2 de mar. de 2025

NÃO SEI DE ONDE, por José Eugênio Maciel

Não sei de onde…. *


“Eu mesmo me julgo pela aparência. E me acho estranho”.  


Estive Nólocal (b.d.C.). 

Dois senhores aguardam a chegada do ônibus de viagem, na pequena localidade de Jaca Caída, mais conhecida como Jácaída, vilarejo tão longínquo que o mais perto dali era muito longe. Lá há tempos não tem mais jaca.

Nos dois únicos bancos da rodoviária, eles sentaram, cada um em um banco.  De frente um para o outro eles começaram a se olhar, discretamente, até que um afirma achar que conhece o outro, e pergunta:

          – O senhor é daqui deste lugar?

          – Há 42 anos!

          – E eu a 45 anos!

          – Mas não estou lembrando de onde…. E saiba o senhor que eu conheço todo mundo deste lugar, inclusive pelo nome!

          – E eu até pelo apelido!

          – Mas não estou me lembrando de onde eu lhe conheço…

          – Deve ser daqui, eu sou daqui! Mas também não sei de onde lhe conheço.

          – Ora, daqui!

          – Vamos perguntar para o Amintas, vendedor de passagens, antigo deste lugar.

          Seu Amintas, olhe bem pra nós dois, que somos deste lugar, você conhece a gente de onde?

          Amintas tira os óculos do rosto, limpa bem as lentes, põe de novo e muito pensativo, passado alguns minutos, tanto olha para um quanto para outro…

         – Eu trabalho aqui já vai fazer 30 anos! E não sei de onde que eu conheço os senhores… Pra falar a verdade, mesmo, acho que não conheço os dois.

         Quietos, os dois viajantes voltam a sentarem, cada qual no seu banco. Ambos circunspectos, só olharam uma única vez e de soslaio.

         Eles continuavam pensativos, intrigados por se conheceram mas sem fazer ideia alguma de onde, como, nada vinha a lembrança da fisionomia. Mas nem um arriscou perguntar sobre onde morava, parentes, o que faziam. Nada!

         Também em silêncio e calmamente, eles vão para o banheiro, primeiro um, depois o outro. Fecham a porta e depois saem, quase ao mesmo tempo para lavarem as mãos.

         Então, olham para o espelho, tanto para si quanto para o outro:

          – E já sei de onde eu lhe conheço, foi daqui. Aqui, te vendo no espelho!

          – Eu também, foi daqui, quando lhe vi no espelho!

         Eles tinham a aparência de jacas caídas, como a do Amintas bilheteiro.                

Fases de Fazer Frases (I)

         Lamento estável é lamentável.          

Fases de Fazer Frases (II)

         A elegância sofisticada é o belo.        

Fases de Fazer Frases (III)

         Julgo o vulgo e o vulgar a julgar.                 

Fases de Fazer Frases (IV)

         Leve a palavra leve. E não traga a palavra que traga.      

Fases de Fazer Frases (V)

         Não confundamos tudo o que se esvai com todo o ex que vai.  

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)

         “Ruralzão”, é o apelido que alguns cronistas da capital deram ao campeonato paranaense deste ano, além de reclamarem da arbitragem e a situação dos gramados do interior. Verdades a parte, pode ser que os times da capital nem cheguem a final do paranaense, pois vencer os times do interior não é tarefa fácil. O Paraná já voltou para a segunda divisão e a dupla ATLETIBA não fará a final do Campeonato. (Um dos dois vai cair fora). O Curitiba perdeu de 2X0 para o Maringá, partida da ida. E também na ida, o Athlético só empatou fora de casa com o Azuriz de Pato Branco.

         Além do mais, a dupla ATLETIBA estão na segunda divisão (série B) do Campeonato Brasileiro.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)

         Embora tenha ouvido só o final da propaganda, chamou a atenção o anúncio do rádio, a cartomante Cristina, que anuncia fazer e desfazer despacho. Ela garante emprego, colheita…

         Enfim, garante tudo. Mas não deixa de ser interessante o fato de fazer ou desfazer qualquer despacho. É amarrar ou desamarrar qualquer feitiço, ao gosto do freguês.                                    

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)

         Considerando que o Carnaval é uma data móvel, ou seja, a cada ano é em dias diferentes, o termos é bem aplicado – data móvel – pois a folia é toda móvel.               

Farpas e Ferpas (I)

         O forte é mais forte quando simula fraqueza.                                             

Farpas e Ferpas (II)

         A solidão está sempre à disposição de quem está só.                          

Farpas e Ferpas (III)

         A fonte do desejo nem sempre é a mesma a do prazer.            

Sinal Amarelo (I)

         Quem se precipita no precipício apita.                 

Trecho e Trecho

         A grande desgraça da vida é ser inofensivo”. [Monteiro Lobato].

         “Não pode amar o progresso quem não ama a tradição”. [Olavo Bilac].

Reminiscências em Preto e Branco

         Na tardança da vida o melhor já foi vivido.

José Eugênio Maciel, mourãoense, filho de pioneiros, escritor, professor, advogado, colunista do jornal Tribuna do Interior e membro fundador da cadeira 3 da Academia Mourãoense de Letras, tendo como patrono Eloy Maciel, desde 21 de maio de 2002.

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