21 de set. de 2010

COLUNA DO PROF. MACIEL: Personificação do poder e populismo



“As ilusões do consumo crescente, bem como da mobilidade social apagam ou obscurecem, na consciência operária, as contradições entre os seus interesses e os da burguesia. Muitas coisas confundem-se em suas mentes, em especial nas ocasiões de maior sucesso do governo populista. Octavio Ianni – A formação do Estado populista na América Latina
Certa vez, observando respeitosamente a massa em um comício, uma pessoa nota que a outra ao lado dela não aplaudiu, ficando indiferente. “Todo mundo aplaudiu e porque você não fez igual a todo mundo e não aplaude também?!” – indaga a entusiasmada batedora de palma. “Não bati palma já que ainda não sei se eles estão falando a verdade e se eu mesma entendi os discursos”, - refletiu a pensativa senhora. Eis que veio a resposta da entusiasmada batedora de palma: “Eu não entendi e não carece saber, é só aplaudir como faz todo mundo”.
Está cada vez mais rareando o posicionamento de ideias, discutem-se nomes. Valorizam-se imagens, rostos e não propostas, planos de governos. Pouco se pensa no País ou em uma região, o sentimento coletivo é sucumbido em meio ao individualismo de corporação do tipo “não me importa o que ele vai fazer para os outros, quero saber o que ele vai fazer por mim”.
Não aprendemos absolutamente nada quando o Fernando Collor foi eleito presidente. Ele batia no peito, chamava para si toda a responsabilidade, ele faria tudo, encarnou uma personificação do poder como quem tinha o cajado que faria dividir o mar preto da corrupção, fazendo passar a caravana da moralidade e de um novo país. Todos sabem, ele não terminou o mandado, derrotou Lula e hoje Collor apóia fervorosamente o PT, todos estão juntos, inclusive o Sarney. Todos querem o poder, se não puderem todo o poder para si aceitam matreiramente uma boa fatia do bolo, sempre engolido com uma voracidade tamanha.
No Paraná tem um tipo de coveiro que não enterra o seu adversário para mostrá-lo sempre e causar terror, quando o coveiro vem como o paladino da justiça e guardião do povo repetindo bravatas, “povo, eu sou o defensor e irei enterrar quem lhes causa tanto sofrimento”. Assim sendo, o Jaime Lerner é o cadáver de um ex-governador que o Requião mostra para botar medo no Paraná. A lembrança – boa ou má – do Lerner é fruto do governo requianista, que se fosse tão bom o povo efetivamente teria esquecido por conta própria o lernismo. Mas não, Lerner é o mais lembrado pelo próprio Requião, pelo Maurício, pelo Eduardo, pela Maristela, todos no mais puro nepotismo.
Depois eu vi aquela mulher do comício cansada de tanto bater palma, mais cansada ainda de olhar a amiga dela sem dar uma batidinha de mão ao menos. Mais do que não querer que o Lerner volte, o próprio Requião quer voltar e irá fazer do Senado uma lápide, só resta saber se é ele que irá colocá-la ou o povo é que irá fazê-lo.
Fases de Fazer Frases
A solidão é o vazio contendo a saudade que não se cabe.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
É comum, neste período eleitoral, a televisão de repente ficar muda. É o horário eleitoral gratuito reservado para determinado partido político que não o utilizou. E no silêncio do povo, cabe a pergunta, se este mesmo partido político não tem a mínima competência e organização para ocupar tal espaço, quem dirá para governar o Paraná, por exemplo? Quem fica mudo poderá não escutar, mas está vendo.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Por falar em propaganda eleitoral, o senador Álvaro Dias (PSDB) pede votos para Gustavo Fruet. O curioso – e o Fruet não tem nada com isso – é o argumento final do Álvaro, afirmando enfaticamente que o “Senado precisa de uma grande renovação”. Muito bem! E quais são os três senadores do Paraná? Ele próprio, o irmão dele Osmar (PDT) e o Flávio Arns (PSDB), candidato a vice na chapa de Richa. Álvaro tem razão.
Olhos, Vistos do Cotidiano (III)
“Para o Brasil melhorar ainda mais”, diz a cabo eleitoral ao entregar santinho a uma senhora que, resoluta, responde, “se estivesse tão bom você não estaria entregando propaganda, estaria em um bom emprego e nem lembraria que tem eleições”
Reminiscências em Preto e Branco
O promotor aposentado e ex-diretor da FECILCAM, Rubens Luiz Sartori acompanha eleições há muitas décadas, especialmente cobrindo a apuração dos tempos do voto a voto contado. Eu e ele saudosistas lamentávamos numa rápida conversa os belos discursos naturalmente de excelentes oradores nos comícios. Hoje cada palavra é medida, racional, fria, a emoção, com todos os exageros empolgava o povo. Os oradores eram exímios, existia mais cultura, preparo e espontaneidade.
NOTA DO BLOG: A imagem acima é do comício das Diretas Já, com as lideranças, na época - olhe bem para elas- apoiando e pedindo democracia, austeridade e transparência.
Isso há mais de 20 anos.
José Eugênio Maciel é professor, sociológo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras. Sua coluna é publicada aos domingos no jornal Tribuna do Interior e durante a semana aqui no BLOG DO ILIVALDO DUARTE.

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