“Ser alfaiate é realizar
pedaços de tecidos em molduras, em molduras em elegância.” Autor desconhecido
Ao escrever o melhor tecido, o duplo sentido é
proposital. Tecido é o pano fabricado pelo tear, tecer é o
estofo. O melhor tecido é certo no sentido de compor um texto, tecer
comentário.
A ambiguidade – o melhor tecido - é pano de qualidade
a compor a roupa. Tudo sob medida é a essência de uma das profissões mais
antigas, a do alfaiate. Estefano Domanski a vida inteira soube o que era
tecido, ao tecer soube fazer a melhor roupa. Foi a profissão dele marcada pelo
zelo, o esmero na cor, no corte, na textura do tecido. Tirava as medidas com
precisão, sabia do riscado, literalmente ao marcar com giz na linha para
passar a tesoura, e o alinhavar, tudo realizado com plena satisfação: A roupa
sob medida ser a medida bem medida, certo, no caimento, na elegância.
Enquanto tirava, anotava, verificava medidas, a prosa dele
era cativante, sincera, de bom humor. Paranaense de Rio Claro do Sul se tornou
mourãoense a partir de 1950, não por passar a morar e trabalhar aqui, tornou-se
pioneiro, testemunhou, contemplou e ajudou nos primeiros passos desta terra
marcada pela poeira ou barro vermelhos, solo fértil. O alfaiate era também o comerciante
das roupas feitas, camisaria, vestidos finos, elegantes ternos, saias. E seu
Estefano tinha a companheira de todas as horas, do labor edificante e
incansável, da mulher amada, dona Assumpta sempre foi para ele a aliança de
toda uma vida, do feliz matrimônio os filhos, que tão bem receberam dos pais o
legado da simplicidade, da honestidade, do amor ao próximo. E, mesmo (ou) se
estabelecendo noutros lugares, Marcos, Floriza, Eloína e Agda não se
desprenderam de Campo Mourão, chão dos primeiros e seguros passos, Campo
Mourão como sinônimo da Família Domanski.
O “Magazine Santo Antônio” foi e é fruto do trabalho
contínuo e exemplar do Estefano e Assumpta. O começo foi modesto, instalações
pequenas, simples, mas tudo em ordem. As gerações de hoje e as que virão, ao
conhecerem a história podem até não crer que, um dia, a rua era chão batido,
casas residenciais ou comerciais de madeira, o rústico era realidade e a
modernidade, sonho. A Rua São Paulo de hoje, pulsa o progresso da cidade e da
então Alfaiataria Santo Antônio.
Há cerca de um ano eu estive na loja para comprar camisas.
Estava a dona Assumpta, “o Estefano não está?”, referindo-se a ele (tinha ido à
propriedade rural). Gentil e atenciosa, ela se lembrava dos meus saudosos pais,
“você nem era nascido quando conheci dona Elza e seu Eloy”. Eis o legado, a
amizade. Estefano sempre foi a boa medida, a medida certa da lisura, da
personalidade singular, vivida, da honradez com os filhos e nos negócios.
Inesquecível foram as vezes que sorria, sempre quando tudo estava certo. O
chimarrão e a prosa, tudo com ele era o terno: da ternura que agora Estefano
passa a ser eterno na lembrança da viúva, filhos, noras, genros, netos e dos
amigos. Dia 19, aos 93 anos.
Fases de Fazer Frases
Despedir-se, partir despido do encontro.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Pedir o voto é da democracia. Vender, comprar o
voto é mercancia.
Reminiscências em Preto e Branco (I)
Em qualquer parte do mundo balões coloridos simbolizam
celebração, não importa a cultura, idioma, o sentido é o mesmo. Para as
crianças então, o colorido deles reflete a imensa alegria retratada no rosto
delas, como se o mundo tudo coubesse todo no balão. E é o mundo delas! Nas
praças São José e Presidente Vargas ele compunha o cenário
mourãoense no centro da cidade. Chegava cedo, logo o gás dava forma, vida aos
balões. Começava a algazarra feliz das crianças. Osmar de Oliveira, 58 anos,
virou balão, cheio de uma experiência de vida fabulosa, subiu para o céu azul,
misturou-se as nuvens sobre olhares agora tristes daquela meninada a indagar:
“Cadê o tio da bexiga?”. Ao deixar os filhos Jéssica, Larissa e Vitor, passou a
ser saudade, 24 de agosto.
Reminiscências em Preto e Branco (II)
Um dos últimos trabalhos foi como ator em um seriado
televisivo global. É lembrado pelo grande público pelo programa Comando
da Madrugada. Aos 83 anos, dia 23 o apresentador, jornalista do texto
improvisado ou bem redigido, das salas de trabalho da tevê, rádio, do impresso,
se vestia de gente humilde para “disfarçar” o jornalista e, assim, poder falar
à vontade com os entrevistados. E, quando se despia da humildade, o
coração generoso sintetizava a compreensão, imagem e a solidariedade de gente
humilde. O talento de Goulard Andrade já faz falta. José Eugênio Maciel, mourãoense, professor, sociólogo, membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná.
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