BLOG DO ILIVALDO: Birão, como foi a
experiência de ter ido nas Olimpíadas?
BIRÃO RODRIGUES - É lá que você entende o valor que o atleta dá às Olimpíadas. Quando eu via pela televisão, achava estranho um atleta comemorar o
décimo lugar. Estando lá, você entende porque o atleta comemora o décimo lugar como
se fosse a medalha de ouro. É porque ele
esteve lá, é onde todo atleta treina para estar. Você começa a entender que o
“Espírito Olímpico” não é apenas um slogan, é algo que pode unir os povos. Faz
com que refugiados lutem para participar de uma Olimpíada. Você sente que o
esporte é um forte meio de inclusão.
O que foi
bom e melhor? De bom, a cordialidade das pessoas que nos
atendiam, o sorriso no rosto dos voluntários, a limpeza dos lugares e a cerveja
gelada. O contato com outros povos, sem saber o idioma - conversei com
norueguesas, suecas, cazaques e tailandeses.
De melhor? O nível técnico dos jogos, só tem fera.
Não tem nenhuma modalidade que você vai assistir, que não vibre e não se
emocione. Na quebra do recorde da atleta Anita Wlodarczykda, da Polônia, no arremesso de martelo, gritávamos: “Polska, Polska”, na arquibancada, com se
fossemos poloneses. Talvez sejamos um pouco.
A atleta dos Estados Unidos Emma Coburn, que estava
em último na final dos 3.000 metros com obstáculos, quando a torcida dos USA começou a gritar “Go Emma, Go”, nós começamos a gritar junto, o estádio
inteiro gritou e na última volta a Emma começou a acelerar e de último lugar,
conquistou a medalha de bronze, e caiu quase desmaiada após a linha de chegada.
O estádio veio abaixo. A Emma levantou, pegou a bandeira dos Estados Unidos
e deu a volta, aplaudida de pé por todo o estádio.
Os ingressos da ginástica ritmica se esgotaram
um dia antes de começar a competição, modalidade que não tinha nem
atenção da mídia e foi um sucesso. É disso que é feito uma Olimpíada.
O que mais te surpreendeu? A grande quantidade de crianças presentes em todas as
modalidades. A agitação delas e a vontade de conhecer tudo, eram contagiantes.
Era bonito de ver aquele monte de crianças correndo e brincando pelo Parque
Olímpico, sob os olhos cuidadosos dos pais. Nós viámos e comentávamos; “São sementes
olímpicas sendo semeadas”. Se os dirigentes se organizarem um pouco melhor,
teremos um futuro ainda melhor em todos os esportes.
Como estavam
o ambiente e organização? Impecáveis. Com a implantação do BRT (sigla em sem
inglês Bus Rapid Transit – Onibus de Transporte Rápido), você conseguia sair da
sua casa e entrar dentro das Arenas e outros locais de competição com
comodidade e segurança. Com o trabalho dos voluntários, a partir do momento que
você passava pelos dois detectores de metais que tinham nas entradas dos locais
de competição, os voluntários colocavam você sentado na sua cadeira dentro das
Arenas.
Os ambientes eram tão limpos e bem cuidados, que
até cheguei a comentar, que daria para colocar mesa e cadeiras e almoçar dentro
do banheiro.
Realmente dá orgulho ver que o Brasil consegue
fazer bem feito e mostrar para o mundo o nosso valor. Além do calor humano que os
outros povos sentiram do povo brasileiro.
Quais jogos
assistiu e o que mais gostou, impressionou? Foram vários jogos e momentos inesquecíveis. Um desses momentos aconteceu quando meu irmão
comprou ingresso, porque não conseguiu outros, para levantamento de peso
masculino. Todo mundo tirou sarro e disse que não iria, mas como naquele dia
não tinha outra modalidade para assistir, fomos no levantamento de peso no Rio
Centro. Foi sensacional. Já na chegada no local se enturmamos com uns
torcedores da Tailândia - um pessoal fantasiado com roupas típicas-,
vocês devem ter visto eles na televisão. Começamos a gritar “Thailand” em inglês,
foi uma festa.
O momento inesquecível foi em uma prova que tinha um chinês
recordista mundial do levantamento, que entrou em uma "mala do caramba", aí apareceu
o NijatRahimov do Cazaquistão e quebrou o recorde mundial em 4 quilos a mais.
Foi nessa prova que o atleta da Armênia deslocou o braço e saiu seu cotovelo para
fora. Foi uma imagem muito feia que correu o mundo.
Outro jogo inesquecível foi França x Alemanha na
semifinal do Handebol Masculino. A França ganhou por 29 x 28 e faltando 15
segundos, o goleiro da França fez uma defesa sensacional. A torcida do Brasil
começou a gritar “...é o melhor goleiro do Brasil... Zidane!”, porque o goleiro
era parecido com o Zidane, do futebol.
Enfim, em todas as modalidades que você assistia, você se emocionava e torcia, e saía do local se sentindo parte daquele país.
Qual legado o Brasil deixa após os jogos na sua opinião? Para o povo do Rio de Janeiro, um ótimo sistema de
transportes, Arenas que, se transformadas em centros de treinamento revelarão
grandes atletas para o Brasil. Uma Vila Olímpica com apartamentos muito bons em
uma região espetacular. O estádio do Engenhão foi todo reformado e está lindo, e o Boulevard
Olímpico será um grande centro de entretenimento em uma área que antes era mal
vista.
Mas, na minha opinião, o que Brasil deixa aos povos
de todo mundo, é que aqui nós sabemos organizar eventos com perfeição.
Você entende que o orgulho do povo
aumentou e a estima também? Se você visse o brilho nos olhos das pessoas de
outros países quando conversam com você, elogiando os brasileiros pelas Olimpíadas, já te
transforma em uma outra pessoa. O pensamento de pessoas
como eu, será diferente. O pensamento que o Brasil é sim, feito de gente que
sabe fazer as coisas. Que a nossa cultura é igual a de todos os povos com
características que são só nossas.
Quando a delegação da Rússia, que estava assistindo
a final do futebol masculino no mesmo lugar, quis tirar fotos conosco foi de
arrepiar. Eles queriam tirar fotos porque éramos brasileiros e nos
consideram um povo maravilhoso. Como eles diziam “wonderfulpeople”. Eles
queriam registrar, ao lado de brasileiros, a conquista da primeira medalha de
ouro do futebol nas Olimpíadas. Não é para se encher de orgulho.
Birão, você esteve na Copa do Mundo no Brasil o ano passado, qual
o paralelo entre a Copa e as Olimpíadas, ambas no Brasil? Não tenho conhecimento suficiente para discutir se
há paralelos entre um e outro, ou não. Para mim, ambas têm seu valor. Mas se eu
tivesse que escolher entre Olimpíadas e Copa, eu sempre escolheria Olimpíadas.
Nos dois eventos têm exemplos de luta, de garra, de abandonos e de superações,
mas o atleta olímpico é diferente. As modalidades são mais difíceis,
exigem muito mais treinamento. Imagine, por exemplo um atleta de 22 anos
abandonado pela mão e criado pela avó, conseguir ser campeão olímpico, com foi
o Thiago Braz da Silva no salto com vara. O que tem por trás dessa conquista é
uma história inacreditável, que você poderá contar em outro momento.
Nas Olimpíadas não existem vencedores, todos são
campeões.
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