30 de nov. de 2015

COLUNA DO PROFESSOR JOSÉ EUGÊNIO MACIEL: Gringo, o fim da partida; Amani, o grito que não silenciará

Ai de quem ama/ Quanta tristeza/ Há nesta vida/
Só incerteza/ Só despedida/ Amar é triste/ O que é que existe?/ O amor/Ama. canta/
Sofre tanta/ Tanta saudade/ Do seu carinho/ Quanta saudade/ Amar sozinho/ Ai de quem ama/ Vive dizendo/Adeus, adeus. Vinicius de Moraes.  
GRINGO, O FIM DA PARTIDA
É como se ele saísse da quadra, do campo. Foi para o vestiário De lá rumou numa nuvem que veio buscá-lo. Noutras vezes o céu mandou trazê-lo, mas o deixaram ficar “mais um pouco”. Foi ficando, certamente para o bem, próprio, da família, colegas de profissão e muitos amigos que lotariam qualquer grande praça esportiva.
O coração acelerado dava vazão às intensas emoções que ele era capaz de vivenciar, transmitir, receber. Com a família ou no trabalho foi um homem centrado, e assim foi, ao atender prontamente um atleta em Francisco Beltrão, nos Jogos Abertos do Paraná, o coração para de bater.  
É o coração de tanta gente a pulsar de tristeza, de ter que continuar sem a alegria dele. 
O público, torcedores de todas as cores levantam, sentam, se olham, indagam, onde ele está? Aplaudem, gritam o nome dele, agitam bandeiras. O ovacionar cede para silêncio gélido, profundo.  
Como o jogo, a competição, de um modo ou de outra maneira, tem que prosseguir, a delegação de Campo Mourão resolveu continuar nos Jogos para oferecer-lhe tal preito.
Sem deixar o sotaque latino, castelhano do Uruguai (nascido em Montevidéu), por aqui chegou nestas plagas, se abrasileirou, virou mourãoense,  Nestor Fernandez Carrera, o Gringo, 62 anos, morreu domingo passado, dia 22.  
AMANI, O GRITO QUE NÃO SILENCIARÁ
Agosto, 29, em Peabiru, ao encerrar a solenidade da posse dos novos integrantes da AML – Academia Mourãoense de Letras, entre o auditório da Casa da Cultura e o da Biblioteca Municipal, Amani Spachinski e eu iniciamos um diálogo que, hábito arraigado, para mim sempre foi fonte de grande aprendizado. Na conversa falava dele para ele, fatos que justificavam a minha admiração e respeito pelo sacerdócio dele (o significado não se restringe ao sacral), de ser esmerado na condução de esposo, pai, avô e nos afazeres idealistas, comprometimento com a cultura e educação tão bem expressos nos textos da prosa e nos versos poéticos, nas palestras, na motivação humana em todos os sentidos. Ele atentamente ouvia, sorria, brilhavam os olhos, que marejados ficaram. Pausadamente Amani dissera o que reiterava com enorme convicção e orgulho, que era um homem feliz, a começar pela família que tinha, suas origens e o quanto ela foi a base mais sólida, nela incluindo os amigos que tinha, e os amigos da sua família eram os deles também.    
Não lhe fazia favor algum e, mais até do que elogio merecido ao ser humano extraordinário que foi, era meu latente que, aliás, me fazia tão bem ao enaltecer o venerado amigo.
Ao produzir este texto, em meio ao vórtice da surpreendente despedida, coube-me a delicada missão de falar em nome da Academia Mourãoense de Letras. Tive que conter emoção e lágrimas para poder falar, homenageá-lo. Ao olhar o corpo sem vida, divisar a querida esposa dele, a professora Rita, o filho e familiares, é como se todos chorassem por mim, junto com os  acadêmicos que ali compareciam. Enfatizei no velório que Amani levava com ele o muito de nós, e nós a reter o bem bom que nos tornamos provenientes do Amani. Vai o amigo a deixar mais que saudade da ausência insubstituível, ficam as mais robustas rememorações que serão sempre grandiosos motivos de evocação à magnitude que sempre foi e a continuar pela história biográfica, tê-lo como amigo foi sempre o privilégio.
O famoso grito dele sempre que existia uma reunião, ecoa agora, ele finalizava: “eu amo vocês!” Nós também! Ele passou a ser saudade no dia 25, aos 63 anos.         
Fases de Fazer Frases
O desalinho não acaba ao trajar roupa de linho. 
Olhos, Vistos do Cotidiano
Antes de tudo é o nada?
Reminiscências em Preto e Branco
O esquecimento da dor a diminui, remediada pelo tempo. 
José Eugênio Maciel escreve aos domingos no jornal Tribuna do Interior e sua coluna é postada neste BLOG. Maciel é mourãoense, professor, sociólogo, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras e do Centro de Letras do Paraná. 

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