“O perfil do
bom historiador não pode se parecer nem com o carvalho e nem com o cedro,
por mais majestosos que sejam, e sim com o pássaro
migratório, igualmente à vontade no ártico e no trópico – e que sobrevoa ao menos
a metade do mundo” Eric J. Hobsbawm – historiador
Um
dia o dia termina definitivamente para todo aquele que encerra a própria vida.
Um dia, ao contrário de tantas e todas outras vezes, não se pode adiar mais,
posto que seja derradeiro. Para o Pedro da Veiga, 74 anos, tal dia definitivo
foi o três de março. No domingo passado,
como habitualmente, remeti pelo correio eletrônico o texto para ele publicá-lo
no blogue dele. No domingo ele fecha os olhos para o infinito.
A homenagem
póstuma e a publicação do texto que escrevi nesta Coluna, publicada em 2004, no
dia 20 de junho. Curiosamente em fevereiro deste ano ele deve ter encontrado
nos seus guardados e postou no Blogue. Agradeci
reafirmando a nossa amizade, que, aliás, no texto daquele ano fala por si,
ainda que resumidamente. Pedro, a história que narrou, cultuou com zelo e
testemunhou te leva a não mais para contá-la, mas definitivamente dela fazer
parte.
O GARIMPO DO PEDRO
DA VEIGA
“A caminhada que a humanidade fez
explica o muito sobre a própriahumanidade,
assim como o que uma pessoa faz explica muito
sobre ela.
É a
caminhada da humanidade que damos o nome de processo histórico”.Vavy
Pacheco Borges.
Para o Pedro da Veiga a História não para no
passado, ela prossegue determinando os dias que ainda virão. Ele tem uma
profícua relação com os acontecimentos ocorridos em Campo Mourão, aqui tendo
chegado em 1955.
Pedro nasceu com a vocação jornalística, dando contribuições valiosas
como locutor, escritor e servidor público, atividades desenvolvidas com esmero
e dedicação refletiram sobejamente na peculiar feição para a nossa História.
Tanto é assim que, intitulado “Campo
Mourão – Centro do Progresso”, editado em 1999, o livro da sua autoria é
uma consulta obrigatória para quem almejar conhecer e compreender os fatos
históricos.
Fora qualquer dúvida, não se trata de um livro qualquer. A publicação
espelha os anos em que ele soube guardar caprichosamente importantíssimas
informações, munindo-se de materiais que por si só são documentos, peças
históricas que se não fossem catalogadas devidamente poderiam perder o real
sentido. O bom na narrativa memorial feita pelo Pedro se destaca primeiramente
o português fluente e agradável. Ademais, a obra escrita suficientemente
documentada se caracteriza pelas variadas e bem distribuídas ilustrações,
fotos, cópias de documentos. Aliás, neste aspecto o escritor se destaca mais
uma vez, ao longo do tempo montou um valioso acervo, incluindo gravações
integrais de discursos solenes de importantes inaugurações. Impecável está o
glossário, nele encontramos os significados das palavras empregadas no seu
compêndio.
Não há como ficar indiferente a boa prosa do Pedro, principalmente se o
assunto for Campo Mourão. Ao reler e com frequência consultar o livro,
testemunho o cuidado e o prazer que o Pedro tem em registrar, analisar e
difundir a nossa densa história, rica como a capacidade do próprio escritor.
Meu saudoso pai e o Pedro foram grandes amigos. O tempo passou e num dos
encontros Pedro e eu falávamos do Eloy, então Pedro perguntou-me se eu tinha
lido os textos escritos pelo meu pai, publicados nesta Tribuna do Interior. Eu era muito pequeno quando o pai escrevia a
Coluna Sinal Amarelo, nem sabia ler,
disse. Para a minha grata surpresa alguns dias depois recebo fotocópias dos
artigos editados neste Jornal. O Pedro me entregou com uma dedicatória, era 29
de março de 1996. Somente uma pessoa atenciosa e organizada agiria assim,
reafirmando uma amizade que continua.
O bom garimpeiro sabe extrair o melhor que o rio tiver, e o Pedro
conhece como poucos as preciosidades, não é coincidência o sobrenome dele, pois
Veiga significa planície cultivada e
fértil, espaço propício à inteligência e interpretação histórica.
Fases de Fazer Frases
O infinito é uma dimensão inalcançável
misteriosamente vivida com a morte.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
O governo do Paraná anunciou a
duplicação total da rodovia do Café, ligando as duas principais cidades,
Curitiba e Londrina. A rodovia tem um movimento diário médio de oito mil e 500
veículos, sendo pelo menos três mil de caminhões de transporte. A importância
da ligação já era evidente há mais de quarenta anos, quando ela foi pavimentada
e inaugurada em 1965.
Nem
é preciso tecer maiores comentários quanto à elevada carga de impostos que o
brasileiro arca, assim como da riqueza econômica existente na capital e em
Londrina, além de importantes cidades existentes no trajeto, tais como
Apucarana e Ponta Grossa. Mas, mesmo assim, riquezas, impostos e importância
política, a duplicação de há muito já deveria ser uma realidade, antes tarde do
que nunca.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Ao
ler Olhos, Vistos do Cotidiano (I) é possível inicialmente supor o que
tem a região de Campo Mourão com a mencionada obra. Ora, se apenas agora será
realizada a sua duplicação, imagine a de Maringá-Campo Mourão ou Campo
Mourão-Cascavel? E não é o caso de zombar desmerecendo as cidades como região
quanto também a importância para o Paraná, mas é preciso reconhecer que estamos
em um estágio menor quando comparado Londrina e Curitiba somados.
Mas
a luta é para ser levada adiante insistentemente, e, como um único argumento
robusto e de saída é o faturamento da COAMO – Cooperativa Agroindustrial, com
mais de sete bilhões de movimentação financeira, sem dúvida gerando em impostos
que por si só já seria mais do que suficiente para se reconhecer a devida
importância econômica, especialmente na produção e escoamento da safra
agrícola.
Reminiscências em Preto e Branco
Do inesquecível da Veiga, texto da homenagem
constou o seguinte em Reminiscências em Preto e branco: ”Como era bonita a caligrafia
naqueles tempos, é o que se pode afirmar ao ler documentos reproduzidos (cópias
de atas) no livro Campo Mourão – Centro
do Progresso, uma curiosidade que o Pedro trouxe a lume”.
José Eugênio Maciel é mourãoense, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras.
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