"Sou professor em tempo integral, logo, o ofício do ensino-aprendizagem é inerente ao meu fazer. Dele, nele e com ele é que vivo. Assim, é muito gratificante a sensação de que o conteúdo ministrado e as orientações que você compartilha ajudam o estudante na sua formação profissional e humana", afirma o professor, ex-seminarista e fundador da cadeira 40 da Academia Mourãoense de Letras, Frank Antonio Mezzomo. Ele é o homenageado na ENTREVISTA DE DOMINGO aqui no Blog do Ilivaldo Duarte.
Educador em várias disciplinas na sua história pessoal e profissional, Frank é mourãoense desde 2006. História, Filosofia, Sociologia, Cultura Brasileira, Metodologia de Pesquisa em cursos como Direito e outros, foram ensinamentos determinantes para a consolidação de princípios profissionais como disciplina, pontualidade, organização e criatividade no preparo das aulas.
Ótima leitura conhecendo um pouco da história e legados do professor Frank Mezzomo na ENTREVISTA DE DOMINGO.
QUEM É FRANK ANTONIO MEZZOMO? Nasci em
Cruzeiro do Iguaçu, Sudoeste do Paraná, em 12 de abril de 1974. Sou casado com Maristela e estamos juntos há 23 anos. Temos uma linda e afável filha: Sophie Luiza, “sábia guerreira”, nascida em janeiro de 2018. Moramos em Campo Mourão desde maio de 2006.Tive
uma infância tranquila e saudável, marcada pelo trabalho: capinar o lote, roçar
as beiras de estradas de uma pequena propriedade familiar, tratar os animais
(bovinos, suínos e demais ruminantes kkkk) e nas férias, ou quando não tinha
aula, trabalhar no “boião”, nas colheitas de milho, soja, feijão e carregar
frango em aviários de proprietários na região. Entremeados com esses trabalhos,
em um período, ajudava a mãe na limpeza da igreja matriz, além, claro, dos
trabalhos domésticos, afinal era o mais velho dos irmãos e precisava ajudar nas
lides familiares.
Mas a infância também foi de muita diversão: sou do
tempo do bodoque feito com borracha de pneu de bicicleta (estilingue), de construir arapuca para pegar inhambu e pombinhas, de correr com pneu (embalar um pneu de carro e depois de caminhão pelas ruas e vielas), tomar banho na sanga, de jogar bola de “capotão” (ahh, a de número 5 era top!).Lembrança importante que me acompanha é o fato de meu pai ser responsável por um time de futebol amador. Isso nos idos dos anos 1980. Fantástico, pois além de ser filho do técnico, desde meus 2, 3 anos de idade acompanhava os jogos, quer dizer, íamos todos juntos na carroceria de caminhão, atletas e torcida, até as localidades, no interior do interior, participar dos torneios e campeonatos municipal e regional.
A emoção das viagens, que raras vezes aconteciam em transporte mais seguro, como um ônibus, por exemplo, só era superada pelo momento em que o nosso time entrava em campo: sim, junto com os atletas lá estava eu perfilado e apresentando-se para a torcida! Esses momentos, bucólicos e singelos, expressam em grande parte a alegre infância junto à família.
ONDE ESTUDOU, QUE CURSOS FEZ? Até os 13 anos, sexta série, estudei no Colégio Estadual Arnaldo Busato,
em Cruzeiro do Iguaçu (Atividade no colégio. Foto arquivo).Em 1988, um fato marcaria minha vida, embora somente muitos anos depois teria essa percepção: entrei no seminário. Com apoio familiar – certa indiferença do pai e incentivo da mãe, embora tenha manifestado insegurança posteriormente – e do
Monsenhor Eduardo Rodrigues Machado (foto), fui estudar em Palmas/PR, no Colégio Sebastião Paraná terminei o Ensino Fundamental e Ensino Médio no Colégio Dom Carlos.Sair da casa dos pais na adolescência, nem bem havia tirado os cueiros, e morar a 200 quilômetros da família, com duas visitas ao ano e contato via cartas que demoravam um “século” para chegar ao destino, parecia o maior dos desafios.
A essa vida de estudos em cidade fria, realizada em colégios estaduais, acrescenta-se: trabalho duro, pouco conforto e alimentação racionada faziam lembrar que a vida no Seminário São João Maria Vianney (foto abaixo) era para os vocacionados um teste de confiança na Providência, e para os descrentes ou pouco persistentes, um convite para o retorno definitivo para a casa familiar.
Depois ingressei na Filosofia em Toledo (1993/1996), na Universidade Estadual do Paraná, onde terminei a graduação e fiz uma especialização lato sensu em Marechal Candido Rondon (1997).
Essa fase foi muito intensa, marcada por experiência de universidade, de contato com o diferente, de ouvir e ver histórias de vida interessantes, onde quase tudo era novidade. Posteriormente, fiz mestrado (1998/2000) e doutorado (2005/2009) na Universidade Federal de Santa Catarina.
Dois momentos academicamente distintos: no mestrado morando em Florianópolis por quase dois anos e vivendo graças a uma bolsa de estudos recebidas do Governo Federal; já no doutorado, morando no Paraná e trabalhando em torno 40 horas por semana, por dois anos e meio viajei semanalmente para cursar os créditos e fazer orientações da pesquisa em desenvolvimento. As viagens de ônibus convencional, de aproximadamente 27 horas de ida e volta, foram momentos de muitas elucubrações. Lembro-me claramente que em 2005 fazia um "bati-volta", saindo na segunda feira à noite
para Florianópolis, cursando duas disciplinas na terça- feira, manhã e tarde, pegando o ônibus às 18hs do mesmo dia e chegando em Realeza, na manhã da quarta feira, às 6hs, e entrando em sala às 7hs30 para dar aula de História para uma turma de terceiro ano, no Colégio Real.Em abril deste ano quando planejamos, em família, fazer um pós-doutorado no Brasil e na Espanha, fomos tomados pela crise sanitária, o evento Covid-19. Projeto adiado.
Como síntese desse percurso dos estudos acho válido deixar
registrado, afinal é valioso para minha vida e expressa algumas de minhas
causas: minha historicidade formativa foi marcada pelo acesso ao ensino público
e gratuito.
Encerro essa resposta mencionando a experiência da vida que tive no seminário. Em Palmas, fiquei por cinco anos, quando rumei para Toledo, no Seminário Maria Mãe da Igreja (foto), onde permaneci por três nos até concluir em 2005 o bacharelado em Filosofia.
Depois de oito anos de seminário, achei que a vida presbiteral não constituía mais um projeto de futuro. Decidi sair após cumprir o protocolo de conversar com diversos membros da Igreja e leigos que haviam acompanhado minha trajetória vocacional. O bispo diocesano, Dom Agostinho Sartori(Fotos históricas abaixo com papa João XXIII e João Paulo II), a quem presto respeito e admiração, reitor e diretor espiritual, padres e alguns líderes de comunidades onde havia atuado pastoralmente. Foi uma grande e impactante experiência de vida. Não poderia ser o mesmo depois de vivenciar diversos momentos de forte espiritualidade e convívio com pessoas que expressavam a face materna de Deus.
Posteriormente,
em 2000, após o mestrado, debutei no Ensino Superior como professor e em
funções administrativas, quando atuei em instituições em Cascavel, Umuarama,
Francisco Beltrão e Realeza, nessa última também no Ensino Médio. Até 2006
ministrei diferentes disciplinas como de História, Filosofia, Sociologia,
Cultura Brasileira, Metodologia de Pesquisa em cursos como Direito,
Odontologia, Enfermagem, Psicologia, História, Turismo, Administração, Ciências
Contábeis. Quanto aprendizado na rede particular de Ensino que, acredito, foram
determinantes para consolidar alguns princípios profissionais: disciplina,
pontualidade, organização, criatividade no preparo das aulas.
Em 2006 tive a felicidade de ingressar, via concurso público, na então Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam), hoje Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Recém tinha entrado no doutorado, e o processo de seleção foi muito tenso, pois havia muitos candidatos, vários com título de doutor e somente uma vaga. Fui selecionado, que conquista! Aqui estou, atualmente vinculado ao Curso de Graduação em História e nos três Programas de Pós-Graduação Stricto Senso: Sociedade e Desenvolvimento, Mestrado Profissional em Ensino de História e no História Pública.
O
QUE MAIS GOSTOU E O QUE MAIS GOSTA DE FAZER PROFISSIONALMENTE? Sou professor em tempo
integral, logo, o ofício do ensino-aprendizagem é inerente ao meu fazer. Dele,
nele e com ele é que vivo. Assim, é muito gratificante a sensação de que o
conteúdo ministrado e as orientações que você compartilha ajudam o estudante na
sua formação profissional e humana. Além das atividades de ensino, em geral
associadas às aulas, temos outras interfaces de atuação junto aos estudantes e
a sociedade, onde é possível perceber que a educação é, faz e pode fazer mais
para as pessoas. Atividades de extensão e de pesquisa que desenvolvemos, além
de, como o aprendiz de artesão, aprender com seu ofício, isto é ensinar o
estudante a pesquisar, legamos à sociedade resultados que podem ser apropriados
coletivamente.
O QUE FAZ ATUALMENTE? Além das aulas na graduação e na pós-graduação, tenho desenvolvido pesquisas acadêmicas em torno da temática política/eleições,
religião e trajetória biográfica. Nessas pesquisas, das quais tenho alguns livros e artigos publicados, procuro compreender como a sociedade contemporânea, em particular a brasileira, tem se posicionado e articulado energias e ações em torno de pautas que tocam as noções de cidadania, de moralidade, de Estado e democracia. São pesquisas acadêmicas, reforço, que procuram dialogar com as teorias do campo das ciências sociais, a fim de entender nossa contemporaneidade, tão marcada pela polarização de emoções e racionalidades.QUAL É SEU ÚLTIMO LIVRO PUBLICADO? Junto com esses trabalhos de docência e pesquisas, publicamos dois livros, que são organização de coletâneas, e estamos finalizando um terceiro que é autoral, produzido com outros dois colegas. Todos são importantes, mas tenho por esse último, intitulado “Religião e eleições: usos do Facebook em campanha eleitoral”. Um apreço especial, não só por tratar da temática que tenho trabalhado nos últimos anos, mas porque é resultado de mais de quatro anos de pesquisa e que, na sua construção, procuramos utilizar uma linguagem visual mais intuitiva, trazendo para o texto hiperlinks que dão acesso às imagens, fotos, áudios e vídeos que não só ilustram as discussões como explicitam e dão corpo às discussões teóricas realizadas.
COMO ESTÁ CONVIVENDO COM ESTE PERÍODO DE PANDEMIA? Além dessas ações, muito ligadas ao trabalho, tenho feito outras coisas nesse momento em que vivemos em isolamento social, afinal a crise sanitária, deflagrada pelo Covid-19, deve ser levada a sério, individual e na vida pública, mesmo que algumas autoridades insistam em renegar o que a ciência tem demonstrado, e continuam a prestar um desserviço à sociedade brasileira.
Já no âmbito particular, juntamente com minha esposa,
gosto de cuidar das coisas do nosso quintal, onde cultivamos hortaliças e legumes em uma pequena horta, que conta também com algumas árvores frutíferas: laranjeira, bananeira, maracujá, acerola, manga. Manusear as ferramentas usadas nessas lidas – como o enxadão, o cerrote, a enxada e rastelo – é parte da terapia, além de instigar o fazer e o lúdico com a filhota, que tão entusiasticamente se envolve com esse mundo. Completa esse ambiente “meio que do campo”, as interações com Bertrand, Donna e Mithy, nosso gato e cachorras dóceis que fazem parte de nossa família.DESDE QUANDO É APAIXONADO PELA VIDA E
EDUCAÇÃO? Tive muitas pessoas que – de perto ou de longe, (in)direta, (in)conscientemente – ajudaram a traçar minhas experiências. As pessoas passam/ficam em nossas vidas com e por diferentes motivos e intensidades. Aliás, às vezes percebemos tempos depois, às vezes sequer tivemos oportunidade para dizer a elas em vida quão importante foram para nossa formação, às vezes os rompantes de autossuficiência nos torna lentos para ver nosso entorno. Tenho a sensação de que se tivesse sido colhido dessa vida há poucos anos, não teria externado quão sou grato a muitas pessoas. Mas sei que para outros sujeitos que passaram por minha vida, o tempo foi um árbitro implacável.De todo modo, não conseguiria atribuir a uma pessoa, também porque não quero correr o risco da parcialidade na avaliação, as influências sobre as minhas convicções e escolha profissional, até porque as escolhas, muitas vezes, são feitas a esmo, por circunstâncias aleatórias e dentro de um campo de possibilidade pré-definido. Muitos foram importantes, inclusive aqueles que serviram como antítese do que ser. Aprendemos com todas e, acho, no percurso vivido até o momento considero-me feliz e realizado.
MELHOR
TURMA E FACULDADE ONDE TRABALHOU OU CONVIVEU? Todas as turmas e instituições
que trabalhei foram importantes. Aprendemos com o convívio e, muitas vezes,
temos essa compreensão somente depois anos, décadas.
O QUE LEVA A GOSTAR DA EDUCAÇÃO? Primeiro porque é uma das atividades que acredito que consigo desempenhar com certa competência. É uma profissão, é o ofício que exerço. Quer dizer, nesse nível de resposta refiro-me a uma dimensão pragmática: ser profissional. Segundo, gosto da educação porque entendo que ela pode ser transformadora, sobretudo quando associada a outras condições de vida. Compreendo a educação como condição para a cidadania, embora não suficiente quando tomada isoladamente. Difícil conceber uma sociedade desalienada e livre quando presa a obscurantismos, onde o ser humano não passa de número e cifra subjugado a um jogo de poder. Acredito que a educação pode ser libertadora.
QUAIS SERIAM SEUS PROJETOS SE FOSSE MINISTRO DA EDUCAÇÃO? Essa pergunta é muito importante, pois ajuda a pensar o lugar para o qual estamos preparados para desempenhar determinadas funções. Faço essa menção, pois tenho a impressão que muitas vezes algumas pessoas se acham capazes para fazer e dar sugestões em tudo, em todos os momentos, ocupando funções das e para as quais não tem qualquer noção do ofício.
A vida, e nesse caso as funções e encargos assumidos, não deve ser encarada como uma simples e irresponsável aposta. Essa situação é uma primeira parte da resposta à sua pergunta.
A outra: o Ministério da Educação (MEC) é responsável
por um dos maiores orçamentos da República, cuja atribuição é pensar, propor e definir políticas públicas para a Educação no Brasil, em todos os níveis. Logo, não pode ser assumido por ineptos. Assim, se pudesse me direcionar ao Ministro da Educação, de forma pragmática diria para apoiar a educação pública, sem demagogia, o que significa: política de acesso e permanência às classes menos favorecidas, com cotas sociais, concessão de bolsa de estudo permanência, escola em tempo integral, moradia estudantil; apoio efetivo à pesquisa, como condição para ter um país independente e responsável com todos os segmentos da sociedade.A ciência, que produz a vacina, que em breve minimizará os efeitos da Covid-19, por exemplo, é resultado de uma rede de apoio, de convênios e intercâmbios interinstitucionais, de financiamento público. Sem uma ciência pública, teremos e perpetuaremos a segregação social e depois, demagogicamente, gritaremos pela excludente plataforma da meritocracia! Entendo que não há cidadania, tampouco democracia, quando não se tem acesso adequado às condições básicas de sobrevivência.
COMO É A EXPERIÊNCIA DA FECILCAM/UNESPAR? Estou há 14 anos na Unespar, tempo suficiente para ter vivido momentos importantes do crescimento e transformação da instituição. Exemplifico isso com um evento que pode ser representativo: a mudança de estatuto de faculdade isolada para Universidade. Esse evento, marcado legalmente com o decreto do governo do Paraná em 5 de dezembro de 2013, expressa muito da instituição, e não estou me referindo ao ato fundacional e jurídico, mas nas condições e movimento do seu constituir-se temporalmente: o antes, o durante e o após seu credenciamento como universidade. Isso implica transformações de toda natureza.
Tive
a oportunidade de acompanhar muito desse processo, pois respondia, além das
atividades pedagógicas, por setores responsáveis para pensar políticas de
expansão e consolidação da Instituição. Esses trabalhos envolviam, além do
nosso campus de Campo Mourão, todos os outros seis câmpus que, em 2013, vieram
a compor a Unespar.
Pensamos e sonhamos uma universidade desde há muito tempo e, para isso, planejamos diversas ações, algumas com êxito, outras nem tanto. Em particular, menciono algumas relacionadas a Campo Mourão, e que foram desenvolvidas no campo da pesquisa, com suas repercussões internas e na sociedade regional.
Projetamos, com outros colegas, a criação de revistas científicas ligadas às áreas da educação, do ensino de matemática e das ciências humanas, e hoje temos três periódicos no campus com publicação regular e circulação nacional e internacional.
Em particular, menciono a Revista NUPEM, da qual respondo como editor e que, desde 2009, vêm publicando artigos científicos de forma ininterrupta e desde 2017 é quadrimestral. São onze anos em circulação, 26 números divulgados e mais de 500 artigos publicados (http://revistanupem.unespar.edu.br/). Tenho uma ligação e valorização especial por ela.
QUAL A RELAÇÃO DA UNIVERSIDADE COM OS PROJETOS PARA FORA OU DENTRO DA INSTITUIÇÃO? Trabalhamos fortemente e prospectamos energias e recursos para criação do primeiro Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar, intitulado Sociedade e Desenvolvimento. Assim, em 2013, tivemos o primeiro programa stricto sensu no campus, o que abriu, em grande medida, as portas para pensar a pesquisa com maior corpo e a criação de novos mestrados institucionais. Essas duas ações, escolhidas arbitrariamente, ajudam a expressar parte do ofício que desempenho na Universidade e que, aliás, estão voltadas tanto para dentro como para fora da instituição. Vale o registro: até a atualidade nossa região, composta por 25 municípios, é atendida por Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu ofertados exclusivamente por instituições públicas, a Unespar e a UTFPR.
Até poucos anos,
qualquer pessoa que desejasse fazer mestrado, deveria deslocar-se para outros lugares
do estado. A região de Campo Mourão está, em grande parte atendida, graças ao
papel das universidades públicas. Nessa ação tenho alegria de ter contribuído.
QUAIS SÃO DESAFIOS PARA O FUTURO DA EDUCAÇÃO? Pontuo dois: inclusão social e absorção seletiva e moderada das tecnologias, como meio para promover a universalização da educação. Anísio Teixeira (1936) ajuda a pensar essa questão, quando diz que “só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública”. Acredito nisso.
UAL
PROJETO AINDA GOSTARIA DE REALIZAR? Estou
bem, satisfeito, mas gostaria de no curto prazo fazer pós-doutoramento.
QUAL VIAGEM GOSTARIA DE FAZER? Quero conhecer e, se possível, viver um período na Europa. Acredito que será importante para ampliar as compreensões sobre o ser humano e a sociedade. Viagem, para mim, preferencialmente deve estar associada a uma descoberta de novas situações. Tivemos algumas experiências muito interessantes no Chile, Cuba, Peru, o que aguça ainda mais o desejo de conhecer outros países.
QUAIS VITÓRIAS E CONQUISTAS DESTACA? Concurso público, em 2006, como mencionado e a publicação dos livros “Religião, nomos e eu-topia”, de 2002, e “In Uno Spiritu: bispo e sociedade; Igreja e conflitos sociais” em 2012.
Essas duas obras representam grande parte das energias canalizadas na produção do conhecimento, resultado de muito trabalho na coleta e organização de fontes documentais, contatos e apoios de inúmeras instituições e pessoas, enfim, um exercício intenso de trans e inspiração de anos.
SE
PUDESSE VOLTAR NO TEMPO, O QUÊ JAMAIS TERIA FEITO? Estou bem, não sei se faria
algo diferente, o que não significa dizer que não faço autocrítica, quiçá em
excesso. Talvez teria estudado menos, trabalhado menos, corrido menos; bebido
mais, apostado mais, viajado mais... Mas as escolhas, (in)conscientes
resultaram no que sou/estou hoje. Sabe de uma coisa? Acredito na Providência
Divina!
ESSE CORONAVIRUS, O QUE MUDOU NA VIDA DAS
PESSOAS? Mudou radicalmente: trabalhar de casa, ministrar aulas no modelo remoto, orientar trabalhos de estudantes à distância, aprender a mexer em algumas ferramentas tecnológicas para consecução do ofício, conciliar com o fazer doméstico. Lições? Não consigo avaliar com propriedade, embora temos visto muitas especulações do campo da sociologia, da psicologia, da educação sobre o futuro. A crise sanitária, no Brasil, ocorre concomitante a outras crises oriundas do campo da política, da economia e da credibilidade no papel do Estado como gestor do público, para todos os públicos. Essa mescla de crises, algumas exclusivas do nosso país, são complexas e podem gerar diferentes reações nas pessoas e da sociedade. Que Tomas Morus, autor da “Utopia”, inspire-nos a pensar que um mundo melhor é possível.Nota do Blog: Thomas More (foto acima), filósofo do século XVI que escreveu a obra Utopia, na qual descreve uma sociedade organizada de forma distinta da sociedade em que vivia.
QUAL
SEU ESPORTE PREFERIDO? Futebol, mas também acompanho futsal e voleibol,
esportes mais ágeis e rápidos.
TIME DO CORAÇÃO? Sou tricolor gaúcho, Grêmio de
coração, embora hoje gosto de ver qualquer bom time jogando, até mesmo o rival Internacional, mesmo que seja raro, pois o desempenho colorado não tem sido lá aquelas coisas nos últimos anos (kkk). Futebol europeu é de encher os olhos. Sem ídolos, embora, entre outros, ver Messi, Cristiano Ronaldo e Iniesta jogar é qualquer coisa de épico. No Brasil, antes da pandemia? A força do Bruno Henrique e a habilidade/agilidade do Everton (cebolinha) que são fora de série. Preciso citar alguém do meu time gaúcho que, aliás, estenderia a menção de distinção ao seu técnico se não tivesse algumas posturas fora do campo das quais não compactuo e acho um contratestemunho público.Nota do Blog: na primeira foto abaixo está - último em pé a direita o lateral esquerdo Dirceu Mendes, de Araruna, que saiu para a Mourãoense, Londrina e Grêmio Porto-Alegrense.
QUAL O MELHOR TIME QUE JÁ VIU JOGAR? Tenho dúvidas, inclusive porque posso ser traído pela memória do tempo presente. Barcelona e Real na Espanha; Liverpool e Manchester City na Inglaterra; no Brasil Grêmio em 2017 e Flamengo em 2019 constituem uma representação interessante de futebol bem jogado.
Nota do Blog: na dúvida do homenageado, postamos as fotos dos esquadrões citados.
VAPT-VUPT
FAMÍLIA: Importante, âncora nos mares da vida.
RELIGIÃO?
Católica.
UMA
ESPERANÇA: Tenho esperança de que a sociedade viva menos no tom do
eu-espetáculo, e mais no diapasão da discrição, da solidariedade e cumplicidade
entre os seres humanos.
ÉTICA: É uma ciência! Ciência que estuda o comportamento humano tendo como objeto
pensar e estabelecer princípios para sua felicidade. Pode soar como resposta
protocolar, quase de dicionário, mas é o que é, e cujo papel é mais do que
nunca primaz para o mundo atual: precisamos pensar o que é necessário para
nossa felicidade.
MÚSICA? Sou eclético. Curto música popular brasileira, pagode, forró, sem abrir mão da música tradicional gauchesca. Aqui citaria Os Bertussi, Os Serranos, Baitaca, Porca Veia e para ficar em terras mourãenses e em bom estilo, Grupo Minuano.
AUTOR?
Não tenho um autor favorito, mas cito alguns pensadores brasileiros que
estiveram presentes na minha formação acadêmica e pessoal e formaram gerações: Gilberto
Freire, Antonio Cândido e Darcy Ribeiro.
LIVRO? Vou citar um que apareceu em um momento que
não sabia para onde ia com minha tese doutoral:“Diálogos na sombra” de Kenneth Serbin, publicado pela Companhia das Letras em 2001.
Trata de uma profunda reflexão sobre o regime militar
brasileiro, a partir dos diálogos estabelecidos entre cúpula da hierarquia
católica e representantes da alta patente das Forças Armadas.
COMO FOI SUA ENTRADA NA ACADEMIA MOURÃOENSE DE LETRAS? A AML é um celeiro que se torna mais importante quanto mais próxima e ativa junto à sociedade. Fui comunicado da escolha de meu nome para compor esta distinta casa em 2013, pelas mãos generosas da confreira Dalva Medeiros e dos confrades Jair Elias dos Santos Junior e Gilson Mendes de Góis. Importantes projetos de popularização das letras e artes têm sido desenvolvidos por distintos colegas. Acredito que via AML, nesse mesmo ano, fui indicado para compor o Centro de Letras do Paraná, cuja sede é em Curitiba.
Frank é fundador da cadeira 40 da Academia Mourãoense de Letras, cujo patrono é Bento Munhoz da Rocha Neto.
CITE TRÊS PERSONALIDADES EM CAMPO MOURÃO? Não gosto de responder a esse tipo de pergunta (kkkk), não por constrangimentos e avaliações externas, mas por temer a minha própria incapacidade em fazer uma avaliação adequada. Acredito que Campo Mourão, do presente e do passado, foi agraciado com pessoas de espírito público, audaciosas e alvissareiras. No campo da política, na religião, das letras, da educação temos personalidades à altura de uma cidade auspiciosa.
QUEM É PROFESSOR EXEMPLO? Aquele que desempenha sua função para o qual foi/é designado, sem os tais e frustrantes “mas, porém, todavia, veja bem, contudo, quem sabe”. Cognitivamente tenho dificuldade de entender algumas eternas escusas.
SONHO: Viajar mais, conhecer melhor o Brasil e outros países.
SAUDADES. DE QUEM E DO QUÊ? Tive uma boa convivência com meus avós maternos. A nona, no dialeto italiano, que nos deixou há alguns anos e o nono que nos deixou nessa semana, dia 20/10, aos 94 anos (momento de dor). Saudades de ouví-los interagir comigo, quando nas férias de final de ano eu passava alguns dias com eles e uma “renca” de tios, na linha São Paulo, interior de Francisco Beltrão: “Frank, vêm lavar os pés do nono”; “Quem comeu todo o ‘açúcar amarelo’, Frank?”, “Vamos buscar milho de carroça?”, “Frank, você ajuda a pegar os bois?”, “Você já comeu banana de mico? Sabia que é muito bom, Frank”. Saudades desse tempo vivido no espaço rural.
RECADO AOS LEITORES. A vida é um sopro. Com a
prudência aristotélica sugiro que o leitor possa aproveitar cada momento como se fosse o último de sua vida.QUAL PERGUNTA NÃO FOI FEITA QUE GOSTARIA DE TER RESPONDIDO? Acredito que as perguntas permitiram explorar muitos
elementos sobre a minha trajetória profissional e pessoal. Agradecido pela
oportunidade.
O MOMENTO ATUAL DA SUA VIDA: Estou bem, em paz, embora incomodado e afetado pelas crises que vivemos, seja a sanitária, seja a polaridade nefasta que grassa, não somente o país, como as relações interpessoais.
COMO ACHA QUE OS OUTROS TE VEEM? Difícil precisar e fazer uma avaliação suficientemente completa. Aliás, as pessoas nos veem em diferentes ambientes e papéis sociais. Como pai, como professor, como membro da Academia Mourãoense de Letras, como cidadão democrata, que se posiciona frente a uma sociedade polarizada... Acho que desses/nesses lugares as pessoas podem ter diferentes apreensões sobre nós, o que atesta o que comentei acima sobre a essência irreal da identidade pessoal. Bom, vou responder como acho que me veem no trabalho, na convicção de ser uma resposta parcial: apostaria que me veem como exigente e justo, na conotação tradicional cristã; dedicado com a consecução dos projetos assumidos e cúmplice com a formação humana.
LEGADOS QUE GOSTARIA DE DEIXAR: Da defesa da democracia como cláusula pétrea; direito à liberdade de expressão com responsabilidade social (o que significa, em poucas palavras, aversão a imbecilização dos usos das redes sociais); de que um mundo melhor, seja ele qual for, é também de responsabilidade pessoal, é intransferível e indelegável, isto é, temos, todos, que responder pela parte que nos foi confiado.
CONVITE PARA ESTA HOMENAGEM NA ENTREVISTA DE DOMINGO? Oportunidade de rever memórias de um passado recente e distante. Escrever, apagar e reescrever algumas passagens que pudessem atender as perguntas, sem faltar com uma representação da verdade, mas sem deixar muito feio, estranho, esquisito para os leitores (kkk). Obrigado pelo convite, Ilivaldo Duarte.
Nota do Blog: no sábado, 17 de outubro, Frank Mezzomo participou com a professora Diva Pinguelli do programa 1.365 Tocando de Primeira na Rádio Colméia FM apresentado pelo jornalista Ilivaldo Duarte. O tema em pauta foi o Dia do Professor.
Excelente entrevista com o professor Frank.
ResponderExcluirConheço a trajetória dele na Unespar desde o dia em que o encontrei conversando na sala do RH do campus acertando os detalhes de sua admissão e depois na condição de colega de trabalho e colega de duas gestões administrativas.
Profissional de primeira, metódico, rígido, sonhador, comprometido e companheiro.
A entrevista me proporcionou o lado não acadêmico que eu não conhecia.
Parabéns pela bela entevista, amigo Frank Mezzomo! Sua trajetória é brilhante!
ResponderExcluirMuito honrada em partcipar de alguns momentos dela e por conhecer seu responsável trabalho na Fecilcam/Unespar.
Parabéns Ilivaldo pela oportunidade a nós leitores, oferecida por meio das suas entevistas, porque por meio delas podemos conhecer melhor a trajetória de vida de várias personalidades.
ResponderExcluirEu tive o prazer em cursar uma disciplina no mestrado com o professor Frank.Excelente professor, de uma competência e carinho com a profissão que cativa todos a sua volta. Parabéns pela entrevista,linda história.
ResponderExcluir