"O jovem é o nosso presente. Tem que trabalhar com esse público já, dar atividades, integrá-lo à cooperativa. Temos jovens preparadíssimos e que aguardam, apenas, uma oportunidade". Esta frase é do cooperativista que honrou como poucos a camisa deste movimento fantástico ao longo de dezenas de anos vestindo as camisas das cooperativas Cotia e Integrada, em Londrina.
Ajimura faleceu neste 17 de maio aos 74 anos. Descanse em paz meu amigo. Força e condolências a sua família. O cooperativismo perde um grande defensor e guerreiro.
Conheci o Ajimura como assessor de Cooperativismo e em muitos encontros vi a sua alegria, idealismo e determinação para disseminar esta filosofia de vida para milhares de pessoas. Ele foi o precursor dos encontros de jovens Cooperativistas.
PARANÁ COOPERATIVO
Abaixo, posto um pouco da história de Ajimura publicada na revista Paraná Cooperativo edição 141 de 2016 em reportagem da jornalista Marli Vieira.
"A conversa é com Ademar Ajimura, engenheiro agrônomo, cooperativista, casado com Alice, pai de Kátia e Karina. Este senhor, de voz calma e jeito tranquilo, relata sua história no cooperativismo com a mesma parcimônia de quem descreve uma semana corriqueira de trabalho. Ao lado de companheiros como Ciro Ohara, seu amigo há mais de 30 anos e com quem faz questão de dividir qualquer reconhecimento que Ihe concedam, articulou e coordenou o 1° Encontro Estadual de Jovens Agricultores Cooperativistas do Paraná (EJAP), hoje chamado de Encontro do Jovemcoop.
A história contada por Ajimura envolve pessoas que, em meados dos anos 80 e 90, perceberam a importância do jovem no contexto do cooperativismo e da agricultura, e as dificuldades enfrentadas, principalmente, a falta de valorização no âmbito familiar e as poucas perspectivas de futuro vislumbradas por esse público. Ao abraçar a ideia do EJAP, sugerida pelos próprios jovens, ele plantou a semente de um trabalho que é, reconhecidamente, fundamental para a pereni-dade do sistema cooperativo. "Não temos que ver o jovem como futuro. Ele é o nosso presente. Precisamos trabalhar com ele já", enfatiza.
Assim é Ajimura, uma pessoa de ideias e ações, cujo pensamento está lá adiante. E ele novamente dá provas disso ao defender a tese de que é hora de reinventar o trabalho de organização do quadro so-cial no Paraná. "Por conta de tudo o que já foi feito, chegou o momento de seguimos outra linha. O tra-balho com jovens e mulheres já deu resultados. Hoje esse público está bastante inserido na propriedade e nas ações das cooperativas. Então, penso que não podemos mais fazer ações isoladas para o núcleo feminino e o núcleo jovem. Temos que juntar todo mundo porque hoje está tudo integrado", frisa.
HISTÓRIA DE AJIMURA
"Nasci em São Paulo, numa comunidade chamada Padre Nóbrega, hoje distrito de Marília. Sou o terceiro, de uma linhagem de quatro imãos. Quando tinha 7 anos, minha família mudou-se para a região de Cambé, no norte do Paraná. Meu pai comprou umn sítio, onde cultivávamos café e, mais tarde, soja. Eu estudava na cidade e andava quatro qui-lômetros para ir e outros quatro para voltar, todos os dias. Terminei o ginásio e me mudei para São Paulo. Eu e meu imãos abrimos um supermercado lá. Mas o negócio não deu certo. Voltei para Cambé e me inscrevi no científico. Depois fiz cursinho e, en-tão, vestibular para agronomia numa faculdade em Bandeirantes (PR)."
COOPERATIVISMO
"O Cooperativismo entrou na minha vida desde sempre. Meu pai veio do Japão ainda criança . Mas antes disso conheceu o cooperativismo. Meus avós eram associados de uma cooperativa no Japão. Quando comprou o sítio em Cambé, meu pai precisava de apoio para vender a produção de café e se tomou um dos sócios-fundadores da Cooperativa de Cotia, no Norte do Paraná. Isto foi na década de 70. Mais tarde, associou-se também à Corol, onde entregava soja. Eu acompanhava meu pai em tudo e, assim, fui conhecendo o cooperativismo. Quando passei no vestibular, ganhei uma bolsa de estudo da Corol. E antes mesmo de formado, já estava contratado pela Cooperativa, como técnico agrícola. Entrei em 1972 e me desliguei em 1979, quando fui para a Cotia."
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
"Na época, a Cotia atuava em 10 estados do país e, em alguns deles, como São Paulo, era desenvolvidas ações para a família. Mas era muito oba-oba, festa. Não via futuro nisso. Então, levei à diretoria um proposta focada em cursos técnicos e aperfeiçoamento pessoal.
A ideia foi aceita. A primeira coisa que fizemos foi criar um departamento de jovens e outro de senhoras. Fui transferido para Londrina para coordenar esse trabalho em quatro singulares.
Eu vivia na estrada. Um dia estava em São Joaquim (SC), e no dia seguinte em Dois Irmãos (MT). Montamos um trabalho muito bom e que funcionava. Trouxemos cursos na área de saúde, culinária e cooperativismo, explicando como era a relação do cooperado com a cooperativa. Tinha também viagens técnicas, visitas às cooperativas até de outros estados. Fomos a Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, etc. Isto começou a despertar o interesse dos jovens."
CONGRESSO MUNDIAL e Roberto Rodrigues
"Em 1990, fui convidado pelo então ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, para ajudar na organização do 6° Congresso Mundial de Jovens Agricultores. Este evento acontecia a cada seis anos, e o Brasil seria o país sede. No total, o evento reuniu cerca de 1.500 participantes, representando 102 países. O Brasil participou com cerca de 300 jovens, de norte a sul do país. E do Paraná, levamos um grupo com 12 jovens da Cotia. Ainda em São Paulo, me reuni com eles para fazer uma avaliação da nossa participaçāo no evento. A opinião foi unânime: em termos de aprendizado, foi excelente; de resto, foi um fiasco. Não tínhamos exemplos do Brasil para apresentar ou questões para discutir. Faltava conteúdo. Ficou claro que o jovem brasileiro não estava preparado para falar sobre a agricultura.
Quando retornamos, aconteceu o Seminário de Jovens Agricultores da CAC- (Cooperativa Agrícola de Cotia - Cooperativa Central) e novamente o assunto foi debatido. A conclusão é que os jovens de outros países, principalmente da Europa e Estados Unidos, estavam mais avançados, unidos e bem preparados, eram de fato empresários rurais, sabiam fazer gestão da sua propriedade, tinham seu objetivo de trabalho bem traçado. "
ENCONTRO ESTADUAL
"No Brasil, era uma vergonha. A partir disso surgiu a ideia de criar um grupo de jovens, em âmbito estadual, envolvendo todas as cooperativas, para discutir questões relacionadas à agricultura e à inserção do jovem. E disso surgiu a proposta de um encontro estadual. Ou seja, a ideia de organizar os jovens e de fazer o EJAP surgiu dos próprios jovens. Achei a ideia boa. Conversei com a direção da Cotia e depois com a Emater. E na sequência fui para Curitiba, conversar com a Ocepar. Fui recebido pelo José Roberto Ricken, que hoje é o presidente. Ele gostou da proposta e foi falar com o presidente na época, o Ignácio Aloisio Donel. Montamos uma comissão organizadora, composta por representantes da Ocepar, Emater, Cotia e outras cooperativas. O Ricken não participou diretamente, mas foi ele quem abriu as portas para que a gente pudesse se reunir e conversar. Montamos o esboço do que seria o evento. Assim, saiu o 1° EJAP. "
Descanse em paz meu amigo Ademar Ajimura.
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