No dia 17 de junho, o Supremo Tribunal Federal, num julgamento histórico, pôs fim à exigência de diploma para exercício da profissão de jornalista.
Para muitos brasileiros, a notícia passou despercebida ou ignorada. Certamente, os que prestaram atenção foram os jornalistas (por motivos óbvios), pessoas que trabalham na área, estudantes de comunicação social e, certamente, aqueles que já foram, de uma maneira ou outra, envolvidos em alguma manchete de TV ou de jornal.
Todos os dias são muitas notícias de pessoas que são julgadas publicamente, através do apoio da mídia, e veem suas vidas destruídas por veículos de comunicação e profissionais irresponsáveis que só têm o interesse de vender manchetes, sem se preocupar com a veracidade desta ou daquela notícia e com as consequências.
Agora pergunto a você, caro leitor, qual será o futuro, sob tal perspectiva, quando avaliarmos o fato de que, para exercer o jornalismo, não será mais necessário o diploma de jornalista. Se, mesmo passando pelos bancos acadêmicos, onde o estudante de comunicação social aprendeu, através de diversas disciplinas, temas como ética, legislação e responsabilidade da profissão, erros graves ainda se perpetuam pelo Brasil, o que acontecerá quando a carreira é passará a ser seguida por quem não se preparou para isso?
Não estou aqui discutindo a qualidade profissional dos chamados provisionados, aqueles que, após anos de dedicação à área, conseguiram o registro de jornalistas junto ao Ministério do Trabalho, exercendo de forma legal sua profissão. Tais pessoas realizaram e realizam um trabalho marcado pelo profissionalismo e capacidade que apenas a prática nos permite e merecem todo o apreço da área. Estou, na verdade, me referindo àqueles que irão aproveitar a deixa para utilizar o nome da profissão para interesses escusos, protegendo grupos de interesse e desacreditando ainda mais o ofício.
A pergunta que fica é: a quem interessa jornalistas despreparados academicamente e profissionalmente? Àqueles que já sentiram o que o chamado quarto poder tem feito na nossa sociedade democrática de direito, ou seja, levar à opinião pública barbaridades como as que estão acontecendo no Congresso Nacional, por exemplo. Profissionais despreparados significam salários de fome e possibilidades ainda maiores de corrupção, afinal, na hora de colocar comida na mesa, infelizmente, a honestidade pesa pouco na balança de muitos.
O jornalista trabalha com informações e pessoas e não é somente a morte que acaba com a vida de alguém. Apenas quem sentou num banco de uma universidade é que apreende a importância e o poder de profissão de jornalistas.
Para avaliar o alcance da decisão dos Ministros do STF, que, exceto pelo voto do Ministro Marco Aurélio de Mello, parecem desconhecer completamente a área ao tomar tal medida, basta se perguntar: você entraria no consultório de um médico ou de um dentista que não tem diploma para exercer o seu ofício?
Nery José Thomé é engenheiro agrônomo e jornalista, e escreve aos sábados no jornal Tribuna do Interior e neste BLOG.
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