2 de abr. de 2012

PALAVRA DO ARCEBISPO DOM ORLANDO BRANDES:Semana Santa, o sofrimento de Deus


Os sofrimentos de Jesus foram físicos, morais, espirituais, psíquicos, sociais. O Pai silencia. Os discípulos fogem e dormem. O diabo tenta. As autoridades condenam. Os soldados torturam. Os zombadores vociferam humilhações e injurias. Os sacerdotes acusam. A multidão grita: crucifica-o. Barrabás, homicida, salteador, bandido, é solto. Jesus é executado. Ele o inocente, o justo, o benfeitor, o libertador, o salvador. A multidão preferiu ficar com Cesar e eliminar Jesus.
Jesus foi tido como ladrão, malfeitor, bandido, agitador, blasfemo, maldito. Mesmo assim, sofre com serenidade, paciência, nobreza, humanismo, ternura, bondade. Seus discípulos caíram em diferentes pecados: sonolência, abandono, negação, traição. Tornaram-se servos infiéis, incoerentes, indignos, ingratos, injustos. Jesus faz a experiência do pavor, angustia, tristeza e lágrimas.
O Filho de Deus é acusado de insurreição contra o Império e de blasfêmia contra Deus. Foi executado violentamente. A crucificação só era aplicada a escravos criminosos e rebeldes perigosos. A estrebaria, o banco dos réus, a cruz dizem tudo. Narram a rejeição, a hostilidade e a oposição que Jesus sofreu. O final trágico de Jesus não foi surpresa para Ele, pois desde o inicio da pregação do reino, Ele foi marcado para morrer. O povo o acolhia, mas para o poder Ele era uma ameaça, um estorvo, um perigo. Assim são os verdadeiros cristãos hoje. Estão sendo martirizados.
Jesus me amou e se entregou por mim, escreve o apóstolo Paulo. Ele é o amigo que sofre por mim. O pecado mata o Filho de Deus e os filhos de Deus. Deixemos a dor de Jesus nos afetar, pois Ele foi ultrajado, cuspido, maltratado, desprezado, escarnecido, rejeitado, torturado, reprovado, esmagado, executado. Faz experiência da falência. A paixão do Senhor é resultado da incredulidade, do fechamento, do paganismo humano. A paixão mostra a degradação humana e a humilhação extrema pelas quais passou o Filho de Deus.
Em sua paixão Jesus é irmão de todos os abandonados. A dor humana é também sofrimento de Deus. Ele é nosso companheiro no sofrimento, é expiação de nossos pecados. Ele carrega nossas culpas e dores. Ele se fez maldição para que nós fôssemos elevados à dignidade de filhos e herdeiros da gloria. Um Deus chagado, ferido, preso, fraco só pode nos comover, encher-nos de gratidão e admiração. Eis até onde chega a paixão de Deus pela humanidade. Eis o alto preço que pagou por nós.
Olhando para o crucificado podemos dizer; “É assim que se ama” (Sto Afonso). Jesus crucificado é o amor extremado, excessivo, exagerado de Deus por nós. O sangue e as chagas do Salvador nos levam a confessar: “Eis o que é o amor”. Surgem, diante da cruz, algumas perguntas: “Que fiz, que faço, que farei por Jesus”? A resposta mais acertada é: amarei meus irmãos. No sangue de Jesus somos consangüíneos, irmãos uns dos outros, familiares. Crer no amor, deixar-se amar e dar amor são os frutos da paixão e morte de Jesus. Brota, assim, em nosso coração um amor insaciável pela humanidade.
Tudo o que aconteceu com Jesus, tem uma explicação: Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho Jesus. O mundo deve saber que é amado. Quanto mais nos encantamos por Jesus tanto mais amaremos a humanidade. Tudo acontece “a partir de Cristo Jesus’”. Todas as nossas ações sociais dependem de nossas experiências espirituais. Do contrário, só há filantropia e ativismo. A essência do Cristianismo é o amor. Deixemos Deus governar e transformar nosso coração. Que Ele ame através de nossos gestos de amor fraterno.
Nossa devoção ao amor e à verdade nos tornam sábios e profetas em favor de uma sociedade justa e correta. O amor deve permear cada uma de nossas ações. Jesus Cristo morreu por nós para que nós vivamos para Ele. Quem vive para Jesus, vive para o irmão.
Dom Orlando Brandes é arcebispo de Londrina.

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