Esses dias frios, quando nos recolhemos no calor gostoso de nossas casas, todos os sentidos parecem funcionar melhor, ficam mais aguçados. Assim sentimos mais o frio e dos deliciamos com um escasso raio de sol que aquece e ilumina os dias de inverno, ou o cheirinho gostoso do café quentinho, das comidas que nos aquecem o corpo e a alma. Também a visão parece que se alarga diante do por do sol avermelhado como o que vimos nesta segunda feira, anunciando que o sol voltará no dia seguinte, mesmo que acompanhado de mais frio, mas um frio ensolarado, depois de tanta chuva, umidade. Os sentidos afloram com tal intensidade junto com as memórias que até saí de casa, para ver se o frio era o mesmo de minha infância, aquele frio gelado que doía no rosto, nas mãos e anunciava nova geada para a manhã seguinte... Não, não era o mesmo frio. Amanhã, se gear, vai ser pouco, só nas baixadas, diz a minha previsão de tempo caseira...
Nas minhas memórias térmicas, o sol avermelhado, num céu limpo, sem nuvens sem cerração e um vento frrrrriiiiio de cortar era com certeza o sinal de que a geada seria inevitável. Então nos preparávamos para ela. Os panos, as cortinas velhas guardadas para esse fim eram usadas para cobrir as verduras, as flores mais sensíveis. O que podia ser recolhido era guardado dentro de casa, no porão, especialmente o que precisava ser salvo, para servir de muda para a primavera. A geada na época apropriada era vista como uma bênção para acabar com as pragas, as doenças na lavoura, para permitir que tudo renascesse com mais saúde na próxima primavera...
E com a certeza do dever cumprido nos recolhíamos apressados, ao calor aconchegante das grandes cozinhas, em volta do fogão à lenha onde sempre havia um café, chá, quentão, leite quentinho, chimarrão, mate doce para nos aquecer. E aquecíamos as mãos geladas, esfregando-as pertinho do fogo, ou virando os pinhões que tostava na chapa quente... E os pés eram colocados pertinho do fogo, até dentro do forno para aquecer... O lugar mais disputado era a caixote de guardar a lenha, tipo banquinho, nos convidando mesmo a nos encolher, nos achegar no calor dos mais velhos, todos juntos no lugar mais quentinho da casa: a cozinha.
Talvez venha daí as minhas memórias olfativas culinárias, aguçadas neste tempo de frio. Como não havia televisão, internet, telefone e todas as modernidades de hoje a família ficava reunida em torno das histórias contadas ao redor do fogão, das conversas, da reza do terço, dos trabalhos manuais que rendiam muitos casacos quentinhos de tricô, crochê para toda família.
E depois de uma noite bem dormida, debaixo de grossos e pesados acolchoados de lã de carneiro, acordávamos com o cheirinho de café e polenta “brostolada” na chapa quente do fogão, com o queijo derretido no meio, batata doce assada... E lá íamos rapidinho para o calor da cozinha, onde o fogo estava aceso de novo no fogão, que, às vezes nem tinha esfriado, onde aproveitávamos um pouco mais daquela quentura antes de sair para enfrentar o frio e a geada para ir para a escola. Não me lembro de um dia ter escutado de minha mãe, que não ia para a escola por estar frio, chover, nem mesmo no dia em que nevou, em 1975.
Naquele dia houve aula, mas a alegria era tanta, que não conseguimos prestar atenção ao que os professores queriam ensinar. A euforia era tanta, a neve que caiu a noite estava derretendo e nós presos dentro da sala!!! Num intervalo conseguimos pular a janela e trazer neve para fazer um boneco em cima da mesa dos professores... O castigo foi limpar a sala e vivaaa!!! Nossa regente liberou os alunos para fazer todos os bonecos de neve, as guerras de bolas de neve que conseguimos, antes do degelo... Que alegria! Que saudades daquela turminha boa de quarta série do ginásio que tantas agitações sadias proporcionou ao Colégio Imaculada Conceição. Opa, mas para onde minhas memórias estão me levando...
É a festa do Carneiro no Buraco e queremos falar de comidas que aquecem o corpo e a alma como este imenso tacho que sai do fogo borbulhando, com as maçãs assadinhas, sinal de que o carneiro deve estar derretendo, as verduras saborossísimas, o pirão sem igual... Vamos saboreá-lo neste friozinho, junto a tantos amigos que se reencontram anualmente nesta grande festa! Sejam bem vindos!
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC-majocalderari@yahoo.com.br
Nas minhas memórias térmicas, o sol avermelhado, num céu limpo, sem nuvens sem cerração e um vento frrrrriiiiio de cortar era com certeza o sinal de que a geada seria inevitável. Então nos preparávamos para ela. Os panos, as cortinas velhas guardadas para esse fim eram usadas para cobrir as verduras, as flores mais sensíveis. O que podia ser recolhido era guardado dentro de casa, no porão, especialmente o que precisava ser salvo, para servir de muda para a primavera. A geada na época apropriada era vista como uma bênção para acabar com as pragas, as doenças na lavoura, para permitir que tudo renascesse com mais saúde na próxima primavera...
E com a certeza do dever cumprido nos recolhíamos apressados, ao calor aconchegante das grandes cozinhas, em volta do fogão à lenha onde sempre havia um café, chá, quentão, leite quentinho, chimarrão, mate doce para nos aquecer. E aquecíamos as mãos geladas, esfregando-as pertinho do fogo, ou virando os pinhões que tostava na chapa quente... E os pés eram colocados pertinho do fogo, até dentro do forno para aquecer... O lugar mais disputado era a caixote de guardar a lenha, tipo banquinho, nos convidando mesmo a nos encolher, nos achegar no calor dos mais velhos, todos juntos no lugar mais quentinho da casa: a cozinha.
Talvez venha daí as minhas memórias olfativas culinárias, aguçadas neste tempo de frio. Como não havia televisão, internet, telefone e todas as modernidades de hoje a família ficava reunida em torno das histórias contadas ao redor do fogão, das conversas, da reza do terço, dos trabalhos manuais que rendiam muitos casacos quentinhos de tricô, crochê para toda família.
E depois de uma noite bem dormida, debaixo de grossos e pesados acolchoados de lã de carneiro, acordávamos com o cheirinho de café e polenta “brostolada” na chapa quente do fogão, com o queijo derretido no meio, batata doce assada... E lá íamos rapidinho para o calor da cozinha, onde o fogo estava aceso de novo no fogão, que, às vezes nem tinha esfriado, onde aproveitávamos um pouco mais daquela quentura antes de sair para enfrentar o frio e a geada para ir para a escola. Não me lembro de um dia ter escutado de minha mãe, que não ia para a escola por estar frio, chover, nem mesmo no dia em que nevou, em 1975.
Naquele dia houve aula, mas a alegria era tanta, que não conseguimos prestar atenção ao que os professores queriam ensinar. A euforia era tanta, a neve que caiu a noite estava derretendo e nós presos dentro da sala!!! Num intervalo conseguimos pular a janela e trazer neve para fazer um boneco em cima da mesa dos professores... O castigo foi limpar a sala e vivaaa!!! Nossa regente liberou os alunos para fazer todos os bonecos de neve, as guerras de bolas de neve que conseguimos, antes do degelo... Que alegria! Que saudades daquela turminha boa de quarta série do ginásio que tantas agitações sadias proporcionou ao Colégio Imaculada Conceição. Opa, mas para onde minhas memórias estão me levando...
É a festa do Carneiro no Buraco e queremos falar de comidas que aquecem o corpo e a alma como este imenso tacho que sai do fogo borbulhando, com as maçãs assadinhas, sinal de que o carneiro deve estar derretendo, as verduras saborossísimas, o pirão sem igual... Vamos saboreá-lo neste friozinho, junto a tantos amigos que se reencontram anualmente nesta grande festa! Sejam bem vindos!
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC-majocalderari@yahoo.com.br
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