Nós não podemos nos esquecer dos mortos, porque são eles que vivem verdadeiramente. Fazemos memória dos mortos, porque com eles estabelecemos uma comunhão única, somente possível pelo mistério da Graça e só vivencial no amor que Deus nos tem, porque Ele é Deus dos vivos e dos mortos.
A celebração da Santa Missa pelos defuntos não é moda de agora. (Infeliz) Moda de agora é ignorar o valor da Santa Missa pelos defuntos. Tal desconhecimento deve-se à vontade de ignorar o acontecimento sempre trágico e traumático que é a morte. Perante ela nasce mais depressa a revolta (— Porque é que Deus não fez nada?) e a incompreensão (— Se alguém devia morrer não era ele!), que a serenidade e a esperança no Senhor.
É fé da Igreja que a Missa se oferece pelo perdão dos pecados (e outras necessidades) dos fiéis vivos, mas também pelos defuntos.
A memória dos defuntos é hoje um dos centros psicológicos da Missa, e é consensual e até necessário mencionar publicamente os seus nomes. Na verdade, a morte possibilita que nos abramos completamente Àquele que nos fez viver na terra; e tanto assim que, quer os vivos quer os mortos, comungam o mesmo mistério da Graça: a incorporação em Cristo, no Corpo Místico de Cristo! É por isso que, vivos e mortos, verdadeiramente nos encontramos na Eucaristia....
A fé cristã exprime-se na comunhão do cristão com Deus, na comunhão dos crentes entre si e também na comunhão dos vivos com os mortos. Entre os fiéis vivos e os fiéis defuntos existe uma solidariedade de que ambos beneficiam.
A comunhão com Deus — como Deus dos vivos! — é tanto mais expressiva quanto mais os mortos significam para nós, através da comunhão dos santos que professamos quando rezamos o Credo.
Por sua vez, quando rezamos: “Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno entre os esplendores da luz perpétua; que descansem em paz. Amém”, estamos a rezar aquela mesma palavra de amor, que os nossos irmãos mortos pronunciam sobre nós desde a plenitude de Deus, e que é: “Depois das lutas da vida, dai, Senhor, a estes irmãos [isto é, a nós que ainda vivemos na Terra] a quem, como nunca, amamos no Vosso amor, o descanso eterno e que a Vossa luz igualmente brilhe sobre eles”.
Celebremos, pois, a Eucaristia, com a certeza de que nela se reatualiza a Nova Aliança. De que por ela nos aproximamos confiadamente de Deus, de que nela fundamentamos a nossa existência, lhe conferimos densidade e renovamos a comunhão com Deus e os irmãos, isto é, retomamos o projeto inicial de amor no qual Deus nos criou.
Fonte: Canção Nova.
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