28 de jul. de 2014

COLUNA DO MACIEL: Professor Roque, o último traço

Temos a arte para não morrer de verdade” Friedrich Nietzsche
A sensação é a de estar diante de uma folha em branco, papel a espera de uma imagem que  retrate o que foi a sua vida. Os traços nem bem imaginados fogem ao controle e reaparecem, se interligam, riscos de todos os sentidos. A vida é arte. Arte é traços que nos traçam ou que traçamos.
Você soube estabelecer dois traços, a paixão nata artística com o refinamento da formação acadêmica em belas artes. Tornou-se professor dotado de uma peculiar comunicação com os seus estudantes, mesclando a linguagem com a postura metódica de ensinar.
O professor Roque Leite de Medeiros Filho tinha como uma das suas características a notável alegria. Reunia amigos com a peculiar e talentosa arte humanística. Cores, riscos, esculturas, desenhos, estimulava, apontava o caminho da criação e soltava o pincel, o lápis para que tais instrumentos comandassem toda a imaginação.
Dia 23 passado, aos 54 anos, um traço interrompeu tudo,  com ponto final. Além da família, colegas de profissão e os estudantes, você traçou o entrelaçamento humano, um grande número de admiradores do professor, da pessoa. Éramos amigos dos tempos de juventude, quando tínhamos sonhos para “concertar” o mundo, e descobrimos que apenas poderíamos torná-lo menos carregado, com arte, traçada como a vida que perpassa o real e se faz imaginação sonhadora.
Um dos seus gostos prediletos era a música e é com ela que me despeço, Aquarela,composta por Toquinho e Vinícius de Moraes (1999), transcrevendo trechos como reminiscências do vosso legado:  
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte e Sul

(…) 
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo
e se a gente quiser ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha e caminhando chega no muro
e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar

(…) 
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim Descolorirá.
Fases de Fazer Frases

Não se desespera quem espera sem exasperar. 
Olhos, Vistos do Cotidiano
Se cresce o número de carros em circulação, aumenta também em Campo Mourão o número de sucatas “estacionadas”, como se ruas fossem depósitos de ferros velhos. A população registra com fotos, retratos imóveis do abandono de automóveis.   
Reminiscências em Preto e Branco
É, parece que não devemos ficar a espera do que nos espera.
José Eugênio Maciel, mourãoense, filho de pioneiros, sociólogo, professor, membro da Academia de Letras de Campo Mourão e do Centro de Letras do Paraná.

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