sinclair Pozza Casemiro e Regina Menin Gaertner, nas áreas de ensino, de pesquisa e de extensão, por não possuírem fronteiras geográficas, por alcançarem gerações de pessoas e se disseminarem, justificam hoje o recebimento desta Comenda.

Embora sejam estudiosas dos livros e das teorias, não permaneceram apenas no mundo das ideias: identificaram problemáticas na realidade objetiva e nela atuaram para transformá-la, assim como Yves Lacoste,  inspiraram-se  no princípio marxiano, de que “não basta explicar o mundo, temos que transformá-lo".

Elas, cada uma a sua maneira e conforme suas possibilidades, transformaram o ambiente a sua volta, implementando ações e projetos, sempre pensando no coletivo, como no Poema Contranarciso de Paulo Leminski:

em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

Valeram-se da ciência, ferramenta esta poderosa de transformação, ajuste e soluções do mundo. Lançaram-se à investigação científica, balizadas pela cultura sistematizada em seus sentidos artístico e antropológico, sem se esquecerem, contudo, dos costumes, das pessoas, da sociedade. Sabemos por meio dos estudos sócio-históricos que, o ser humano, desde a sua origem primitiva, ao transformar a natureza, cria a cultura e, dessa forma, recria e transforma a si mesmo, humaniza-se no processo.

E hoje estão aqui, nos 20 anos da Academia Mourãoense de Letras, recebendo a honraria máxima desta entidade. Duas Professoras. Duas mulheres, duas transformadoras de mundo que propiciaram estas  transformações, não somente locais e sim nacionais, internacionais, incluindo a relações de poder:  

Regina, do 1973 que aqui chegou e professora, destacou-se em suas ações. Como gestora da Cultura de Campo Mourão iniciou os trabalhos de construção o palco maior de nossa cultura: o Teatro de Campo Mourão. 

Sinclair mescla-se com a história da Academia Mourãoense de Letras, a qual, 20 anos atrás, foi importantíssima para a criação, construção e consolidação da Instituição. Lutou pela criação da nossa Universidade em Campo Mourão, significou e ressignificou os Caminhos de Peabiru pelo Necapecam.

Duas fazedoras, agora, Comendadoras, quais neste momento recebem da Academia Mourãoense de Letras esta homenagem pelos méritos de vida.

Sinclair disse certa vez, em entrevista ao Jornalista Ilivaldo, membro desta Academia, que se preocupava com o modelo das Academias, por poderem serem uma faca de dois gumes, ou de muitos, mas limitando-se as vezes a dois, ou com duas faces, podendo ser fechadas demais, afastando pessoas e a comunidade. 

Nossa Academia Mourãoense de Letras, jovem e exuberante nos seus 20 anos, como o Troféu José Moser,  publicações de livros, a nova sede, a instituição da própria comenda e continuou a funcionar, mesmo durante a pandemia de Covid 19, a qual ceifou tantas vidas. Realizou inúmeras lives de lançamentos de livros, promoveu o II Concurso de Poesias e I Prêmio Internacional de Poesias, Rubens Luiz Sartori, o qual obteve mais de 1500 inscrições, nacionais e internacionais, intensificou a relação com o público externo por meio da divulgação da arte e da escrita nas redes sociais.

Neste ano de 2022, realizou oficinas literárias nas escolas, bate-papos com autores, participou como parceira no lançamento de livros de acadêmicos, lançou duas publicações de autoria de dois patronos: Padre Poletto, contribuindo para a pesquisa etimológica da língua portuguesa, ligando-a ao latim e ao hebraico; e Nelson Bitencourt do Prado, que permite compreender a historiografia da mesorregião de Campo Mourão. Além desses, lançará ainda neste ano o livro com as Poesias Classificadas no I e do II Concurso de Poesias, há publicações semanais dos acadêmicos no Facebook e Instagram da academia e pretende-se ainda, no ano em curso lançar a Revista da Academia Mourãoense de Letras, com publicações semestrais dos seus acadêmicos

E hoje, espelhando-se na trajetória destas duas mulheres, Regina e Sinclair, empoderamos com o feminino o lema  da Academia Mourãoense de Letras: a Vida e Liberdade!" - 

Discurso de Arleto Rocha, na noite de 21 de maio de 2022, na saudação as homenageadas, por ocasião da entrega da Comenda Vida e Liberdade, nos 20 anos da Academia Mourãoense de Letras.

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