A QUEDA DA FRONTEIRA DE PEDRA, E DO ÓDIO
Terrível! Esta fronteira de pedra ergue-se... ofende
os que desejam ir para onde lhes aprouver,
não para um túmulo de massa.
Um povo de pensadores.
Volker Braun, 1965
Acordados repentinamente por barulhos estranhos, na medida em que abriam as janelas, os alemães de Berlim se deparavam com numerosos soldados de fardas verde-ruças descarregando material de construção e imediatamente dando início a edificação do muro de Berlim, Berliner Mauer, em germânico. Estarrecidos, os moradores foram obrigados a acreditar no que viam, ainda que considerassem inteiramente absurda aquela obra, iniciada bem cedo, na manhã do dia 13 de agosto de 1961.
Tão abruptamente quanto o erguimento do muro, foi o fato de as pessoas não terem sido avisadas, e o que aconteceria veio a se tornar muito dramático. Famílias foram divididas, os que estavam trabalhando de um lado, por exemplo, mas que tinham casas do outro, ficariam 28 anos sem mais se ver, sequer se comunicarem. Duas Berlins, duas Alemanhas, a Ocidental, capitalista; e Oriental, comunista, dilacerando histórias de vida vitimada pela férrea ambição típica da Guerra Fria.
Dia nove de novembro, próxima segunda, faz vinte anos que o muro caiu, em 1989. A queda foi imensamente comemorada em todo mundo, e logicamente pelos alemães dos dois lados, que iriam recompor a nova e novamente única Berlim, de uma só Alemanha. Em quase três décadas em que o muro ficou em pé, a fuga acarretava em missão totalmente arriscada, 80 pessoas morreram e 112 ficaram feridas em tal tentativa. Caso tenha havido algum sucesso, tal fato certamente isolado, não foi divulgado a fim de arrefecer qualquer ânimo. Nos 66,5 quilômetros de muro existiram 302 torres de observação que comandavam um aparato bélico monstruoso.
O muro parecia eterno. Parecia. Seria intransponível. Seria. Mas o ser humano sonha e ousa colocar em curso a vontade de realizar o que acalenta. E não foi um ou outro alemão, foram muitos que, determinados, derrubaram o muro. Embora a geração que sofreu tamanha crueldade não irá esquecer o muro, ao destruí-lo, deixou uma parte intacta, assim como a criação de um museu, memória preservada numa clara e opulenta advertência que não pode ser mesmo esquecida, pela Alemanha reunificada e pelo mundo.
Fases de Fazer Frases
Virtudes podem ser fingidiças, já os vícios são sempre fungíveis.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Na edição da última semana da Revista Istoé, a matéria de capa intitulada “A Corrupção que ninguém vê” mostra o trabalho de investigação da Controladoria-Geral, que aponta o seguinte: 95% dos municípios brasileiros desviam recursos federais. Preços superfaturados, compras absolutamente desnecessárias ou sequer entregues e por aí vai. Os casos estão espalhados por todo o País. Mas, a propósito, não deixa de chamar a atenção o Maranhão. Lá, tem uma cidade em que a prefeitura pagou a duas empreiteiras a reforma de uma escola, no valor de 83 mil reais. Ocorre que a obra jamais foi realizada. Como se chama o município? Bem, antes de citar o nome, vale lembrar novamente, ela fica no Maranhão. Eis o nome: Presidente Sarney. Sim, é este o nome da cidade. O que se poderia esperar com um nome desses!
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Por falar no presidente Sarney (presidente do Senado atualmente) embora o presidente que dá o nome à cidade se refira ao tempo em que ele assumiu quando o presidente Tancredo morreu antes de tomar posse, Sarney resolveu fechar a fundação que leva o nome dele na capital daquele Estado, o espaço era uma cultuação personificada a ele mesmo, porém bancada com verbas públicas. Se trocarem o nome da bela São Luís do Maranhão para “São Sarney, dono do Maranhão”, não seria de todo estranho.
Reminiscências em Preto e Branco
A queda do muro de Berlim há vinte anos me faz lembrar do tempo em que eu era estudante de Sociologia da então Universidade Católica do Paraná (hoje Pontifícia). Devido ao muro de Berlim ter ido ao chão, Vladmir, Marcos Vinícius, Pienegonda, Ana Maria, Sussumo e eu, tivemos a ideia de recolher pedaços de tijolos de uma construção curitibana e vendê-los como se fossem autênticos pedaços do muro, “trazidos da Alemanha” por um primo da Ana Maria.
Tudo foi bem organizado, compramos saquinhos plásticos e elásticos, embalamos uma quantidade razoável de “pedaços do muro de Berlim”. À entrada da universidade um cartaz improvisado anunciava a venda, além da falação típica de feirante anunciando o produto. Em pouco tempo vendemos tudo! E ficou muita gente interessada em comprar.
Tudo feito pela zombeteira universitária, veio também o medo de, ao descobrirem a farsa, os “pedaços do muro de “Berlim” servissem para quebrar a nossa cara. Arrumamos outro cartaz anunciando bebida e comida de graça para todos os que mostrassem o pedaço do muro lá no bar em frente à Universidade. Então anunciamos ser uma brincadeira. Claro, esperamos que a maioria estivesse bem alegre e nem notasse. Enfim, o muro caiu, felizmente, e nós, do curso de Sociologia, nos mantivemos de pé, felizmente também.
José Eugênio Maciel, professor e sociólogo, escreve aos domingos no jornal Tribuna do Interior e às segundas neste BLOG.
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