18 de mai. de 2011

BOAS MANEIRAS & COMPORTAMENTO com Lucilene de Araújo



Tenho abordado aspectos das relações sociais que, mais do que regras de etiquetas, são oportunidades de interagirmos de forma mais saudável com os demais. Isso por si só já é uma promoção a saúde mental, contudo este tema é muito mais profundo e normalmente não recebe a nossa atenção da forma como merece.

Outro dia lendo o jornal folha de São Paulo a matéria escrita por Marion Minerbo, chamou-me a atenção a reflexão que faz sobre o tema quando fala do massacre do Realengo. Após entrar em contato, pedi a autorização para que o mesmo fosse transcrito a coluna que escrevo, o recebi como resposta a autorização.


Precisamos cuidar deles, por Marion Minerbo para a Folha de São Paulo.
Logo depois do massacre do Realengo falou-se em aumentar a segurança nas escolas e em limitar a venda de armas para evitar novas tragédias. Curiosamente, não li nada sobre a necessidade de ampliar a rede de atendimento em saúde mental.
A doença mental é determinada por vários fatores. Para a Psicanálise, um ambiente familiar altamente disfuncional secreta uma carga intensa de violência emocional. Embora possa ser invisível a olho nu, o bullying começa em casa. E quanto mais sutil, mais destrutivo. Tal como a radiação que vaza de usinas nucleares, a carga tóxica afeta a autoestima da criança para sempre. O bullying ostensivo na escola já é conseqüência disto.
Para sobreviver num ambiente enlouquecedor, o psiquismo mobiliza defesas que se manifestam como sintomas. Estes podem e devem ser controlados com medicação. Mas o tratamento da doença mental exige um ambiente que seja, em si mesmo, terapêutico. Se as dificuldades emocionais surgem nas relações com as pessoas, é nas relações com pessoas que podem ser tratadas.
Essa é a proposta do Centro de Atenção Psicossocial. O CAPS oferece aos usuários um espaço de convivência protegido e oficinas terapêuticas, além de medicação e psicoterapia. Ali, partilham seu cotidiano com outros pacientes, oficineiros e uma equipe de jovens psicólogos capacitados a ajudá-los a entender e a dar sentido a seu sofrimento. O tratamento acontece de forma espontânea em meio às atividades, pois o cotidiano é organizado para oferecer tempo, espaço e meios para a expressão dos conflitos.
A humilhação, que é a pior das dores, precisa encontrar um espaço de acolhimento. Isso é fundamental, porque não dá para viver sem um mínimo de amor próprio. Muitas vezes a pessoa só vê duas saídas: suicídio ou homicídio.
A dor psíquica envergonha e cala as pessoas, que se escondem do mundo. Por isso, pode ser invisível para o leigo. Mas ela é evidente para o profissional da saúde mental que convive diariamente com os pacientes. Isso lhe permite detectar e indicar internação nos momentos em que há risco de vida para si ou para outros.
Se estivesse em tratamento numa comunidade terapêutica, Wellington poderia ter encontrado outra saída para o impasse em que se encontrava. Em vez disso caiu na rede de comunidades virtuais, que pôs lenha na fogueira.
Não adianta tapar o sol com a peneira: o massacre do Realengo é sintoma da precariedade de nossa rede de atendimento em saúde mental. Ela tem de estar muito mais presente, visível e acessível. Precisamos cuidar dos Wellingtons que estão por aí, antes que seja tarde.

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