14 de jan. de 2013

COLUNA DA PROFESSORA MARIA JOANA: "Um outro envelhecer é possível"- Desafios!!!


O livro que leva este título lançado em 2012, tem uma longa história: começou a ser pensado em Guapimirim /2005, em uma reunião de profissionais que queriam refletir sobre suas experiências, ao enfrentar o processo de envelhecer. O debate se estendeu desde então, entre reuniões e conversas (in)formais e finalmente se concretizou nesta coletânea, da qual muitos participaram, envolvendo diversas dimensões.
Na dimensão social, Lucia Ribeiro aponta transformações que possibilitam aos idosos uma melhor qualidade de vida, apesar do persistente preconceito; na físico-biológica, Maria José dos Santos indica mudanças sempre permeadas pela subjetividade; já no aspecto psicoanalítico, Fernando Rocha mostra a coexistência de reações de medo e de tristeza pelas perdas, com o surgimento de elaborações criativas; Leonardo Boff, na dimensão filosófico-espiritual, enfatiza o polo da interioridade, com sua possibilidade de crescimento indefinido, vendo a morte como a passagem para uma vida plena, além de outros testemunhos preciosos da geração da década de 30\40.
A partir desta perspectiva, que assume perdas e ganhos, foram identificados alguns desafios, que se colocam no mundo atual para esta geração, que pode iluminar a todos:
- “Conseguir aceitar subjetivamente a metamorfose que objetivamente está se dando em nós (e que, frequentemente, é mais visível para os outros do que para nós mesmos!), reconhecendo a necessidade do cuidado, sem esquecer a conquista permanente da autonomia possível;
- Saber dialogar com as gerações mais jovens, abertos às suas perspectivas e descobertas, mas sem abrir mão de uma visão crítica;
- Assumir um compromisso ativo e participante em grupos, sejam eles profissionais, religiosos, culturais ou de qualquer outro tipo, e sentir-se parte de um todo, assumindo sua responsabilidade pessoal, a partir de nossas possibilidades atuais;
- Não abrir mão da criatividade, para inventar novas formas de viver a sexualidade, baseada na libido e no afeto e no que cada um julga mais adequado às suas próprias condições;
- Descobrir a riqueza de construir a solidão, como um momento de encontro consigo mesmo;
- Reconciliar-se com o passado, com suas realizações e, sobretudo, com suas omissões e falhas – hoje já irrecuperáveis – e descobrir a função social do resgate da memória, com a lucidez de distinguir o que ainda pode ser enriquecedor, no momento atual, do que precisa ser definitivamente superado;
- Tomar consciência de nossa finitude, embora o tempo que nos resta seja imprevisível: só quando integramos e aceitamos a morte podemos viver plenamente a vida;
- Aprofundar a vida interior e a espiritualidade - própria de qualquer ser humano, independente de ter ou não uma opção religiosa - questionando o sentido da vida e reconhecendo nela a dimensão do Mistério.
Estes e outros desafios permeiam a travessia das águas ora serenas ora turbulentas – mas sempre instigantes – da sexta à nona década da vida. Nossa geração viveu tempos marcados pela esperança de transformar o mundo, expressa em processos políticos, culturais, sociais. Viveu também os momentos de ocaso, de revezes, de desilusão.
Mas para muitos de nós, que participamos ativamente destes processos, o compromisso com a transformação social, em seus mais diversos níveis, continua vivo. E no atual momento da vida, acreditamos que “um outro envelhecer é possível”, se nos assumimos como sujeitos ativos desta etapa, tornando-a uma experiência socialmente fecunda e pessoalmente feliz.”
Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC.majocalderari@yahoo.com.br

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