12 de mar. de 2013

COLUNA DO PROFESSOR JOSÉ EUGENIO MACIEL: Pedro, zelador da história, primorosos


O perfil do bom historiador não pode se parecer nem com o carvalho e nem com o cedro,
por mais majestosos que sejam, e sim com o pássaro migratório, igualmente à vontade no ártico e no trópico – e que sobrevoa ao menos a metade  do mundo” Eric J. Hobsbawm – historiador
Um dia o dia termina definitivamente para todo aquele que encerra a própria vida. Um dia, ao contrário de tantas e todas outras vezes, não se pode adiar mais, posto que seja derradeiro. Para o Pedro da Veiga, 74 anos, tal dia definitivo foi o três de março.  No domingo passado, como habitualmente, remeti pelo correio eletrônico o texto para ele publicá-lo no blogue dele. No domingo ele fecha os olhos para o infinito.
A homenagem póstuma e a publicação do texto que escrevi nesta Coluna, publicada em 2004, no dia 20 de junho. Curiosamente em fevereiro deste ano ele deve ter encontrado nos seus guardados e postou no Blogue. Agradeci reafirmando a nossa amizade, que, aliás, no texto daquele ano fala por si, ainda que resumidamente. Pedro, a história que narrou, cultuou com zelo e testemunhou te leva a não mais para contá-la, mas definitivamente dela fazer parte.     
 O GARIMPO DO PEDRO DA VEIGA
A caminhada que a humanidade fez explica o muito sobre a própriahumanidade, assim como o que uma pessoa faz explica muito sobre ela.
É a caminhada da humanidade que damos o                   nome de processo histórico”.Vavy Pacheco Borges.
Para o Pedro da Veiga a História não para no passado, ela prossegue determinando os dias que ainda virão. Ele tem uma profícua relação com os acontecimentos ocorridos em Campo Mourão, aqui tendo chegado em 1955.

Pedro nasceu com a vocação jornalística, dando contribuições valiosas como locutor, escritor e servidor público, atividades desenvolvidas com esmero e dedicação refletiram sobejamente na peculiar feição para a nossa História. Tanto é assim que, intitulado “Campo Mourão – Centro do Progresso”, editado em 1999, o livro da sua autoria é uma consulta obrigatória para quem almejar conhecer e compreender os fatos históricos.
Fora qualquer dúvida, não se trata de um livro qualquer. A publicação espelha os anos em que ele soube guardar caprichosamente importantíssimas informações, munindo-se de materiais que por si só são documentos, peças históricas que se não fossem catalogadas devidamente poderiam perder o real sentido. O bom na narrativa memorial feita pelo Pedro se destaca primeiramente o português fluente e agradável. Ademais, a obra escrita suficientemente documentada se caracteriza pelas variadas e bem distribuídas ilustrações, fotos, cópias de documentos. Aliás, neste aspecto o escritor se destaca mais uma vez, ao longo do tempo montou um valioso acervo, incluindo gravações integrais de discursos solenes de importantes inaugurações. Impecável está o glossário, nele encontramos os significados das palavras empregadas no seu compêndio.
Não há como ficar indiferente a boa prosa do Pedro, principalmente se o assunto for Campo Mourão. Ao reler e com frequência consultar o livro, testemunho o cuidado e o prazer que o Pedro tem em registrar, analisar e difundir a nossa densa história, rica como a capacidade do próprio escritor.
Meu saudoso pai e o Pedro foram grandes amigos. O tempo passou e num dos encontros Pedro e eu falávamos do Eloy, então Pedro perguntou-me se eu tinha lido os textos escritos pelo meu pai, publicados nesta Tribuna do Interior. Eu era muito pequeno quando o pai escrevia a Coluna Sinal Amarelo, nem sabia ler, disse. Para a minha grata surpresa alguns dias depois recebo fotocópias dos artigos editados neste Jornal. O Pedro me entregou com uma dedicatória, era 29 de março de 1996. Somente uma pessoa atenciosa e organizada agiria assim, reafirmando uma amizade que continua.
O bom garimpeiro sabe extrair o melhor que o rio tiver, e o Pedro conhece como poucos as preciosidades, não é coincidência o sobrenome dele, pois Veiga significa planície cultivada e fértil, espaço propício à inteligência e interpretação histórica.
Fases de Fazer Frases
O infinito é uma dimensão inalcançável misteriosamente vivida com a morte.
Olhos, Vistos do Cotidiano  (I)
O governo do Paraná anunciou a duplicação total da rodovia do Café, ligando as duas principais cidades, Curitiba e Londrina. A rodovia tem um movimento diário médio de oito mil e 500 veículos, sendo pelo menos três mil de caminhões de transporte. A importância da ligação já era evidente há mais de quarenta anos, quando ela foi pavimentada e inaugurada em 1965.
Nem é preciso tecer maiores comentários quanto à elevada carga de impostos que o brasileiro arca, assim como da riqueza econômica existente na capital e em Londrina, além de importantes cidades existentes no trajeto, tais como Apucarana e Ponta Grossa. Mas, mesmo assim, riquezas, impostos e importância política, a duplicação de há muito já deveria ser uma realidade, antes tarde do que nunca.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Ao ler Olhos, Vistos do Cotidiano (I) é possível inicialmente supor o que tem a região de Campo Mourão com a mencionada obra. Ora, se apenas agora será realizada a sua duplicação, imagine a de Maringá-Campo Mourão ou Campo Mourão-Cascavel? E não é o caso de zombar desmerecendo as cidades como região quanto também a importância para o Paraná, mas é preciso reconhecer que estamos em um estágio menor quando comparado Londrina e Curitiba somados.
Mas a luta é para ser levada adiante insistentemente, e, como um único argumento robusto e de saída é o faturamento da COAMO – Cooperativa Agroindustrial, com mais de sete bilhões de movimentação financeira, sem dúvida gerando em impostos que por si só já seria mais do que suficiente para se reconhecer a devida importância econômica, especialmente na produção e escoamento da safra agrícola.          
Reminiscências em Preto e Branco
Do inesquecível da Veiga, texto da homenagem constou o seguinte em Reminiscências em Preto e branco: ”Como era bonita a caligrafia naqueles tempos, é o que se pode afirmar ao ler documentos reproduzidos (cópias de atas) no livro Campo Mourão – Centro do Progresso, uma curiosidade que o Pedro trouxe a lume”.  
José Eugênio Maciel é mourãoense, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras.

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