19 de mar. de 2013

COLUNA DO PROFESSOR JOSÉ EUGENIO MACIEL: Saída pelos fundos

Quando a obediência é confundida com a subserviência o risco é elevado, dado ao antagonismo entre elas. A subserviência do Vaticano se fez sentir a partir do momento em que Bento XVI anunciou a renúncia. Sem embargo, aliás fato inesperado, pois a tradição pressupunha,  uma vez papa, sempre papa, até morrer.
O tema, rapidamente sobre ele recaindo a sombra da expectativa, anúncio e início do papado do novo escolhido, na realidade não cairá no esquecimento, será necessário digerir as suas verdadeiras causas, reflexos e lições que se pode tirar dessa renúncia.
As explicações oficiais ou paralelas são de desencontros ou de imprecisões. A começar se Bento renunciou efetivamente por vontade própria, unilateralmente. Não convence a alegação dele que está velho e cansado, hoje com 85 anos e à época da escolha tinha 78. A renúncia pode ser um gesto de desprendimento? Ela pode ser também uma forma de protesto? Renuncia-se pelas contingências, quando no poder o renunciado vê-se sem poder, e deixar o cargo é apenas uma questão de tempo, em geral curto, sair antes que seja defenestrado.
A Igreja Católica tem realmente o poder! E o Vaticano simboliza este arcabouço que transcende sobejamente o âmbito da fé. É natural concluir o enorme poder que o papa representa, poder que não pode ser somente institucional, pois é preciso carisma, articulação, liderança cotidiana na condução do seu rebanho e nas relações de poder com as nações e seus respectivos estados.
A renúncia de Bento não está devidamente esclarecida, o que, por si mesma, suscita  hipóteses e juízos de valor. Mas a Igreja quer passar ao largo, entende que o comportamento dos fiéis deve ser seguido sem questionamentos e segundo o que ela enceta.
Escândalos como pedofilia, homossexualismo e corrupção no banco do Vaticano, documentos então secretos e informações outrora sigilosas podem ter como fonte e desaguadouro os  aposentos do Bento, que o mordomo amealhou, apenas porque quis ou pressionado por cardeais.
 A renúncia não foi minimamente explicada. Até o momento nota-se é a covardia de um papa que se isolou no próprio poder. Não passou de um simbologia papal, sem poder ou efetivamente ser capaz de exercê-lo através do cargo e dos encargos, desvencilhando-se sem enfrentar os escândalos que não mais estão contidos nos porões do pontífice. 
Bento se acovardou por não enfrentar as vicissitudes colocadas sempre por debaixo do tapete. Ele contava com a subserviência silencial dos seus comandados, mas perdeu o controle e é certo que, se culpado, mas não de todo, o mordomo não é sozinho o conspirador, traidor e peça articulada no jogo do poder.
Quanto mais a Igreja nega com virulência não existir a política e inexistir um jogo de interesse pessoal pela fatia maior de poder, e aí que deixa mostrar as entranhas da avidez insaciável do poder religioso e político.
 A figura de um “ex papa”, embora prevista no direito canônico traz consigo a estupidez mesquinha e frívola de alguém que não ousou nem tentar se contrapor aos questionamentos sobre os escândalos, preferindo-se primeiramente negá-los e, não sendo possível, silenciar sobre eles.
Proclamando-se teocentrista no discurso contumaz e eloquente, a Igreja Católica através do Vaticano se notabiliza no âmago do poder nela presente praticando o antropocentrismo, adotando posturas medievais em torno de verdades e supostas verdades, da conveniência do silêncio sepulcral, o mesmo que vem agora adotando o ex papa.
É pequeno demais admitir, embora não se possa simplesmente descartar, que Joseph Ratzinger almejasse o conquistar o mais elevado poder, para fechar brilhantemente o currículo da sua vida, também religiosa logicamente. Feito isso, resolveu sair pelos fundos da Igreja, ora chamando a atenção, ora tentando não ser notado.
A hipocrisia é um traço do Vaticano. A encenação se dá em muitas situações, especialmente agora, entre a renúncia e o conclave, quando se pretendeu dar um ar de “normalidade” como se o ato de Ratzinger fosse de grandeza e que não existe qualquer tipo de política. Não é nada difícil comprovar o enorme poder que o catolicismo tem e dele se utiliza, até de maneira  sub-reptícia imaginando encobri-la com a sacralidade .
O tempo dirá. E não será com o silêncio. Quanto mais o Vaticano nega que a instituição  está imune aos interesses do poder, mais a Igreja se ocupa da política para ter poder perante o mundo. Sem se perceber que, mesmo sendo forte, não consegue  controlar, de maneira irretorquível, todo o seu rebanho, pois sobre ele de há muito não tem o poder absoluto, uma vez que seus ditames são negligenciados pelos católicos, notadamente no Brasil,  quando muitos vão à igreja, emanam a liturgia, mas não se comprometem com o sexo apenas após o casamento, casamento que, mesmo tendo jurado o “até que a morte os separe”, descasam com tamanha desenvoltura quanto mecanicamente fazem o sinal da cruz. Não são todos, é verdade.        
Fases de Fazer Frases (I)
 Quem confunde prelado com pelado, se atrapalha entre ficar de frente e ficar de lado.     
Fases de Fazer Frases (II)
 Quem confunde prélio com prelúdio, se atrapalha entre sair pela frente ou sair pelo fundo.
Fases de Fazer Frases (III)
Quem confunde premissa com a pré-missa, se atrapalha entre irar e orar.
Olhos, Vistos do Cotidiano
O prodígio prodigaliza deitando-se em alcova alheia.
Reminiscências em Preto e Branco
Diga-se quem és pelo que faz e o efeito que a ação produz.        
José Eugênio Maciel, mourãoense, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.

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