2 de abr. de 2011

COLUNA DA PROFª MARIA JOANA: A força da fé e da União


“Você não sabe o que é a morte, então você não tem de ter medo da morte. Você tem de ter medo é da desonra, dela você tem de ter medo, isso mata você." José de Alencar, 2007

Nestes tempos de crise de valores, de incentivo a malandragem, a preguiça, ao ganho sem trabalhar, ao ganhar “as contas” do patrão e viver do salário desemprego,das mil e uma “bolsas”, de levar vantagem em tudo… vale refletir sobre o exemplo de vida de um lutador como foi o ex-vice presidente José de Alencar.

Filho de um pequeno comerciante de Minas, começou a trabalhar cedo, como era costume antigamente (jovem aprender trabalhando não era “Crime”) deixando a família com apenas 14 anos. Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade.

Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil, faturando US$2,4 bilhões ao ano. Alencar provou que os contrários podem se unir, que a esquerda e a direita podem trabalhar juntos. Ao aceitar a posição de vice de Lula , tornou-se seu fiador político, fazendo uma aliança entre o capital e o trabalho, dando legitimidade à estratégia de Lula de se fazer confiável ao mercado empresarial, mundo que era extremamente estranho ao PT. Mas sempre manteve sua posição crítica em defesa dos interesses dos empresários, reclamando dos juros altos, mantendo posições nacionalistas.

Mas foi na doença que mostrou sua força, sua coragem. Ele lutou o quanto pode mostrando que é possível sobreviver ou ao menos lutar contra a doença. Ele enfrentava a doença havia mais de 15 anos, passou por 17 cirurgias e várias internações, tornando-se um ícone da luta contra o câncer, um referencial de garra e vontade de vencer os obstáculos.Se o povo brasileiro tivesse acesso a esse tipo de medicina de primeiro mundo também viveria mais…

Do outro lado do mundo o povo japonês dá ao mundo um exemplo vivo de força de vontade, trabalho, organização, serenidade, dignidade, firmeza, resiliência, união, fé . A catástrofe atingiu as religiões: muitos templos foram destruídos, muitos fiéis, monges e sacerdotes estão mortos ou desaparecidos. As comunidades de fé poderiam ter se curvado diante da dor. Ao contrário, assumem com prontidão a sua função espiritual e ritual. Rezam. Inventam liturgias coletivas para mortos dos quais faltam os corpos.

E principalmente, as religiões socorrem. Os centros pastorais se tornam alojamentos, depósitos, pontos de informação, coleta de fundos, alimentos e materiais. As redes internacionais, como a Cáritas, se mobilizam unidos aos grupos budistas e xintoístas mais antigos e os novos movimentos como Rissho Kosei-kai e Soka Gakkai. Grupos religiosos de todos os credos unidos na ajuda a quem perdeu tudo.

Em um país em que só 10% dos estudantes universitários se dizem religiosos, mas onde tradições e ritos ainda têm seu peso, os crentes optaram pela espiritualidade e pelas obras. O extraordinário esforço de solidariedade superou rivalidade entre religiões e os interesses dos grupos. Na sua "mobilização religiosa de massa", os fiéis japoneses sabem transformar as diferenças religiosas em unidade de povo e de ação solidária, como os brasileiros fazem muito bem diante das catástrofes.

Maria Joana Titton Calderari – membro da Academia Mourãoense de Letras, graduada Letras UFPR, especialização Filosofia-FECILCAM e Ensino Religioso-PUC.

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