“Na verdade, somei
mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível
seria ter ficado do lado dos que venceram nessas batalhas.”Darcy Ribeiro
O Brasil derrotou a ditadura militar sem tornar a
democracia efetivamente vitoriosa. Hoje, 15 de março, faz 30 anos que a
liberdade passou a ser luz no lugar da escuridão. Ao invés dos fardados saídos
dos quarteis para presidirem o País sem o voto, hoje a escolha é direta e do povo.
Além dos dizeres postos abaixo do título desta Coluna, o intelectual e político
Darcy Ribeiro sobre o Brasil, grosso modo se referia, “aos trancos e barrancos”.
A democracia brasileira tem cursos histórico-atuais
claudicantes. Porém, com defeitos a ela
atribuídos, sempre será preferível ante a ditadura. São três décadas de “trancos e barrancos”, contradições,
percalços, desafios. Um dos maiores movimentos sociais e políticos da nossa
História atual foi a campanha “Diretas-Já!”. Os brasileiros foram às ruas e
praças, multidões com o mesmo desejo, escolher diretamente o presidente do
Brasil, livremente. A Emenda Dante de
Oliveira foi derrotada. Depois, foi preciso derrotar os golpistas dentro do
“campo” deles, o colégio eleitoral. Tancredo Neves é eleito e se compromete com
a democracia que acabara de nascer, “O próximo será escolhido por toda a nação!”
“Águas de março” desembocam turvas em abril, morre
Tancredo sem tomar posse, após longo calvário da enfermidade. Assume Sarney,
ele que abandonara o barco da ditadura náufraga para pular no de Tancredo.
Restabelecidas as eleições diretas para presidente, é
eleito Fernando Collor de Melo. Ele não termina o mandato, antes de ser cassado
por corrupção, renuncia. O vice assume e consegue conclui o mandato, Itamar
Franco debelou a inflação e estabilizou a economia.
Esta
síntese dos fatos permite dizer que “aos trancos e barrancos” se deu o processo
político-eleitoral. Quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito e reeleito
presidente, é que foi possível ampliar a democracia. E foi ela ampliada quando
o próprio FHC conclui o mandado e passa a faixa presidencial ao seu sucessor também
legitimamente escolhido pelo povo, Luís Inácio Lula da Silva.
Mas chamada
normalidade democrática não é só eleições. É imprescindível que os eleitos
honrem o voto, desenvolvam ações públicas que resultem no bem comum. Mesmo com
tantos casos de corrupção, desmandos e impunidades, não devemos descrer na
democracia, ela deve pressupor “todos são iguais perante a lei”, assim como a justiça
social, ainda um sonho e não utopia. A democracia como ideal coletivo, pois
ninguém sozinho e isolado deve governar. Democracia, “aos trancos e barrancos”
se não tiver outro modo.
Foi
também num dia 15, (só que em janeiro) de 1985, Tancredo discursa no Congresso
Nacional, o trecho a seguir é atual e fecundo: “Não há por que negar que houve
muitos momentos de desalento e cansaço, em que cada um de nós se indagava se
valia a pena a luta. Mas, cada vez que essa tentação nos assaltava, a visão
emocionante do povo, resistindo e esperando, recriava em todos nós energias que
supúnhamos extintas e recomeçávamos, no dia seguinte, como se nada houvesse
sido perdido”.
Fases
de Fazer Frases
Vontade de comer não é
determinada pela dentadura.
Olhos,
Vistos do Cotidiano
Imbecil
arranca folhas da árvore, usava boné para evitar o sol, sem sentir a sombra arrancada.
Reminiscências
em Preto e Branco
Nada
é para sempre e para sempre não é nada.
José Eugênio Maciel, mourãoense, filho de pioneiros, professor, sociólogo, advogado, escritor e membro da Academia de Letras de Campo Mourão e do Centro de Letras do Paraná.
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