8 de mar. de 2025

'"AFFONSO ROMANO, palavra poeticamente prosa", por José Eugênio Maciel

 Affonso Romano, palavra poeticamente prosa

“Arte e vida se misturam. Fantasia e realidade se acrescentam”.

Affonso Romano de Sant’Anna

         Escritor com pleno domínio ao compor um poema ou discorrer em prosa,  talento e criatividade singulares. O que seria da literatura do Brasil sem Minas Gerais. O que seria Minas Gerais sem o belo-horizontino Affonso Romano.  Não teríamos a riqueza das palavras.

         Affonso Romano Sant’Anna foi poeta, cronista, ensaísta, professor e acadêmico. Contribuiu para o hábito da leitura com os próprios textos que  conquistam numerosos iniciantes do ler. Um aspecto importante na biografia dele  para a cultura literária brasileira, foi ter dirigido a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, 1990 a 1996.

         Despediu-se da vida aos 87 anos, dia quatro. Ficou viúvo recente, a esposa dele, também escritora, Maria Colassanti, também com 87 anos, morreu em janeiro. Transcrevo trechos de uma das suas crônicas, Porta de colégio:

            Passando pela porta de um colégio, me veio uma sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isto, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa.

         Primeiro há uma diferença de clima entre aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. Um ou outro já transou droga, e com isto deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. Ouvem-se gritos e risos cruzando a rua. Aqui e ali um casal de colegiais, abraçados, completamente dedicados ao beijo. Beijar em público: um dos ritos de quem assume o corpo e a idade. […].

         Onde estarão esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos? Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esportes, vai se interessar pela informática ou economia; aquela de cabelos loiros e crespos vai ser dona de butique; aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com uma gerente de multinacional; aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e praça e pegando-os de novo à tardinha no colégio. […]. É desagradável, mas aquele ali dará um desfalque na empresa em que será gerente. O outro irá fazer doutorado no exterior, se casará com estrangeira, descasará, deixará lá um filho – remorso constante. […]. A turma já perdeu um colega num desastre de carro. É terrível, mas provavelmente um outro ficará pelas rodovias. […].

         […] Daqui a dez anos os outros dirão: ele sempre teve jeito, não lembra aquela mania de reunião e diretório? Aquelas duas ali se escolherão madrinhas de seus filhos e morarão no mesmo bairro, uma casada com engenheiro da Petrobras e outra com um físico nuclear. Um dia, uma dirá à outra no telefone: tenho uma coisa para lhe contar: arranjei um amante. Aconteceu. Assim, de repente. E o mais curioso é que continuo a gostar do meu marido.

         [….]… Quem estará naquele avião acidentado? Quem construirá uma linda mansão e um dia convidará a todos da turma para uma grande festa rememorativa? […]…

         Quantos aparecerão na primeira página do jornal? […].

         […] … Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo”.            

Fases de Fazer Frases (I)

         Nem tudo merece resposta, sobretudo a pergunta imerecida.             

Fases de Fazer Frases (II)

         A vida é feita de tudo, até do que ela não é.                  

Fases de Fazer Frases (III)

         A liberdade de ter difere da liberdade de ser.         

Olhos, Vistos do Cotidiano

         Na edição anterior, - Olhos, Vistos do Cotidiano – a respeito do “Ruralzão”,   apelido que alguns cronistas da capital deram ao campeonato paranaense deste ano, finalizei o texto tendo escrito que a dupla ATLETIBA disputaria a “Série B do Campeonato Paranaense. Na verdade Athlético Paranaense e Coritiba disputarão a Série B sim, mas do Campeonato Brasileiro. O erro foi apontado pelo diretor deste Jornal, aliás, torcedor do Coritiba, Nery José Thomé. Sou grato a ele e aos caros leitores, os quais peço desculpas pelo erro na informação.

Farpas e Ferpas (I)

         É agradável ao desagradável ser o que ele é perante os outros.         

Farpas e Ferpas (II)

         O pecado é sempre alheio?      

Sinal Amarelo

         Só o fazer por merecer é conquista.             

Trecho e Trecho

         O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo”. [Leon Tostói].

         “Na música, o próprio silêncio tem ritmo”. [Cláudio de Souza].

Reminiscências em Preto e Branco

         O tempo não cura por não saber adoecer.    

José Eugênio Maciel, mourãoense, filho de pioneiros, escritor, professor, advogado, colunista do jornal Tribuna do Interior e membro fundador da cadeira 3 da Academia Mourãoense de Letras, tendo como patrono Eloy Maciel, desde 21 de maio de 2002.

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