25 de fev. de 2021

WILHAN SANTIN: crônica "A vida é um sopro"

 

"A vida é um sopro. Não é um título original, eu sei. Mas é uma verdade: a vida é um sopro. Oscar Niemeyer, o arquiteto, costumava dizer esta frase. Foi um homem de grande inteligência.

Para ele, o sopro durou quase 105 anos. Oscar morreu aos 104, em 5 de dezembro de 2012, a dez dias de seu aniversário.

Talvez você chegue aos 100 anos de idade. Ou mais. Pode ser que entre para o livro que registra recordes como a pessoa mais velha do mundo. Mas pode ser que morra amanhã ou no ano que vem. Tudo pode. Até por isso os bons manuais de Jornalismo pedem que a gente evite o termo.

Por isso, deixe de lado a arrogância, a soberba e a vaidade. Você não é melhor do que ninguém. Por outro lado, ninguém é melhor do que você.

Nunca julgue. Já caí do cavalo diversas vezes apontando erros dos outros e depois descobrindo que o errado era eu. Já rotulei de antipático quem, na verdade, enfrentava um grande problema na vida pessoal. Como aquela pessoa poderia sorrir?

Contudo já vi sorrindo quem carregava o mundo nas costas, passando a todos a impressão de que a vida ia muito bem quando não ia. Uma estratégia para livrar os mais próximos de grandes preocupações. Um heroísmo, eu diria.

Certa vez, conheci um cara de muito sucesso na vida empresarial. Gostava de ser chamado de doutor, de ser tratado com reverência e me disse, em uma entrevista, que acreditava realmente que algumas pessoas são superiores às outras, por isso conquistam mais coisas e maior importância profissional.

Dez dias depois daquela declaração, ele sofreu um acidente de automóvel. Teve diversas fraturas e uma hemorragia severa. Passou por cirurgia de emergência. Recebeu algumas bolsas de sangue. Na cama do hospital, sem poder se movimentar, contou com o pessoal da enfermagem para auxiliá-lo nas necessidades mais básicas. Inclusive, limparam-lhe a bunda diversas vezes.

Fui visitá-lo. Não havia ainda a pandemia. No fundo, eu sabia que era um bom homem. Perguntei se ele achava que aquele sangue todo que havia recebido era de pessoas superiores ou inferiores… E ele, com lágrimas nos olhos:

- Aqui tem pessoas que me limpam, ganham 10% do que eu ganho, mas são felizes. Eu tenho sido um idiota a minha vida toda.

Ele precisou rachar o fêmur, o rádio, a bacia, a fíbula, a tíbia e algumas costelas para entender. Eu tenho rachado a cara mesmo, no sentido figurado, é claro, para ir aprendendo com a vida.

Sou apenas um jornalista que se mete a escrever crônicas. Ou seja, não sou ninguém para dar conselhos. Atrevo-me a fazer isso por total falta de semancol. Então digo: aproveite da melhor forma este sopro que é a vida. E um dos princípios para a felicidade é respeitar as outras pessoas, saber que somos diferentes, com opiniões divergentes, credos diversos e times de futebol adversários. Ser diferente não é ser melhor nem pior.

Provavelmente alguém classificará esta crônica como piegas. E terá razão. Mas, às vezes, temos que escrever com o coração. E o meu é irracional.

Por fim, há quase dois mil anos, em cima de uma montanha, Jesus Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados.” Pura sabedoria."

Jornalista Wilhan Santin é de Londrina e editor do site O BemContado -  dedicado a narrar histórias, por meio do jornalismo e da literatura.
Ele acredita no poder transformador da boa leitura. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário