“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora, Você? Você que é sem nome, zomba dos outros, Você que faz versos...” Carlos Drummond de Andrade
Ando com saudades dos tempos em que o Partido dos trabalhadores era oposição, tinha ideologia de esquerda, proclamava-se o defensor incondicional da ética, vestia camiseta do Che, gritava “Fora FMI”, pedia CPI de tudo, chamava o presidente de ladrão, os políticos de “picaretas com anel de doutor”, denunciava as negociações, as propinas(agora mensalão), o tráfico de influência, o lobby, os conchavos dos políticos, defendia o povo, dizia que a Receita Federal devia sair do pé dos pequenos e correr atrás do imposto sonegado pelos grandes, era o partido dos “trabalhadores”, se sustentava nos que defendiam a “democracia social” (ou o totalitarismo???).
A reação de Lula e do PT às sucessivas denúncias mostra que vivemos num tempo novo em que a ideologia saiu de moda e o que interessa são as conveniências. Para o PT, o patrocínio incondicional da ética tornou-se fora de moda. O chique agora é a defesa da “governabilidade”, é abusar de sua popularidade e dar sustentação aos clientelistas, patrimonialistas e mandonistas do PMDB, é culpar a imprensa, é chamar a oposição de “pizzailos”, é abraçar e defender os antigos inimigos – Sarney, Collor, Renan e admitir que foram injustos com eles e que eles merecem tratamento especial, afinal, são eles pessoas “especiais” que agora dão “sustentação” do governo e confundir o público com o privado usando o poder como quintal de sua casa é crime “pequeno”, não estão roubando do povo brasileiro, nem matando nossas esperanças...
Mais chique ainda é emprestar dinheiro ao FMI, e viajar pelo mundo com a família, de jatinho presidencial (às custas dos contribuintes), andar com roupas de griffe, fumar charuto cubano, comer boas comidas e beber bons vinhos. Está fora de moda mesmo comer frango com a mão, beber cachaça, fumar cigarro. Afinal agora ele é “o cara” reconhecido no mundo! E o mais importante: Agora tem o Sarney e PMDB na mão! Custam caro ao país retribuir tanta troca de “favores”! O Brasil deve ser muito rico mesmo pois, desde a tomada de posse portuguesa o dinheiro do povo tem escoado pelos esgotos da ética da malandragem. Em Brasília vale a cultura do privilégio, o negócio aqui é levar vantagem sempre. E o presidente diz que tem que olhar o tamanho do crime...
Já em fevereiro, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) profetizara: “O Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão”. Decorridos cinco meses, o senador dissidente do PMDB acha que a realidade ultrapassou as suas previsões: “As coisas que afloraram são mais espantosas do que eu imaginava”, Jarbas acha que José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), mandachuvas de seu partido, estão “debochando do Senado e do país”. E faz uma nova previsão, que esperamos se concretize logo: “A presidência de Sarney não chega ao final”.
A crise é muito grave. Nem nas duas semanas de recesso parlamentar as denúncias de novos escândalos pararam. As gravações das conversas pela PF da família Sarney ajeitando emprego até para namorado da neta através dos atos secretos é um deboche para todos nós eleitores que elejamos nossos representantes para fazerem leis e as CUMPRIREM, para defenderem os interesses do POVO BRASILEIRO e não os de sua família. Realmente a profecia se cumpriu e o Senado se tornou um grande Maranhão!!!
Mas o povo brasileiro não é formado só de afilhados maranhenses pobres e ignorantes que ficam esperando as migalhas do poderoso chefão político do estado com maior número de analfabetos do pais. O azedume e descrédito dos que pensam e acreditam neste país está se acentuando. É muito deboche e esse deboche esta exasperando, atiçando os ânimos dos brasileiros e deixando mais desacreditada ainda a classe dos políticos. Eles debocham do Senado e, por consequência, do país. Parece que passamos do deboche para o achincalhe, como se eles quisessem pagar para ver. Estão esquecendo que a crise exerce efeitos sobre todos os senadores, mesmo os que não têm responsabilidade nenhuma. A aversão ao Senado e à classe política é transferida para todos e dois terços do Senado (54 senadores) estão na ante-sala da eleição. O desgaste pode não grudar em Lula, mas cola no PT e nos senadores governistas que defendem Sarney. O receio de todo mundo é o de que o eleitor decida não votar nos atuais detentores de mandato. Já existe uma grande indignação popular. E a IMPRENSA, como sempre, tem cumprido seu papel, sendo mais contundente do que qualquer partido ou parlamentar, em defesa da VERDADE, da DEMOCRACIA, das INSTITUIÇÕES, do POVO!!!
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mouraõense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC- majocalderari@yahoo.com.br
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