“Preferi não ir ao velório e nem ao enterro, pra ficar com a última lembrança boa dele”, afirmou Jarutais, que chorou em seguida. E, ainda perplexo com a partida do amigo, revelou: “Acho que eu devia ter ido me despedir dele...”.
Há alguns meses, Ênio demonstrou uma profunda tristeza nas redes sociais. Jarutais lembra que eram escritos que remetiam a depressão e cansaço de viver. “A gente ficava preocupado. E ele estava sozinho, tinha saído do último relacionamento. Após a separação, andava meio tristão. Daí, a poucos dias, começou a namorar de novo. Ele remoçou, rejuvenesceu. Tava um guri”, lembrou.
Amigos também revelam que o gênio do Ênio não era dos mais fáceis. Nas redes sociais não media consequências. E, por esta razão, tinha gente que não gostava dele. Alguns viam em suas postagens, conteúdos fortes, ácidos. A bem da verdade, era um sujeito reto, direto. A prosa não fazia curva. Talvez, por isso, três relacionamentos não deram certo.
Correto na maior parte de suas atitudes – ninguém acerta tudo -, certo dia ficou com pena de um sujeito que pedia ajuda na rua. Era um dia de extremo frio. Vendo o drama do camarada, tirou a própria jaqueta do corpo e a entregou. Deu de presente. Mas, ao saber, dias depois, que o mesmo havia a trocado numa boca de fumo, foi atrás para tentar recuperar. Era tarde demais. Nunca mais viu a jaqueta.
Há pouco tempo, Ênio iniciou uma nova jornada amorosa. E estava muito feliz. Ainda no hospital, preocupado com o próprio destino, disse a ela: "Peça para Deus deixar eu voltar. Quero viver mais com você". Mas ela não foi ouvida. Ênio não voltou.
Ele morreu na madrugada do dia 9 de dezembro, aos 54 anos. Foi internado às pressas por complicações em um procedimento bariátrico, realizado há 17 anos. Se submeteu a uma cirurgia para também tratar de uma hérnia na barriga. E ficou em estado gravíssimo. Em seguida, sofreu uma parada cardíaca. Não resistiu.
Na curta jornada de Ênio, pode-se afirmar que manteve duas verdadeiras paixões no plano terreno: a família e o futebol. Fanático torcedor do Inter, não perdia um só jogo. Fosse bom ou ruim o time. Muitos dos seus amigos foram conquistados pela própria bandeira do clube. E o amor infinito ao time e, até, por vezes incompreendido, fez com que a família realizasse seu último desejo: ser enterrado vestindo a camisa e, ao lado da bandeira do Internacional.
Irineu Ricardo, amigo de Ênio desde a adolescência, também está emudecido com a sua breve partida. Ao seu lado, participou de muitas histórias. Mas tem certeza de que está bem. Para ele, a boa viagem sobre o mar só acontece após a preparação de uma boa embarcação. E Ênio, definitivamente, cuidou de todos os preparativos. Teve uma viagem segura. E como diz a canção, “agimos certo sem querer. Foi só o tempo que errou. Vai ser difícil eu sem você. Porque você está comigo o tempo todo”. E quem pode afirmar que o tempo não erra? - Crônica de Dilmercio Daleffe, em homenagem ao radialista Enio Maciel, falecido dia 10 de dezembro deste ano em Campo Mourão.
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