“Democracia
neste país é relativa, mas a corrupção é absoluta” Paulo Brossard
A
bicentenária cidade de Bagé incluiu, em 1999, o nome de Paulo Brossard de Souza
Pinto entre as pessoas mais importantes de toda a história daquela cidade
gaúcha, onde nasceu em 1924. Certamente ele integra qualquer lista das figuras
mais importantes do Brasil.
Na
travessia longa e tenebrosa do mar revolto, dos sombrios anos da ditadura
pós-64 até aportar em terra firme ensolarada com os ventos da liberdade, Paulo
Brossard foi notável timoneiro. Sem
esmorecer ante os percalços, manteve inabalável a convicção de um novo Brasil.
Pouquíssimas
pessoas ocuparam cargos de maior relevância nos três poderes do Brasil, com
singular eficiência e integridade, administrativa e moral respectivamente.
Começou antes de ter 30 anos, eleito deputado estadual em 1954, reeleito duas
vezes sucessivas para a Assembleia. Em 1966 se torna deputado federal pelo MDB,
já se destacando como liderança política sul riograndense. Ele sintetiza a sua
condição, “independência de ação política e parlamentar, sem chefes nem
soldados”.
No
Senado – mandato de 1975 a 1983, o Brasil passou a conhecer o tribuno dos
discursos a descortinarem o momento histórico nacional, do poder tomado a força
por militares que não exitavam em banir, exilar, prender os que ousassem deles
discordar. Brossard não se curvava. Cada pronunciamento, declaração, cada
encontro político eram circunstâncias para a defesa da liberdade e de um novo
ordenamento jurídico. Era respeitado, temido ou admirável.
Apreciador
da oratória magnifica, eu parava para ouvi-lo. O brilho da palavra, conteúdo
revelador ou da reafirmação do político eloquente, o professor, mestre do
Direito. A vocação política mereceu uma importante carta de apoio e declaração
do voto para senador, do saudoso e grande escritor Erico eríssimo.
Na
medida que a embarcação navegava, a travessia da acracia para a democracia,
Brossard deu contribuições notáveis. Sem almejar cargos ou posições por vaidades
e do poder pelo poder, antes de tudo eram para ele missões, encargos. Assim foi
ministro da justiça em 1986. O sólido saber jurídico o guindou ao Supremo
Tribunal Federal. Em 1993 presidiu o Tribunal Superior Eleitoral, comandando o
plebiscito de 1993, sobre o sistema e forma de governo.
Aos
90 anos, morto na semana passada em Porto Alegre onde morava, ao lado da
esposa, filhos e netos, o Brasil recebe dele o legado de um homem público
íntegro, cultura política e jurídica, cátedra do pensador que tinha trinta mil
livros, além daqueles que escreveu. A verve da tribuna, a fala nas em
entrevistas atraiam para a atenção de muita gente, o uso correto do
vocabulário, a peculiaridade do sotaque gaúcho. Era visível a elegância no
trajar, sempre de terno, gravata, paletó e o inseparável chapéu, se não estava
na cabeça, era segurado pelas mãos ou no colo, sem perder a classe de um
destinto senhor. Tangentes aos discursos ou dos escritos, Brossard disse:
“gosto mais de ser interpretado do que de me explicar”.
Fases de Fazer Frases (I)
Confiar
é se fiar. Com fio se fia.
Fases de Fazer Frases (II)
O que guardamos só o tempo dirá se tem valor. Sem
guardar nem o tempo vale.
Olhos, Vistos do Cotidiano
É bobo o debate quanto ao número de participantes desta ou daquela manifestação como se
fosse o mais relevante. Números não batem, batem nos números.
Reminiscências em Preto e
Branco
Conhecia
todos os bares e bebidas em Campo Mourão e na região, viajava muito. Pode o
caro leitor supor tratar-se de um bebedor, mas não. Refiro-me-a um senhor que
não aparentava a idade que tinha. Trabalhador incansável, companheiro das horas
sem horas, tais como na convivência com o dono de um distribuidor de bebidas Antartica,
o saudoso Isolino Sartor. Eles percorreram estradas vicinais, se não era pó,
lama, obrigando a posar no caminhão.
Se
não fossem as aventuras, enrascadas, ele não teria tanta história para contar
com riquezas de detalhes e a sensação que tudo ocorreu ontem. A cor
negra, praticamente sem ruga, a afeição pelo sorriso franco e largo, com dentes
de marfim, características marcantes. A voz grave e empostada de um locutor a
narrar causos, piadas, ensinanças de uma vida. Nome de batismo Trajano
Fernandes, 71 anos, muito conhecido (ou apenas) pelo apelido: “Nego Adão”. 11
de abril foi o último aceno.
José Eugênio Maciel, colunista do jornal Tribuna do Interior, mourãoense, professor, sociólogo, advogado, membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.
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